Escolas de educação do campo são alternativas para evasão da zona rural

Entrevista

Escolas de educação do campo são alternativas para evasão da zona rural

Censo 2022 do IBGE apontou diminuição população da região Sul, principalmente no campo

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Escolas de educação do campo são alternativas para evasão da zona rural
Censo de 2022 registrou queda no número de habitantes da região.

Em entrevista ao programa Debate Regional da Rádio Pelotense nesta semana, a chefe da agência do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de Pelotas, Tatiane Gautério, falou sobre a diminuição populacional da Zona Sul do Estado, na comparação pelo Censo 2010 e o de 2022. Entre os fatores, ela elenca a queda de nascimentos e a migração do campo para a área urbana como determinantes para a ocorrência desse fenômeno.

Diferente das demais regiões gaúchas, a Sul registrou queda de 2,27% no número de habitantes. No Censo 2010 eram 846.626 habitantes, já o Censo 2020 apontou 827.962, uma queda de 18.664 moradores. Dos 32 municípios que compõem a Zona Sul, 26 tiveram queda populacional, de acordo com o levantamento do IBGE.

De acordo com Tatiane, a tendência nacional de que as mulheres tenham cada vez menos filhos é seguida na região. Isso se deve, principalmente, à melhora na saúde da mulher e a possibilidade dela escolher ter menos filhos, dadas as condições econômicas e mudanças na dinâmica familiar. Em Pelotas, as famílias estão diminuindo, com média de 2,8 pessoas por domicílio.

Com relação à evasão da zona rural, a chefe da agência do IBGE em Pelotas afirma que essa condição afeta muito mais os jovens em idade acadêmica e no início de suas vidas adultas. “Os filhos de agricultores não estão ficando no campo e isso faz com que a população nessas cidades mais rurais vá diminuindo”, disse.

Alternativa

Em Canguçu, cidade da região com 70% da população moradora da zona rural, uma das preocupações é a evasão de jovens para os centros urbanos e o consequente envelhecimento populacional, com sérios riscos para a queda de produção e qualidade. Também vem deste município uma alternativa para melhorar os índices de permanência no campo.

Formada a partir das discussões do Fórum da Agricultura Familiar da Região Sul em 2013, a Escola Família Agrícola (Efasul) oferta ensino médio integrado ao curso técnico em Agroecologia. Desde então, 70 profissionais foram formados e seguem contribuindo para o desenvolvimento e qualificação do setor.

Atuando com a chamada “pedagogia da alternância”, a escola seleciona os estudantes, de toda a região Sul, a partir do seu vínculo com o meio rural. A partir da permanência dos alunos uma semana no educandário e outra aplicando os conhecimentos em casa, a escola busca os incentivar a continuar auxiliando a agricultura familiar, base da maior parte dos estudantes.

Evasão menor nas Efa’s

A diretora da Efasul, Carla Rosane, destaca que a escola também enfrenta os problemas de evasão, mas defende que pelo trabalho de acolhimento e a proximidade dos conteúdos com a realidade, o índice de alunos que deixam de estudar ou vão para os centros urbanos é menor. “O nosso contexto propicia que o jovem permaneça estudando por ter um deslocamento facilitado, já que passam uma semana em cada espaço, e o vínculo que conseguimos estabelecer faz com que ele se identifique com a escola”, diz.

Carla também menciona que, durante o ensino fundamental, os estudantes do campo tem mais possibilidades de estudarem perto de casa. No entanto, a maioria das escolas de ensino médio são nos centros urbanos, o que pode levar o jovem a parar de estudar ou precisar mudar-se para evitar maiores gastos com deslocamento, além de ser inserido em uma realidade diferente da que estava acostumado. “A educação convencional é pensada a partir de uma matriz urbana, o que distancia cada vez mais este jovem”, afirma a diretora.

A escola é comunitária, sem vínculo com Município ou Estado, e também não é particular por não ser cobrada mensalidade. A Efasul é mantida através de uma associação formada pelos familiares dos alunos.

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