Para manter o colesterol no mesmo compasso do coração

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Para manter o colesterol no mesmo compasso do coração

Palestra em Pelotas atualiza médicos sobre prevenção cardiovascular

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Para manter o colesterol no mesmo compasso do coração
A alimentação equilibrada e prática regular de atividade física são indispensáveis. (Foto: Jô Folha)

A doença cardiovascular continua sendo a principal causa de morte no Brasil e no mundo. A cada ano, mais de 17 milhões de pessoas perdem a vida devido a complicações como infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC). Em muitos desses casos, um fator silencioso, porém determinante, está presente: o colesterol elevado. Um exemplo são os atendimentos em Pelotas de pacientes com quadro de AVC. Em 2024 foram 663 no Pronto-Socorro de Pelotas. Este ano, o número já está em 304, sendo que se a média se mantiver, poderá alcançar o mesmo patamar do ano passado.

Com o objetivo de reforçar a importância da prevenção e atualizar os profissionais da saúde da região sul do Estado sobre novas diretrizes clínicas, a Associação Médica de Pelotas (AMP) promove, no dia 17 de julho, a palestra “Atualização em Dislipidemias e Prevenção Primária”, com o médico cardiologista André Zimermann. O evento, gratuito e exclusivo para médicos e residentes, acontece às 19h na sede da AMP, e é uma iniciativa do Departamento de Cardiologia e Cirurgia Cardiovascular da entidade.

O que são dislipidemias e por que elas importam

O termo “dislipidemia” se refere a qualquer alteração nos níveis de lipídios no sangue, especialmente colesterol total, HDL (o chamado “colesterol bom”), LDL (“colesterol ruim”) e triglicerídeos. Essas alterações são amplamente reconhecidas como precursoras de doenças ateroscleróticas, uma vez que contribuem para o acúmulo de placas de gordura nas paredes das artérias, dificultando ou bloqueando o fluxo sanguíneo.

“Essas placas, conhecidas como ateromas, aumentam significativamente o risco de infarto agudo do miocárdio e de AVC isquêmico”, explica o cardiologista Felipe Marques, presidente do Departamento de Cardiologia da AMP e responsável pela promoção do evento. Segundo ele, embora a dislipidemia possa ter origem comportamental, relacionada à dieta rica em gordura saturada, sedentarismo, tabagismo, consumo excessivo de álcool e sobrepeso, há também causas genéticas relevantes, como na hipercolesterolemia familiar. “Alguns pacientes nascem com essa predisposição, e mesmo com hábitos saudáveis mantêm níveis elevados de colesterol LDL”, complementa Marques.

Um inimigo invisível: o colesterol alto

Embora seja essencial ao funcionamento do organismo, o colesterol em excesso, especialmente na forma de LDL, está diretamente relacionado à formação de placas de gordura nas artérias. O perigo é que esse processo é silencioso: a maioria das pessoas com colesterol alto não apresenta sintomas, o que faz com que o diagnóstico e o tratamento ocorram muitas vezes tardiamente.

“A dislipidemia é o fator de risco mais subestimado e, ao mesmo tempo, um dos mais tratáveis”, destaca o palestrante convidado, André Zimermann. Ele é um dos nomes de destaque na cardiologia brasileira, integrando o corpo clínico do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, e atuando em ensaios clínicos de ponta junto ao grupo TIMI Study Group, da Harvard Medical School, nos Estados Unidos.

Para Zimermann, o papel do colesterol no desenvolvimento de doenças cardiovasculares é inegável. “As evidências científicas mais recentes são claras: quanto mais conseguimos reduzir os níveis de LDL, menores são os riscos cardiovasculares, mesmo em pacientes com histórico ou fatores de risco adicionais”, afirma. Segundo ele, estudos mostram que não há efeitos adversos importantes associados à redução significativa do LDL. “Não há valor mínimo absoluto para o LDL. O importante é reduzir o risco global do paciente. Isso é medicina personalizada baseada em evidência.”

Quando começar a cuidar do colesterol?

Uma das abordagens mais discutidas atualmente é o momento certo para iniciar o rastreamento do colesterol. A recomendação geral é que pessoas sem fatores de risco iniciem a avaliação entre 30 e 35 anos, repetindo os exames a cada três a cinco anos, desde que os resultados estejam normais. Já indivíduos com histórico familiar de infarto ou AVC em idades precoces devem ser avaliados muito antes.

“Se o pai infartou antes dos 55 anos ou a mãe antes dos 65, o rastreio deve começar ainda na infância, entre 9 e 11 anos”, orienta Felipe Marques. Isso permite o diagnóstico precoce de condições genéticas, como a hipercolesterolemia familiar, e a adoção de medidas preventivas desde cedo.

O tratamento: um caminho que vai além da dieta

A alimentação equilibrada e prática regular de atividade física são indispensáveis, mas nem sempre são suficientes para controlar os níveis de colesterol. Em muitos casos, é necessário associar medicamentos, principalmente as estatinas, que têm efeito comprovado na redução do LDL e na prevenção de eventos cardiovasculares.

“O tratamento é sempre individualizado. Não existe um número mágico que sirva para todos”, alerta Marques. “Levamos em conta não apenas os valores laboratoriais, mas o risco cardiovascular global do paciente: se tem hipertensão, diabetes, histórico familiar, idade, entre outros.”

A boa notícia é que, com acompanhamento médico e mudanças de estilo de vida, é possível controlar a dislipidemia e reduzir drasticamente o risco de complicações. E é exatamente esse o foco do evento promovido pela AMP: atualizar os médicos para que possam aplicar essas diretrizes com segurança e precisão em seus consultórios.

Quem é o palestrante

Doutor André Zimermann é médico cardiologista, chefe da Unidade de Ensaios Clínicos do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre. Atua como professor do Programa de Pós-Graduação em Cardiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e possui pós-doutorado pelo renomado grupo TIMI Study Group, ligado à Harvard Medical School, nos Estados Unidos. Zimermann tem ampla experiência em pesquisa clínica e já participou de importantes ensaios internacionais que moldaram diretrizes de prevenção cardiovascular.

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