O doutor e professor de Relações Internacionais da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Fábio Duval, participou do programa Debate Regional, da Rádio Pelotense, na sexta-feira. Na entrevista, ele comentou a repercussão da taxação de 50% sobre os produtos brasileiros anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, o republicano Donald Trump.
“É um tiro no pé o que o Donald Trump está fazendo, como vários tiros no pé que ele faz, porque a política dele é errática, não é uma política de longo prazo”, avaliou.
Duval considera que a Lei de Reciprocidade, que permite que o Brasil aplique as mesmas taxas aos produtos dos EUA, não será a alternativa adotada pelo governo brasileiro. “Não é uma boa saída porque vai tocar em setores produtivos muito fortes, como é a agroindústria”, disse.
“O governo brasileiro tem que se equilibrar numa linha muito tênue, e vai ter que agir com muita sabedoria para não prejudicar os setores domésticos brasileiros e, principalmente, para tentar reverter essa medida do Donald Trump”, explicou o professor.
Para o professor, Donald Trump vem usando a guerra tarifária como um meio de intervenção a outros países. “O Brasil não pode ser forçado a diminuir a prestação jurisdicional por uma intervenção externa. O princípio da não intervenção nos assuntos internos dos estados é básico no direito internacional”, diz.
Na avaliação de Duval, a desdolarização da economia mundial é o principal fator de preocupação de Trump com relação ao BRICS, bloco que o Brasil integra com outros países, como Rússia, Índia e China. “Ele não quer que essa demanda por dólares acabe e gere uma hiperinflação do dólar nos Estados Unidos”, explica.
Expectativa com os Brics
Segundo o professor Fábio Duval, essa crise é uma oportunidade de o BRICS demonstrar força, permitindo a diversificação das exportações brasileiras. “O mercado brasileiro não absorve toda a produção, então vamos ter que procurar outros espaços para exportação”. explica. “Minha aposta é que o governo vai tentar articular isso dentro do Brics, mesmo que os preços caiam em termos de exportação, a China e a Rússia são países que podem absorver uma parte considerável dessas exportações.”
Como alternativa de longo prazo, o professor sugere que o Brasil aposte em uma política para agregar valor aos produtos agrários. “Enquanto o Brasil não der esse passo fundamental na produção e na industrialização, seremos reféns desse comércio internacional baseado nas commodities”, concluiu.
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