Lara Nasi é professora no Centro de Letras e Comunicação da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Ela possui graduação em Comunicação Social – Jornalismo pela Unijuí, mestrado em Ciências da Comunicação pela Unisinos e doutorado em Comunicação pela UFSM.
Lara também atuou como professora em outras instituições, e suas pesquisas focam em jornalismo, narrativa, segurança pública, violência e direitos humanos. Atualmente, a docente é responsável pela disciplina de Comunicação Pública no curso de Jornalismo, tema importante na garantia da transparência, no direito à informação e no fortalecimento da cidadania.
O que é comunicação pública e por que ela é tão crucial para a sociedade?
É preciso pensar em como o Estado se comunica com as pessoas. Antes, tínhamos o paradigma da comunicação governamental, que era mais alinhada aos governos e, por isso, carregava o viés da gestão em questão. Hoje, o que se busca é a comunicação pública: uma mediação entre o Estado e a sociedade que seja guiada pelos interesses dos cidadãos. Isso significa romper com a lógica de como uma gestão talvez deseje comunicar e, em vez disso, focar em como fazer mais sentido comunicar a partir do interesse coletivo. Esse processo envolve a participação das pessoas, ouvindo suas angústias e questões sobre os serviços públicos. O resultado deve ser uma comunicação que presta contas, explica os serviços disponíveis e garante total transparência com os gastos e recursos públicos.
Quais os maiores desafios para uma comunicação pública eficaz no Brasil hoje?
Um dos desafios é a ausência de uma cultura de comunicação pública. Muitas vezes, quem atua na comunicação das instituições públicas, por exemplo, tenta fazer uma abordagem mais voltada aos cidadãos e cidadãs, mas esbarra na falta de compreensão da gestão sobre o que é comunicação pública, que pode preferir uma comunicação voltada às ações da própria gestão, e não no interesse público. A comunicação pública também é uma área relativamente nova no Brasil — menos de 20 anos. Então, às vezes, os próprios profissionais não conhecem muito bem as lógicas da comunicação pública.
Como o jornalismo local pode ajudar nesse processo?
O jornalismo local tem um papel superimportante, porque existem no âmbito local várias instituições e empresas públicas. E se queremos que as pessoas saibam como acessá-las, quais direitos elas têm, saber a transparência, a gestão dessas instituições, o jornalismo local pode ajudar. Ele pode ser um aliado quando fomenta pautas a respeito dos órgãos públicos, por exemplo, sobre os serviços e como acessá-los.
Na formação de jornalistas, quais habilidades são mais valorizadas nesse sentido?
É importante que os jornalistas se interessem em entender como funcionam os serviços públicos e as instituições. Às vezes, o jornalismo tende a ser muito reativo, focando em pautas que surgem a partir de denúncias. Com o entendimento do Estado, eles podem propor pautas mais propositivas e de serviço, que sejam úteis para a população. Esse conhecimento não anula as denúncias, mas as qualifica, permitindo cobrar as instituições de forma mais eficaz.
Como tu vê a importância de garantir clareza nas informações que chegam à população através dos órgãos públicos?
Este é um dos princípios da comunicação pública. As pessoas precisam compreender as informações que os órgãos públicos oferecem. Para isso, é importante que a linguagem utilizada seja simples. O objetivo é que todos possam entender, desde a pessoa menos letrada até aquela com alguma dificuldade de acesso ao conhecimento. Isso se conecta diretamente com outra dimensão: a cidadania. A ideia é que a cidadania é o ‘direito a ter direitos’. Para que as pessoas possam ter esses direitos, garantidos pela Constituição e efetivados pelos serviços do Estado, elas precisam primeiro do direito à informação para conhecê-los.