Acompanhar a direção do vento e torcer para que ele não vire para Sudoeste (SO). Assim trabalham as equipes da Defesa Civil e das Universidades, principalmente nos municípios em que a água da Lagoa dos Patos já ultrapassou a cota de inundação nesse período de oscilação do estuário. Pelotas, Rio Grande, São Lourenço do Sul e São José do Norte estão na rota da água que desce do Guaíba e a expectativa é desfavorável à vazão.
No mapa do Centro Interinstitucional de Observação e Previsão de Eventos Extremos (Ciex), formado por várias instituições de ensino e pesquisa, aponta que a melhor direção é a NE, o Nordeste, considerado fluxo de vazante. Entretanto, a professora do Instituto de Oceanografia da Furg, Elisa Helena Fernandes, destaca que nos próximos dias a região terá ventos de SO atuando na lagoa. “Mas espera-se que os fluxos de enchente não aconteçam, ou pelo menos sejam enfraquecidos, em função do alto nível da água no interior da Lagoa. Nestes casos, o fluxo de vazante tem se mantido, como aconteceu ano passado e neste final de semana”, esclarece.
Em pontos mais baixos das quatro cidades, o sobe e desce da Lagoa já causou alguns estragos, como em São Lourenço do Sul, onde trechos das ruas Anchieta e da avenida Getúlio Vargas foram interrompidas para veículos. No final de semana, sete idosos do Lar dos Velhinhos Santo Antônio foram removidos por medidas de precaução, mas já retornaram ao lar. A água nas duas vias, já baixaram. Na tarde de segunda-feira (30), o nível da Lagoa estava em 145,9 centímetros (cm), conforme a Rede de Monitoramento do Nível da Lagoa dos Patos, sendo que a cota de inundação é de 160 cm. Em maio do ano passado, esse nível chegou a 284 cm.
Atenção ao Cedrinho
Em Pelotas, um dique e uma bomba instalados no canal do Cedrinho, na entrada da Colônia de Pescadores Z-3, amenizou a vida de algumas famílias que já encararam a água na porta de casa, na sexta-feira (27). Na tarde de segunda, o vento vazante ajudou e muita água do canal foi despejada na lagoa. A dona de casa, Carina Teixeira de Farias, 46, que no dia 6 de maio deste ano estava preocupada com a limpeza do canal, disse que se não fosse a bomba, a casa dela estaria novamente embaixo d’água. “No final de semana o pátio ficou tomando, mas não entrou em casa. Com o serviço, o volume baixou rápido o que nos deixa mais aliviada”, confessa ela, em nome da família.
O coordenador municipal da Defesa Civil de Pelotas, Milton Martins, explica que na madrugada de sexta-feira, fizeram um dique e instalaram a bomba, pois o vento leste fez com que o nível da Lagoa subisse, causando novamente transtornos para os moradores do Cedrinho. “Já estávamos inclusive com a retaguarda com o salão da Igreja, com alimentos e colchões, mas nós conseguimos atacar o problema.” A estratégia serve também, para evitar que a Z-3 fique isolada novamente, pois o dique protege os pilares das cabeceiras da ponte, que ainda é a provisória montada pelo Exército.
O monitoramento segue, pela expectativa de mudança de direção do vento. “Nós estamos com 12 máquinas retroescavadeira trabalhando, duas delas hidráulicas e um esforço de trabalho para proteger esta região. Já reforçamos o dique do Valverde, estamos fazendo uma obra na estrada da Barra”, destaca. O serviço foi de nivelamento para que a cota da lagoa nessa área fique em 2,30 metros. Além disso, na casa de bomba da Nova Prata foi realizado um trabalho de contação do canal. “Isso para tranquilizar a população, porque a gente entende que com a mudança de quarta-feira, vamos ter que ficar alerta.” Milton Martins lembra que há uma segunda bomba instalada na Rótula Jornalista Álvaro Piegas e, se for necessário, será instalada outra que culmina com a rua São José do Norte.