De colégio só para meninos a espaço liderado por mulheres

Raízes e Propósitos

De colégio só para meninos a espaço liderado por mulheres

Tradição e inclusão marcam a trajetória do Colégio Gonzaga. Hoje, mulheres são maioria

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De colégio só para meninos a espaço liderado por mulheres
Mulheres passaram a estudar e trabalhar no Gonzaga na década de 1960. (Foto: Acervo)

Hoje, as mulheres representam mais de 80% do total de docentes da Educação Básica no Brasil, segundo dados do Censo Escolar (INEP). No entanto, até poucas décadas atrás, ainda eram comuns os espaços escolares no formato de internato exclusivo para meninos. Um exemplo é o Colégio Gonzaga, de Pelotas, que passou a receber professoras e alunas apenas no final da década de 1960.

Considerada uma das primeiras professoras da instituição, Lília Maria Xavier lembra com carinho do tempo em que atuou na escola. Inicialmente ministrando aulas apenas para meninos, ela presenciou com entusiasmo o momento em que o colégio passou a também aceitar mulheres.

“A integração foi muito tranquila, e as novas professoras foram bem recebidas. Ministrar aulas no Gonzaga foi a realização de um sonho de infância: ser professora”, relembra Lília.

O passado da escola é até hoje lembrado em atividades de sala de aula, conta a professora Daniela de Moura. Durante a semana de aniversário do colégio, a trajetória histórica da instituição – uma das mais tradicionais da Zona Sul – ganha destaque.

“Contamos aos nossos alunos um pouco da história da escola, para que conheçam de fato como o Gonzaga se constituiu ao longo dos anos na nossa cidade”, explica.

Segundo Daniela, o fato de o colégio, por um período, aceitar apenas meninos, desperta muita curiosidade entre os estudantes.

“Essa parte da história parece algo muito distante da realidade atual. Eles perguntam como eram os professores de antigamente e por que as meninas não podiam estudar junto”, conta.

Hoje, a integração iniciada nos anos 1960 é total: meninos e meninas compartilham os mesmos espaços e desenvolvem atividades sem distinções. “As crianças de hoje convivem sem separação. A escola valoriza a diversidade e respeita as particularidades de cada criança”, afirma Daniela.

Em sala de aula, são promovidas atividades que oportunizam o desenvolvimento de cada estudante com base em suas características individuais, sem ênfase em gênero. “Há crianças que demonstram liderança desde os primeiros momentos na educação infantil, e isso não tem relação com gênero”, avalia.

Docência como vocação

Desde a infância, Lília sonhava em ser professora. A experiência no Colégio Gonzaga foi marcante e simbólica, já que ela abriu caminho para muitas outras mulheres na instituição. “Dar aula foi a realização do meu maior desejo, cultivado desde menina. Lecionar no Gonzaga foi maravilhoso, pois me formei e logo consegui entrar na escola”, relembra.

A escolha pela docência foi tão significativa na vida de Lília que dois de seus filhos também seguiram a carreira. “Acho essa uma profissão muito bonita, pois somos responsáveis pela formação de todas as outras”, justifica.

Mais de 20 anos após sua última visita ao colégio, a professora aposentada reviveu memórias e aprovou as mudanças que encontrou. Para ela, a escola continua acolhedora e muito bonita.

Protagonismo das mulheres

Hoje, as mulheres são consideradas a força motriz do Colégio Gonzaga, segundo Carla Santo, integrante da Coordenação Pedagógica. “Nada funciona aqui sem as mulheres. Na educação infantil e no ensino fundamental, todas as professoras titulares são mulheres”, destaca.

Segundo Carla, essa mudança se deve à transformação cultural iniciada na época em que Lília lecionava. Atualmente, além das salas de aula, as mulheres ocupam também espaços na coordenação, direção e demais setores estratégicos da escola.

Em diversas turmas, as meninas também são maioria, o que gera desafios até mesmo em atividades como a Olímpia, tradicional competição escolar. “Temos dificuldades para formar times mistos em algumas turmas, porque há mais meninas, e em certas modalidades ainda é preciso separar por gênero”, comenta.

Para Daniela, essa convivência igualitária é o que torna o ambiente do Gonzaga tão acolhedor. “Os gonzaguianos são solidários, abraçam quem chega. A criança gonzaguiana se destaca justamente por esse espírito de acolhimento”, conclui.

Relembre

Criado pelos jesuítas, em 1895, como Escola São Luís Gonzaga, e que foi a primeira instituição católica de ensino primário e secundário da cidade de Pelotas. O Gonzaga foi, em diferentes épocas, um importante instrumento na disseminação do catolicismo junto a meninos e rapazes. Sua ação educacional e evangelizadora deu-se inicialmente pela ação dos jesuítas e, posteriormente, pelos lassalistas com importante atuação das associações religiosas que ali se formavam.

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