O trabalho desenvolvido em três décadas de cooperação internacional com cientistas russos a partir da sua produção científica, rendeu ao professor especialista em oceanografia física da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), Osmar Olinto Möller Junior, a honraria de ser o primeiro brasileiro a fazer parte da Academia de Ciências da Rússia.
Desde 2002, o professor atua em diferentes projetos de pesquisa com cientistas russos, organizando cruzeiros oceanográficos na plataforma continental e na Lagoa dos Patos, além de ter participado de expedições científicas lideradas por russos. Na Furg foi vice-diretor e diretor do Instituto de Oceanografia, além de coordenador do Programa de Pós-graduação em Oceanografia Física, Química e Geológica (atual PPGO).
No ano passado, Osmar finalizou um projeto financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) que envolvia uma contrapartida com pesquisadores russos em um cruzeiro para coleta de dados na Lagoa dos Patos.
Em que momento a sua trajetória acadêmica se encontra com a Rússia?
“Aqui na Furg em 1995, quando recebemos no Departamento de Física um pesquisador russo, Dr. Peter Zavialov, como professor visitante. No início de 1996 eu retornei do meu doutorado e começamos a trabalhar juntos em projetos e, muitas vezes, ele embarcando comigo. Além da parte de colaboração profissional, havia uma grande amizade e isso fez com que sempre que um tivesse condições, buscava trazer o outro para seu país. Como uma parte do meu trabalho envolve a Lagoa dos Patos, o Mar de Dentro, fui convidado para trabalhos no Issik-Kul, o Lago Sagrado do Quirguistão e no Mar Cáspio, com base na cidade de Aktau, no Cazaquistão. São mares fechados, profundos, mas super interessantes de serem estudados. São 30 anos de trabalhos conjuntos, alguns envolvem outros pesquisadores brasileiros e ou russos”.
O que significa para a sua carreira o título de primeiro brasileiro a ingressar na Academia de Ciências da Rússia?
“Ter sido eleito como Membro Estrangeiro da Academia Russa de Ciências é uma honraria que nunca imaginei ter na minha vida. Significa um reconhecimento muito grande da minha trajetória como professor e pesquisador, pois, além de avaliarem minha produção científica e a específica como coautor em colaboração com pesquisadores russos, teve a análise da parte de formação de pessoal com as orientações de graduação e pós que participei”.
De que forma se mantém conectado com a Furg? O que a Universidade significa em sua trajetória?
“Sou formado em Oceanologia pela Furg, na segunda turma, em 1975 e comecei a trabalhar como professor auxiliar de ensino na área de Oceanografia Física em agosto de 1976. Em 1980 saí para mestrado em Oceanografia na Universidade de Southsmpton, na Inglaterra e em 1993 para o doutorado na Universidade de Bordeaux I, na França. No total foram 45 anos de trabalho até a aposentadoria no final de 2021. Desde 2022 atuo como professor voluntário do Instituto de Oceanografia. Em suma, toda uma vida profissional dedicada à formação de pessoas na área de Oceanografia Física e na parte de pesquisas. A Furg sempre foi minha base, desde minha graduação até minha evolução como profissional. Muito do que fiz teve a participação de uma pessoa decisiva, ao professor Jorge Pablo Castello, que foi meu primeiro chefe de pesquisas e quem me ampliou horizontes, mostrando uma visão ampla e integrada de Oceanografia. Ele sempre foi meu exemplo e tem parte nesta honraria que recebi.
Qual é o seu objetivo a partir deste reconhecimento?
Informalmente, esta cooperação começou em 1996, no entanto, em 2018 foi assinado um acordo entre a Furg e o Instituto de Oceanologia Shirshov, que no ano passado foi renovado por mais cinco anos. Isso é muito importante para os próximos passos desta relação entre Brasil e Rússia. Minhas atividades profissionais, como professor voluntário na Furg, vão continuar normais, tanto no ensino como na pesquisa. Juntamente com o Dr. Zavialov, vamos estabelecer metas para os próximos anos e preparar projetos e atividades conjuntas. Particularmente, espero que este reconhecimento seja importante para que a cooperação seja ampliada com maiores possibilidades de intercâmbio entre docentes e discentes de ambas instituições, além de estimular que se aprenda um pouco da língua russa”.