Desde o início da campanha de vacinação contra a influenza, em abril, Pelotas não atingiu a imunização de metade do público prioritário (idosos, crianças e gestantes). Segundo a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), até a segunda semana de julho, apenas 43,9% deste público foi vacinado. A baixa procura preocupa, uma vez que pode ampliar a sobrecarga de atendimento a usuários do Serviço Único de Saúde (SUS) no município.
Ainda assim, a cobertura vacinal contra a gripe está maior neste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado em Pelotas. De acordo com os dados do Ministério da Saúde, até o momento, 95.368 doses foram aplicadas, somando todos os grupos aptos a serem imunizados. Em 2024, eram cerca de 70 mil pessoas vacinadas.
As doses estão disponíveis nas 50 unidades básicas de saúde (UBSs) de Pelotas e na Casa da Vacina. A meta de cobertura vacinal para grupos prioritários é de 90% e a baixa imunização preocupa pois, conforme levantamento interno da SMS, é o público que mais procura os serviços no Pronto Socorro e UPA com sintomas de síndromes respiratórias agudas graves (SRAG).
Rio Grande
Na cidade vizinha, o cenário é diferente: 52,17% dos idosos, gestantes e crianças receberam a dose contra a influenza neste ano. No total, são 62.450 doses aplicadas, representando uma cobertura de 32,54% da população apta a ser vacinada.
Ainda assim, 24 pessoas já morreram em Rio Grande por SRAG em 2025, sendo cinco apenas na última semana. Segundo a Secretaria da Saúde do município, 19 dos óbitos ocorreram nos hospitais e cinco em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). A maior parcela é de idosos com 60 anos ou mais.
A SRAG abrange casos de Síndrome Gripal (SG) que evoluem com comprometimento da função respiratória e suas causas podem ser influenza, covid-19, entre outros vírus respiratórios.
Queda na vacinação infantil
De acordo com um levantamento feito pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil voltou para a lista de países com mais crianças não imunizadas no mundo.
O país tinha deixado esta lista em 2023, mas voltou a ocupar a 17ª posição no ranking. O cenário nacional era de 103 mil crianças não vacinadas naquele ano, e passou para 229 mil no ano passado. Além disso, nenhuma das 17 vacinas monitoradas alcançou uma cobertura de 90% ou mais no Brasil em 2024.
A recusa a se imunizar e vacinar crianças sob suas responsabilidades é um dos pontos mais preocupantes nestes dados, que podem estar ligados a diversos fatores sociais e emocionais. A psicóloga clínica e de saúde, Mariana Aires, relaciona principalmente com um fator comportamental de pertencimento. “Nestas situações, há um viés de confirmação, de buscar informações que apenas confirmem o que acredita, a influência de redes sociais, identificação com grupos que negam a vacinação e crenças que podem reforçar esse posicionamento”, diz.
Além disso, a negação da vacina pode estar relacionada, em certos casos, a uma espécie de mecanismo de defesa. “Diante de um cenário que causa medo, como foi a pandemia, por exemplo, muitas pessoas preferem negar a gravidade da situação, como forma de manter o controle. Também pode estar relacionado com as formas que percebem os riscos, lidam com o medo e como se posicionam frente à autoridades e normas coletivas”, explica a psicóloga.