O professor e ecologista Marcelo Dutra da Silva é doutor em Ciências, leciona no curso de Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e integra o projeto de Política de Sustentabilidade no IFSul. Atuante no campo da Sustentabilidade Corporativa, Dutra sempre foi ligado ao meio rural e à natureza. Com passagem pelo movimento escoteiro, tem como princípios a amizade, a confiança e a preservação ambiental.
Práticas de sustentabilidade e desenvolvimento sustentável são essenciais. De que forma isso pode contribuir para evitar novas enchentes?
Diante do cenário catastrófico dos eventos climáticos extremos, que parecem confirmar a tese de que estamos vivendo uma espécie de “novo normal” do clima, entender o que deu errado e planejar as ações futuras para reverter seus efeitos torna-se uma questão de sobrevivência. Práticas modernas e sustentáveis de ocupação do solo — tanto para construção quanto para a produção de alimentos — devem moldar nosso comportamento de consumo e nossa relação com a natureza.
Estamos nos aproximando de uma fronteira perigosa, que, uma vez ultrapassada, pode não ter retorno. Precisamos agir, e com urgência.
Em Pelotas e Rio Grande, por exemplo, que passos deveriam ser tomados visando a evitar problemas futuros?
Acompanho as questões ambientais de Pelotas desde 2003, quando era professor da UCPel. Os problemas mudaram e se multiplicaram. Infelizmente, nossa capacidade de enfrentá-los perdeu força, e algumas questões se tornaram tão graves que não conseguimos mais resolvê-las sozinhos. As demandas variam em complexidade conforme o tema e a cidade. Devemos nos ver como um bloco regional e trabalhar juntos por objetivos comuns. O desenvolvimento da Região Sul dependerá diretamente do quanto conseguirmos unir forças.
O Workshop ESG & Sustentabilidade se tornou um evento importante. Como ele pode contribuir com o cenário climático?
O Workshop surgiu como um projeto acadêmico que deu muito certo. Tornou-se uma vitrine corporativa que ajudou a revelar o reposicionamento das empresas no mercado. Muitas vêm adotando rapidamente práticas sustentáveis de responsabilidade socioambiental, gerando impacto positivo na sociedade.
O ESG — sigla para Environmental, Social and Governance — é uma estratégia conectada aos princípios da sustentabilidade, oferecendo garantias de futuro para as próximas gerações.
Atualmente, qual localidade poderia servir de exemplo de integração entre cidades e meio ambiente?
Existem bons exemplos de interação positiva, onde os recursos naturais são tratados como ativos econômicos e explorados de forma sustentável. Lugares que valorizam sua beleza cênica, riqueza gastronômica e diversidade cultural se tornam destinos atrativos — inclusive para nós, justamente porque reconhecemos neles o que ainda não conseguimos enxergar em nossa própria região. Vivemos em uma área fantástica, com grande potencial. Talvez não estejamos aproveitando bem nossas oportunidades, que estão no turismo, na economia verde, nas novas fontes de energia limpa, na indústria de alimentos e na cadeia de fornecimento de combustíveis verdes. A segurança climática, com alguns ajustes, também pode nos posicionar em um patamar elevado para novos investimentos. Precisamos aprender a “vender nosso peixe”.