O edital publicado nesta semana pela Federação Gaúcha de Futebol (FGF), convocando para a disputa da terceira divisão estadual, gerou descontentamento em três dos quatro times da Zona Sul que tendem a participar do campeonato. A principal novidade do documento envolve a necessidade dos clubes mandantes pagarem antecipadamente uma taxa de R$ 3,2 mil por jogo em casa.
Assim como ocorreu nas duas últimas temporadas, a região deve ser representada por Farroupilha, Rio Grande, Riograndense e São Paulo. À reportagem, os vice-presidentes de futebol do Fantasma e do Vovô, respectivamente Fábio Costa e Cláudio Santana; e o mandatário do Guri Teimoso, Paulo André Neves, manifestam indignação. Apenas o presidente do Rubro-Verde, Paulo Costa, não tece críticas aos custos impostos pela FGF.
Os clubes têm até o dia 15 para manifestação de interesse à entidade. O congresso técnico do Gauchão Série B, nome oficial da popular Terceirona, está marcado para 30 de julho. Os dirigentes pretendem aproveitar a oportunidade para cobrar mudanças no formato de taxas da competição. O valor de R$ 3,2 mil por partida como mandante se soma a uma série de demandas financeiras listadas pela FGF que já desagradavam os clubes previamente.
Estimativas indicam que o montante necessário para a regularização contratual de um plantel completo gira em torno de R$ 25 mil. O edital garante: não haverá isenção do pagamento dessa necessidade. O investimento total de cada clube para disputar a terceira divisão ficaria na casa dos R$ 300 mil. Neste pacote estão salários, viagens, alimentação e qualificações estruturais obrigatórias para liberação dos estádios, por exemplo.
“Acho um absurdo os valores. […] É praticamente impossível jogar”, lamenta Claudio Santana. “Muitas chances da maioria não jogar. Custo para jogar com time minimamente competitivo não baixa dos R$ 300 mil para uma competição em que nosso atleta foi artilheiro [Wendell, com quatro gols no ano passado] e não tinha nem medalha para ele”, diz Paulo André Neves.
Artifício contra “aventureiros”
O presidente da FGF, Luciano Hocsman, argumenta que não houve alteração no edital deste ano em relação ao de 2024. Segundo o mandatário, o valor total das taxas solicitadas aos clubes não cobre o montante completo desembolsado pela entidade para custear a Terceirona. Ele cita a existência de algumas demandas bancadas pela federação, como uma parcela do pagamento à arbitragem, por exemplo.
“Antes de criar uma competição, especialmente de adesão, tem que ter certos cuidados para respeitar, inclusive, os muitos clubes tradicionais que jogam. […] Se tu começa a subsidiar 100%, muitas vezes tu começa a trazer clubes aventureiros, sem estrutura, sem a mínima receita capaz de dar a possibilidade de terminar a competição”, afirma Hocsman, que está há um mês atuando como interventor na Federação Mato-Grossense.
Sob a ótica do responsável pela FGF, a exigência financeira funciona como espécie de “triagem” para assegurar que os times participantes da terceira divisão possuam “seriedade” e capacidade de manutenção econômica até o fim do campeonato. “Por respeito a muitos clubes tradicionais nessa situação, não podemos pensar na quantidade, mas sim na qualidade”, resume Hocsman.
Redução de times
A edição mais recente da Terceirona teve uma diminuição de 50% no número de equipes. Foram 16 em 2023 e oito em 2024. Instituições como São Borja, Santo Ângelo, Cruz Alta, Riopardense, Igrejinha e Novo Horizonte disputaram a competição há duas temporadas, mas não no ano passado.
Em 2024, o torneio ficou marcado pela perda de oito pontos do Farroupilha na primeira fase por conta de escalações irregulares em duas partidas. O Tricolor teria pontuação para avançar às semifinais e lutar pelo acesso, mas acabou eliminado no tribunal. Gramadense e Real, de Tramandaí, subiram à Série A-2, de onde caíram Cruzeiro e São Gabriel.
A Terceirona da atual temporada está agendada para iniciar em 28 de setembro e terminar em 30 de novembro, com dez datas disponíveis – um indício de que o campeonato não deve ter mais de oito participantes.