Daniel Carvalho explica parceria e investimentos no Pelotas

Entrevista exclusiva

Daniel Carvalho explica parceria e investimentos no Pelotas

Ex-meia enfatiza papel da base para o crescimento do clube e garante não ter influência em contratações

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Daniel Carvalho explica parceria e investimentos no Pelotas
O pelotense, revelado como atleta no Internacional, ídolo no CSKA Moscou da Rússia e hoje empresário, recebeu a reportagem do A Hora do Sul nesta terça (Foto: Lucas Rhamon - ECP)

Daniel Carvalho foi anunciado em abril como diretor esportivo do Pelotas, mas se envolve no clube há mais tempo por ter boa relação com o presidente Rodrigo Brito. O ex-meia da Seleção Brasileira investe nas categorias de base do Áureo-Cerúleo, reativadas no ano passado com a equipe sub-17 e que serão representadas a partir de agosto pelo novo time sub-20 na Série A-2 do Gauchão. E essa proximidade gerou mais investimentos.

O pelotense, ídolo do CSKA Moscou, atendeu nesta terça-feira (24) o A Hora do Sul na Boca do Lobo. Falou sobre a parceria envolvendo a base e a importância para o futuro do clube. Além disso, o também ex-jogador do Internacional e do próprio Pelotas mostrou à reportagem o andamento das obras em espaços anexos ao estádio na rua Gonçalves Chaves.

Como empresário, Daniel vem realizando uma série de investimentos em salas desocupadas abaixo da arquibancada – áreas pertencentes ao clube. Está prevista para 1º de agosto, por exemplo, a inauguração de uma academia, da qual ele será proprietário, ao lado da galeteria localizada na esquina com a rua Doutor Amarante.

Na academia, que terá dois pisos e vai ficar à disposição dos atletas de base e profissionais do Lobo, haverá ainda um camarote com vista para o campo. A obra começou há cerca de dois meses e demandou a completa reconstrução do local, desde a parte elétrica até o piso. Isso também foi feito em outras áreas ao lado, onde Daniel já administra uma barbearia.

Está em andamento, também, a recuperação do ambiente onde funcionava uma pet shop. Abandonado, o espaço apresenta uma série de graves problemas estruturais. A ideia do empresário é revitalizá-lo para deixá-lo à disposição do clube, que poderá arrecadar por meio do aluguel. Na mesma rua, será inaugurada uma academia de artes marciais.

Os investimentos e respectivas contrapartidas estão previstos em contrato de parceria de Daniel com o clube. O ex-meia enfatiza que os esforços para dar nova cara àquele trecho da Gonçalves Chaves beneficiarão seus dois negócios no local e também o Pelotas. Ele destaca, também, a futura transformação do Nacional em Nicolini, em frente.

Confira a entrevista.

O clube te anunciou recentemente como diretor esportivo. Desde então, o que foi trabalhado e o que tu ajudou a desenvolver?

Estamos usando a sub-20 para depois dar continuidade no profissional. Já consegui psicólogo no sub-20, por exemplo, que depois vai trabalhar no profissional. Não vou fazer contratação, nada disso. Vou procurar dar melhorias de fora para dentro. O que seriam? Que o jogador chegue dentro do campo mais preparado, e para isso precisa de estrutura melhor e condições melhores. É isso que estou fazendo. A gente está montando academia para o clube. Claro, vai ser aberto ao público, mas o clube treina na academia. Veio já um psicólogo, está vindo nutricionista para sub-20 e profissional. O fisiologista do Flamengo [Cláudio Pavanelli], que cuida de esportes olímpicos e futebol profissional, se colocou à disposição para me ajudar, mesmo que seja online, e vai fazer uma visita aqui. Quando abrir a academia, vou ter um profissional de educação física para cuidar de atletas que venham de lesão e que precisem evoluir a parte física. Essa é minha função: proporcionar para os jogadores uma condição melhor. Não precisa citar nomes, mas no Gauchão desse ano, tivemos jogadores completamente acima do peso e jogando. Mas vai cobrar dele como? Se o clube não ofereceu nutricionista, o básico para um jogador de futebol. Esse é o meu acordo e minha parceria com o Pelotas em aceitar o desafio. Na teoria vai dar resultado. Dentro de campo, espero que a bola bata na trave e entre. Meu trabalho é tentar profissionalizar algumas áreas que o Pelotas nunca teve.

Como vai funcionar esse empreendimento da academia?

É uma parceria minha com o clube. Vai estar aberta para o torcedor. Vamos fazer um atrativo para o torcedor, queremos fazer isso. O torcedor muitas vezes vem, paga mensalidade e o ano acaba em três meses. Vamos tentar uma parceria em que o torcedor possa fazer um plano conosco e tenha o direito de ser sócio do clube. É uma troca. Nada impede que o torcedor do Brasil que queira malhar ali, more perto, vá malhar. É uma parceria boa para o clube, e principalmente os jogadores do profissional e da base vão treinar lá. O custo de uma academia, para montar, é alto. Fiz um investimento de quase R$ 400 mil em equipamentos voltados a atletas de alta performance. É um atrativo para o jogador. Hoje o atleta vem e quer saber da estrutura do clube. Pelo que tenho visto, pelas condições do Parque [Lobão], o Pelotas tem uma condição boa. Só não está sabendo explorar bem. É isso que estou tentando, junto com o Brito, fazer. Que o jogador venha e depois saia com satisfação, e não criticando que não tem estrutura.

A Copinha da Federação Gaúcha de Futebol (FGF) começa no fim de setembro. Vai participar da montagem do elenco profissional para essa competição?

Quando chega currículo, de atleta, treinador, eu encaminho direto para o presidente. Só passo: ‘me procuraram, está aqui’. Encaminho porque pode ter coisas boas. Agora, decidir, essas coisas, só vou decidir no dia em que o Brito perguntar o que eu acho.

A ideia, na Copinha, é dar prioridade para os jogadores do sub-20?

Preferência para a gurizada. E claro, com contratações de jogadores mais velhos para ser uma base, um pilar. Vai existir cobrança. Quando se trabalha com a base, o normal é um projeto de médio e longo prazo. Aqui, até pela situação do Pelotas nos últimos anos, não tem muito tempo para um projeto de médio e longo prazo. Então tem que pensar que vai valorizar a gurizada, dar chance para eles, mas ter jogadores mais velhos para suportar a pressão que vai existir. A nossa média deve ser de dez a 12 jogadores da base que, se não jogarem no profissional pela Copinha, descem para jogar o Gauchão [Série A-2] normal na sua categoria [sub-20]. Um ou outro vai acabar se destacando. Tem uma gurizada boa que pode jogar tranquilamente a Copinha. Não sou treinador, não sou eu que decido, mas acho que vai ter uma surpresa positiva no Gauchão.

Para compor esse grupo, com algumas contratações, vai precisar de certo investimento. Tu acha que tua presença ajuda o clube a trazer mais investimentos?

Acho que não e nem quero que se faça essa ligação. Estou aqui por livre e espontânea vontade e o prazer de ajudar. Claro, posso ajudar em contatos com empresas se o Brito pedir alguma ajuda se for falar com empresa tal. Mas não quero que se diga: ‘ah, fulano, vem me ajudar porque o Daniel Carvalho está aqui comigo’. Isso não. Não quero que acabem usando pretextos com meu nome. Quero que venham para cá pessoas para quem o que a gente possa oferecer seja real.

Tu tem uma história com o CSKA. Se fala em profissionalizar o clube e a Europa é o principal mercado do mundo. Tem possibilidade de uma parceria?

Conversei com o Max, tradutor, há três dias. E no domingo eles [elenco do CSKA] se apresentaram para a pré-temporada. Tenho um atleta que acho que nem precisa passar pelo profissional do Pelotas, tem potencial. E aí estou tentando ver se consigo levar ele para uma avaliação, um período lá. Tenho as portas abertas. Se eu tiver que levar alguém, o cara tem que estar bem, ser fora da curva. Agora, levar só para mostrar para o torcedor e para imprensa e dizer ‘eu posso, eu consigo’, não. Vou perder tempo e gastar forças com alguém que possa trazer fruto e benefício para o clube.

A ideia é que o Pelotas solidifique esse sub-20 para que o clube se torne um clube reconhecido estadual ou até nacionalmente por formar atletas de bom nível?

Não penso nos outros. Penso no clube. Qualquer jogador diferenciado da categoria de base ajuda bastante o caixa. Faz diferença. O Pelotas não tem esse jogador há muito tempo. Acho possível sim. A gente fez essa parceria com o Progresso, com o Alcione. Tu pega esses guris do sub-17 do Progresso, daqui a pouco um ou dois vão ter a oportunidade de sair para Inter ou Grêmio. Mas tem outros 18, 20. Esses guris vão para onde? Tu tem o Pelotas hoje, que pode ser uma opção. Sendo realista, um guri que faz base no Progresso tem muito mais condições do que um guri que faz escolinha na cidade. Essa parceria a gente está tentando concretizar para o futuro. Na minha visão, vender um guri por 100, 150 mil dólares, não é difícil. Cem mil dólares é quase R$ 500 mil para o Pelotas, um dinheiro muito grande dentro da realidade que o clube vive hoje. Acho que é possível, em breve, botar uns guris a jogar e conseguir fazer caixa com eles. Isso que eu estou querendo fazer com o Pelotas qualquer clube faz. Agora há pouco o Grêmio vendeu um guri do sub-20 por 4 milhões [de dólares] que nem jogou no profissional [Kaick, volante]. Por que o Pelotas não pode fazer também? Claro, proporcionalmente. O Grêmio vai vender por quatro milhões, mas por que o Pelotas não pode vender por 400 mil? É possível. Acho que é esse o caminho para o Pelotas melhorar. Se vai dar certo ou não, só daqui um tempo a gente vai ver.

Galeria

Academia será inaugurada em 1º de agosto Barbearia funciona com acesso pela Gonçalves Chaves Forro de uma das áreas em obras está danificado. Lá, funcionava uma pet shop

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