Presença de destaque desde que foi incluído na Fenadoce o Pavilhão da Agricultura Familiar tem atraído grande público já nos dois primeiros dias de evento. Os corredores, com 70 estandes e 80 empreendimentos de 38 municípios, estão constantemente repletos de visitantes. Neste ano, o espaço conta com novidades como os produtos à base de leite de ovelha e o retorno das tradicionais passas de pêssego.
Ao lado da Cidade do Doce, o Pavilhão da Agricultura Familiar exala o aroma de embutidos, como salame, e queijos. Há uma variedade de produtos provenientes de propriedades rurais e agroindústrias, levados especialmente para a Fenadoce. São compotas, doces de leite, pães, bolachas, vinhos, cachaças, erva mate, geleias, entre outros alimentos. Boa parte dos empreendimentos já participam da Fenadoce há várias edições.
Lácteos de Ovelha
Mas nesta edição da feira, duas agroindústrias estreantes são responsáveis por trazer produtos únicos para o Pavilhão da Agricultura Familiar. A La Beca, agroindústria de Pelotas, comercializa produtos lácteos, como queijos, doce de leite e iogurte à base do leite de ovelha. Legalizada recentemente, em abril, o empreendimento é o primeiro da região a produzir a iguaria exclusiva.
“Então todos os produtos são diferentes para o público. Temos o doce de leite de ovelha e o queijo em conserva com azeite e temperos e a partir do fim de semana vamos ter iogurte e outros queijos também. Tudo 100% a base do leite de ovelha”, diz a responsável pela La Beca, Camila Pizone. Ao retornar a morar no interior, a veterinária viu na criação de ovelhas a chance de criar um produto único e garantir uma nova fonte de renda.
“Tinha conhecido a casa da ovelha em Bento [Gonçalves] e de certa forma foi uma inspiração. Eu acho que Pelotas tem um potencial para coisas diferentes, o público gosta e eu queria fazer uma coisa que ninguém estava fazendo ainda”, relata. De acordo com Camila, os produtos à base de leite de ovelha se destacam pelo sabor mais suave e pela textura cremosa. “Às vezes as pessoas acham que pode ter um gosto muito pronunciado de ovelha e pelo contrário, ele é mais fraco em comparação ao leite de vaca”.
Outro diferencial do consumo do leite de ovelha, segundo a veterinária, é a fácil digestão do alimento em comparação ao leite de vaca. “A gente consegue digerir melhor o leite de ovelha porque ele é naturalmente A2A2 (molécula de caseína), que não causa intolerância à proteína do leite, então é mais uma vantagem. É um alimento mais leve”.
Em dois dias de Fenadoce, a quantidade de pessoas que chega no estande da La Beca para provar os produtos comprova o sucesso da proposta. “Tem bastante gente curiosa, vindo perguntar e experimentar os produtos”.
Passas de pêssego
Enquanto a La Beca traz um produto novo para a região, em outro estande a novidade fica por conta do resgate de um doce histórico: as passas de pêssego. Pela primeira vez, a agroindústria Doces Vô Jordão participa da Fenadoce. O empreendimento foi regularizado recentemente para voltar a comercializar uma iguaria produzida na família há mais de 60 anos.
“É uma tradição, o meu sogro vivia disso e na época [década de 60] mais de 20 famílias da nossa localidade tinham a renda vinda da fabricação da passa”, diz a proprietária da agroindústria, Cibele Pizoni. Hoje em dia, a produção das passas de pêssego corre o risco de se tornar uma receita esquecida. Isso se deve à complexidade do processo de fabricação, que era transmitido nas famílias, mas que as gerações mais recentes deixaram de praticar.
“Porque a passa é um doce que precisa ser desidratado e era ao sol, com o tempo isso ficou inviável, até por questões sanitárias”. Com a criação de uma máquina desidratadora pela Emater, o processo natural pode ser substituído e a família de Cibele voltou a produzir as passas de pêssego. “E estamos aqui, reapresentando ao público. O nosso doce é feito em tacho de cobre e fogo a lenha, é um diferencial para o gosto e a coloração do doce”.
As passas de pêssego estão incluídas na tradição doceira de Pelotas tombada pelo Iphan como patrimônio imaterial da cidade. Na Fenadoce, os visitantes têm a oportunidade de apreciar uma especialidade única e um bem cultural. “É uma tradição da família e de Pelotas, é um patrimônio do país e é um orgulho que nós somos os detentores do saber fazer da passa de pêssego”, diz a doceira.
A feira rural dentro da Fenadoce
Conforme o técnico regional da Emater, Renato Cougo, a inclusão do Pavilhão da Agricultura Familiar na Fenadoce é uma forma de aproximar o público de produtos únicos originados no campo e que muitas vezes não estão disponíveis na área urbana. Além disso, com a participação em feiras e a legalização das agroindústrias, os produtores rurais agora têm alternativas para gerar renda e continuar a produção de alimentos que, muitas vezes, são tradições familiares.
“A nossa expectativa passa por essa reunião, vamos dizer assim, entre o público urbano e o meio rural. O reconhecimento do saber fazer desses agricultores, e também é uma oportunidade das pessoas virem conversar com o agricultor e ver como os produtos são feitos. É uma conexão com o consumidor final”.
Participando pela décima vez da Fenadoce, a produtora rural de Jóia, cidade do noroeste do Estado, Marleise Valsoler, reconhece a mesma integração entre o público e os expositores citada pelo técnico da Emater. “O povo de Pelotas em geral é muito acolhedor, então a gente se sente bem de estar na Fenadoce. Várias pessoas que consumiram nos outros anos voltaram e espalharam que o nosso queijo é bom”.
Com uma linha de mais de dez queijos autorais maturados, alguns com mais de dois anos de cura, a produtora ressalta que, assim como sua agroindústria, muitos outros empreendimentos têm investido na feira, o que tem tornado o pavilhão mais lotado a cada ano.