Uma criança “doce, meiga e que amava esportes”, assim Izabel Simch descreve o filho, Joaquim Simch Klinger (Joca), de 9 anos, que morreu na madrugada do dia 28 de maio, nas dependências da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Cassino, em Rio Grande. A família acusa dois médicos de negligência e cobra respostas da prefeitura sobre o processo administrativo aberto para apurar as circunstâncias do atendimento.
A criança teria dado entrada no atendimento de urgência da UPA por volta das 3h10min com sintomas respiratórios. O prontuário médico aponta para uma crise asmática com provável complicação por H1N1. Com a piora do quadro de saúde, Joaquim teve duas paradas cardiorrespiratórias e veio à óbito às 7h15min ainda na unidade de saúde. As anotações indicam que a equipe de enfermagem orientou a intubação do menino por diversas vezes, todas negadas pelos dois médicos que participaram do atendimento. Os pais de Joaquim afirmam que autorizaram o procedimento e que buscavam um helicóptero, com o convênio de saúde, para a transferência do menino para atendimento em Pelotas, mas não chegou a ser utilizado.
Início dos sintomas
Conforme o relato da mãe, Joaquim foi diagnosticado com laringite em uma consulta no dia anterior ao fato, pelo seu plano de saúde. Por volta das 23h, começou a apresentar sinais de crise asmática, pedindo a companhia do pai. “Ele nunca teve crise de asma jogando, apenas por medo de chuva ou vento. Isso começou quando galhos de árvores caíram sobre nosso carro há um certo tempo e, desde então, esse medo desencadeava as crises”, relata Izabel.
Durante a madrugada, o pai de Joaquim, Marcelo Klinger, buscou o menino para que ele se acalmasse. Como a ação não surtiu efeito, ele foi levado direto para a UPA. “O médico disse que ele estava ‘caidinho’ por terem ministrado uma medicação. Ele estava tendo broncoespasmos, que dificultava a respiração e revirava os olhos durante o atendimento”, conta.
Prontuário
A família afirma que precisou de muita insistência para ter acesso ao prontuário de atendimento do menino na UPA. No documento, a equipe de enfermagem relata que às 5h foi questionada a possibilidade de intubação, mas que o procedimento teria sido negado pelo médico responsável. Com a evolução do quadro e os remédios administrados sem surtir efeito, volta-se aos questionamentos de intubação, que são novamente negados.
Por volta das 6h da quarta-feira, o quadro de Joaquim piora e a pessoa responsável pela enfermagem relata no prontuário que “foi orientado para os médicos que o mesmo [menino] irá fadigar e parar, que era para intubar naquele momento. Novamente os médicos dizem para esperar, sendo que não havia tempo para esperar”. Cerca de 25min o menino entra em parada cardiorrespiratória, o médico tenta intubar por duas vezes, sem sucesso. Outros procedimentos são adotados, como intubação laríngea e massagem cardíaca, ambas sem sucesso, vindo à óbito.
O que dizem as autoridades
No prontuário é afirmado que os médicos estavam sendo orientados por um pediatra do Hospital Universitário da Furg. Segundo a administração, foi relatado que a UPA entrou em contato com o hospital para a disponibilização de leito, mas que não deu tempo de concluir o encaminhamento. “Ao saber da situação, o pediatra de plantão no HU deu a orientação inicial, de acordo com o quadro clínico daquele momento, para que o paciente fosse transferido com a maior brevidade possível”, afirma a entidade em nota.
O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers) afirmou que, até o momento, não recebeu denúncias a respeito do caso ocorrido na UPA do Cassino.
Na época do fato, a prefeitura de Rio Grande emitiu uma nota de pesar pela morte de Joaquim e informou que deu início à uma apuração interna para averiguação “com total rigor técnico de todos os procedimentos adotados no atendimento à criança”.
Em relato nas redes sociais, a mãe de Joca afirma que não foi informada sobre o andamento do processo. “Até hoje não recebi nenhuma resposta da prefeitura, que apenas se diz solidária em momentos em que eu não estou presente, enquanto isso minha alma sangra todos os dias”.
Após a repercussão nas redes sociais, a prefeitura de Rio Grande afirmou que preparava uma nota oficial sobre o caso. No entanto, nenhuma declaração foi encaminhada até o fechamento desta edição.