É importante reconhecer quem, em maio do ano passado, saiu de suas casas para dedicar-se ao voluntariado. Há que se separar o joio do trigo, e deixar de lado aqueles que o fizeram para aparecer, ou para buscar reconhecimento e mídia em ano eleitoral. Mas focando em quem agiu de bom coração e com olhar solidário, é importante que eles sejam os últimos. Soa um pouco grosseira a frase, claro, mas realmente não queremos a necessidade de novos heróis.
Agora, Pelotas instituiu o dia de reconhecer quem fez muito pela nossa comunidade. Faz bem. É fundamental que não esqueçamos que a população abraçou junto com o poder público na hora de defender nossa comunidade do temor da descida das águas. Muitos deixaram suas famílias, seus negócios e foram até a beira da Lagoa dos Patos e do canal São Gonçalo para levar ajuda a quem estava vivendo a maior agonia de suas vidas.
Isso vem em um momento delicado para o Estado inteiro. Embora não se assemelhe com o caos trágico do ano passado, as cheias de 2025 nos trazem memórias assustadoras. Muito pela percepção de que pouquíssimo foi feito em termos de proteção de fato. Muito foi investido em recuperação, projetos tramitam, mas se tivesse chovido no volume de 2024, a situação seria basicamente igual no todo. E isso é o mais assustador de tudo. Estamos à mercê do clima, e dele apenas.
O recado da natureza é claro e direto: nós ainda não estamos preparados. É um sinal de que precisamos acelerar, ajustar as burocracias, deixarmos de lados os ranços ideológicos e nos unirmos, enquanto Estado, regiões e municípios, para pensar em um Rio Grande do Sul que seja realmente resiliente diante dos crescentes extremos climáticos causados pelas enchentes em série. Já são três anos seguidos disso e nada indica que a situação será diferente.
Para sermos um Estado que não precisa de novos heróis voluntários, precisamos ser uma sociedade de mais ação, de mais realização e de pleno alinhamento nesta que é a mais importante de todas as pautas em nossa época. Só assim, os heróis seguirão apenas como figuras da memória em um passado que foi de aprendizado.