Porto de Rio Grande será impactado por briga comercial entre Brasil e Estados Unidos

Tarifaço

Porto de Rio Grande será impactado por briga comercial entre Brasil e Estados Unidos

Especialistas apontam impacto direto sobre exportações e possível retração na economia nacional

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Atualizado sexta-feira,
11 de Julho de 2025 às 08:39

Porto de Rio Grande será impactado por briga comercial entre Brasil e Estados Unidos
País deverá buscar novos mercados. (Foto: Jô Folha)

O Porto de Rio Grande está em alerta para as tensões na relação comercial do país com os Estados Unidos, o quarto maior parceiro do terminal e o segundo do Brasil. O anúncio de tarifas de 50% a partir de 1º de agosto tem gerado preocupação em especialistas acerca dos impactos na região.

Somente em 2024, mais de 892 mil toneladas de produtos deixaram o terminal rio-grandino em direção aos Estados Unidos. Em 2022, o volume foi recorde, com quase 987 mil toneladas. Tabaco, calçados, máquinas e madeira estão entre os principais itens exportados.

Para o coordenador de operações da Bianchini S/A e vice-presidente de Infraestrutura da Federasul, Antônio Carlos Bacchieri, a medida tem motivação política clara, mas com reflexos concretos na economia regional. Conforme ele, muitas empresas que operam no distrito industrial já estavam enfrentando os efeitos das tarifas anteriores, mas ainda conseguiam operar.

“Nos 10% eles estavam conseguindo ainda assimilar os valores dos Estados Unidos e conseguindo vender por um valor ainda que o americano podia pagar e o negócio ainda se mantinha em pé. Agora com 50% nós vamos ter que analisar ainda o que vai acontecer”, afirmou durante o programa Debate Regional, da Rádio Pelotense.

Possível retaliação

Bacchieri defende que uma possível retaliação brasileira ao governo norte-americano pode ser ainda mais prejudicial para o país. “Digamos que se o Brasil taxar 30% de algum produto americano aqui, ele [Trump] ameaça [taxar em] 80%”, comenta.

O presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Claudio Bier, concorda que a diplomacia deve predominar neste momento a fim de manter uma relação internacional que ultrapassa 200 anos.

“Acredito que o presidente Trump não venha a exercer esses 50% anunciados. Em casos parecidos com outros países, ele acabou negociando. Por isso, o caminho é a mediação, a conciliação”, pontua.

Efeitos na economia

O economista da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), Eduardo Tillmann, também avalia que o impacto da tarifa será imediato, especialmente para a região Sul e para o Porto de Rio Grande. Segundo ele, a sobretaxa deve levar à redução nas exportações, com consequências em cadeia para a economia local e nacional.

“Aumentou o preço dos produtos brasileiros nos Estados Unidos, então a gente vai passar a exportar menos. No caso da região Sul, que a gente tem uma vocação bastante agrícola, principalmente para exportação […] Os Estados Unidos é um dos nossos principais parceiros, então o impacto é direto”, explica.

Tillmann ressalta que a redução das exportações pode gerar um efeito cascata na economia brasileira, com impacto na produção e no emprego. “Ao exportar menos, a tendência é que, com o tempo, a gente passe a produzir menos também. Então, menor produção, menor as contratações, menor as necessidades de ter mais trabalhadores. Isso reduziria o PIB do país”, afirma.

Outro ponto de atenção, segundo o economista, é o dólar, que deve ser pressionado e se valorizar quanto à moeda brasileira. Além disso, a nova tensão comercial pode fazer com que o Banco Central siga aumentando a taxa básica de juros (Selic) – atualmente em 15%.

Mercados alternativos

Apesar de ser claro ao afirmar que o tarifaço irá afetar as exportações e importações do Brasil com os Estados Unidos, Bacchieri acredita que o mercado pode se adaptar à mudança e buscar novas oportunidades.

“Os mercados migram, não é da noite para o dia, mas existem mercados que podem absorver muitas das nossas exportações que vão ser prejudicadas para os Estados Unidos”, afirma, após destacar que a China e os países asiáticos devem ganhar ainda mais espaço.

Tillmann concorda e defende que o Brasil busque novos acordos comerciais e fortaleça sua competitividade por meio de reformas estruturais, como a tributária e a melhoria da logística de exportações.

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