Uma transição hormonal natural que atinge todas as mulheres a partir dos 50 anos. A menopausa é tema de debates, desabafos, peças teatrais e conteúdo de influencers. Identificar o antes, o durante e o depois da última menstruação não é tarefa fácil e muitas vezes os sintomas podem ser confundidos com doenças. A menopausa, para algumas, pode representar um período que só é percebido quando finda o ciclo menstrual. Para outras, é simplesmente gabaritar os sintomas, como revelou a apresentadora Angélica na Bienal do Livro no Rio de Janeiro.
O assunto pode ainda ser tabu em uma sociedade em transformação, sendo a informação a melhor forma de identificar as etapas. Entre o climatério, pré-menopausa, menopausa e pós-menopausa, vários são sintomas provocados pela alteração hormonal. A ajuda profissional e da família para lidar com o período é fundamental.
Especialistas indicam tratamentos psicoterapêuticos sempre que houver sintomas depressivos, irritabilidade, labilidade emocional, desânimo, ou sempre que a paciente expressar desejo de tal abordagem. Até em função do relacionamento, que pode ficar abalado caso não se tenha confiança em abrir o jogo para o parceiro. “É necessário lembrar que muitas das alterações apresentadas têm fundo hormonal, e não devem ser interpretadas como ‘impaciência’, ‘mudanças de personalidade’. Tolerância e empatia são muito importantes ao lidar com pacientes nessa fase”, diz a ginecologista e obstetra, pós-graduada em Ginecologia Endócrina, do Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE/Ebserh), Camilla Dolinsky Macchi.
Para a psicóloga Martha Costa, as mulheres acabam buscando ajuda porque elas não se reconhecem nesse momento. “Começa com o climatério, mais ou menos dez anos antes de menopausar. Nesse período, as menstruações começam a ficar irregulares e uma série de questões começam a aparecer”, esclarece. A especialista aponta que há casos em que o parceiro não entende a situação, pois a própria companheira passa a notar mudanças que incluem o processo de aceitação e de luto. “Na verdade, até então é quase 100% de juventude, e que nessa fase começa a decair”.
Martha destaca a importância do acompanhamento do ginecologista na questão da reposição hormonal para ajudar tanto no período do climatério, quanto nas questões do sono. “Um outro fator importante é o desconforto na relação sexual, sendo que o tratamento adequado pode resolver”. Da mesma forma com o humor, sendo que às vezes se associa à indicação de um antidepressivo. “Compreendendo essa fase, aceitando e buscando os recursos necessários, dá para viver uma boa parte da juventude, porque a velhice ainda não chegou, e poder ter uma vida saudável, apesar de algumas coisas não estarem mais como antes e, claro, respeitando seus limites”, conclui.
Mito ou verdade
A ginecologista, obstetra e cirurgiã ginecológica, mestre em saúde e comportamento pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel), Clarissa Lisbôa Arla da Rocha, desvenda alguns mitos e verdades sobre o período da menopausa. Com atuação no Núcleo de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Universitário São Francisco de Paula (HUSPF), esclarece certas dúvidas que toda mulher deve ter, mas não tem coragem de perguntar. Ela explica que menopausa é uma data que se dá um ano após a última menstruação. Já o climatério é uma fase que se tem o início da falência ovariano que gera alterações hormonais e consequentemente sintomas que podem aparecer antes ou depois da menopausa.
A menopausa altera o sono?
Com a queda dos hormônios estrogênio e progesterona, muitas mulheres passam a ter dificuldades para dormir. É comum relatar insônia, sono leve ou despertares noturnos, especialmente quando os fogachos (ondas de calor) ocorrem durante a noite.
A menopausa altera o humor da mulher?
As oscilações hormonais afetam neurotransmissores ligados ao humor, como a serotonina. Por isso, é frequente observar irritabilidade, tristeza, ansiedade e até quadros depressivos leves. Também o impacto das mudanças físicas e emocionais pode contribuir para essas alterações.
A menopausa faz aumentar o peso corporal?
A redução hormonal leva à diminuição do metabolismo e à redistribuição de gordura corporal, tendendo a se concentrar mais na região abdominal. A massa muscular também reduz com a idade, favorecendo o ganho de peso, especialmente se não houver ajustes na alimentação e prática de atividade física.
A mulher pode engravidar estando na menopausa?
Quando houver a menopausa estabelecida a mulher não ovula mais, ou seja, não há como engravidar naturalmente. No entanto, durante o climatério (fase de transição que antecede a menopausa), ainda pode ter ovulação esporádica, o que exige cuidados contraceptivos até que a menopausa esteja confirmada.
Para identificar
Das perguntas que toda mulher deve se fazer quando chega nesse período, a ginecologista e obstetra do HE, Camilla Macchi, responde algumas.
O que é a menopausa?
É o término da vida menstrual da mulher. Chega-se a esse diagnóstico após um ano da última menstruação natural da paciente.
Está ocorrendo cada vez mais cedo?
Não; a média de idade da menopausa na população brasileira é 51 anos.
O que vem antes dela? E como a mulher percebe que está nesse período?
Antes da menopausa vem a transição menopausal, ou climatério. A paciente pode perceber alterações menstruais, como aumento de fluxo, ciclos irregulares, e outros sintomas como ondas de calor.
Quais os exames devem ser feitos?
Não é obrigatório que sejam feitos exames para o diagnóstico de menopausa, mas deve-se manter a rotina ginecológica em dia – realização de citopatológico de colo uterino, mamografia, entre outros.
Quais os principais sintomas?
Ondas de calor (principalmente à noite), irritabilidade, sintomas depressivos, falta de energia, dificuldade de perda de peso, alterações menstruais, queda da libido entre outros.
Durante a menopausa pode ter algum ciclo menstrual? Por quê?
Não é esperado que a paciente tenha sangramentos após o diagnóstico de menopausa. Caso haja sangramentos, é importante procurar atendimento médico e realizar a investigação necessária.
Precisa fazer reposição hormonal? Por quanto tempo?
A reposição hormonal não é obrigatória, mas pode ser um tratamento muito eficaz para melhorar as ondas de calor. Deve ser usada pelo menor tempo possível, enquanto houver necessidade.
A menopausa pode causar algum risco à saúde?
Não necessariamente, mas é importante manter acompanhamento médico, pois ao longo dos anos de pós-menopausa pode haver aumento do risco cardiovascular e risco de osteoporose.
Por que é importante nessa fase a mulher fazer o acompanhamento médico?
A rotina de exames e consultas médicas é importante para prevenir doenças e fazer diagnósticos precoces. Diversas doenças são silenciosas, e podem apresentar sintomas apenas em fases mais avançadas.
Se não fizer, pode causar algum problema no útero?
Não realizar reposição hormonal não causa danos à saúde; como toda medicação, ela tem seus riscos e seus benefícios, assim como suas indicações e contraindicações.
Durante a menopausa pode ter algum ciclo menstrual? Por quê?
Não é esperado que a paciente tenha sangramentos após o diagnóstico de menopausa. Caso haja sangramentos, é importante procurar atendimento médico e realizar a investigação necessária.
Uma dica, por Clarisse Rocha:
Os sintomas mais frequentes na menopausa são os fogachos (calorões) que muitas vezes são acompanhados de sudorese e ou rubor facial. Esses episódios são causados pela diminuição dos níveis de estrogênio e sendo variáveis de frequência e intensidade, dependendo de cada mulher (algumas “sentem” muito, outras nem tanto e outras podem não apresentar sintoma algum. Muito individual). O tratamento é a reposição hormonal. Para as mulheres que não podem e/ou não querem fazer reposição, temos também tratamentos não hormonais, fitoterápicos e associação, muitas vezes, de suplementos. Lembrando que qualquer tipo de escolha de tratamento vai depender da adaptação de cada mulher, necessitando muitas vezes de associações, ajustes ou troca do mesmo.
Para deixar de ser tabu
A consultora Comercial, jornalista Cíntia Daniela, 50, decidiu usar o Instagram para compartilhar o período que vem enfrentando juntamente com os sintomas. Situações que poderiam estar ligadas ao estresse do dia a dia, dificilmente poderiam ser associadas ao climatério se Cíntia não fosse em busca de apoio médico e da família. “Vai chegar o momento de passar por essa fase hormonal e por que não falar. Eu tive os sinais em fevereiro de 2024, com o meu emocional tendo uma queda muito grande. Tive perda de libido, e conversando com meu marido – o que é fundamental a parceria para enfrentar essa fase -, na mesma hora marquei consulta com meu médico”, relata.
A decisão da consultora em ver o que estava acontecendo com seu corpo está atrelada à vida ativa que leva, sem perceber que a idade biológica dá sinais do envelhecimento. “Temos um time muito rápido para tudo e a gente não se dá conta que a idade chega para todo mundo. O hormônio da menopausa vai bater na porta de todo mundo, obviamente.” Depois da consulta e de passar por uma série de exames descobriu que estava em pré-menopausa que precede do climatério. “Hoje eu estou na pós-menopausa e bem, pois no início decidimos (ela e o profissional da saúde) pelas vitaminas, por eu ter disposição para nódulos, o que impede a reposição hormonal”, explica.
A proposta de Cíntia levar esse assunto para as redes é pela importância no entendimento para as mulheres atravessarem esse período bem, encarando todos os sintomas, com acompanhamento médico e, principalmente, com apoio da família. “Cada mulher tem um tipo de organismo e o corpo responde de maneiras diferentes a essa transição”, comenta. Um exemplo citado por ela é que por não fazer o tratamento adequado, acabou enfrentando problemas de saúde. Desde então, ela leva para seu @cintia_daniela, depoimentos, relatos na busca de ajudar outras mulheres.
Políticas públicas
Tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei 4504/24 que institui a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde e Qualidade de Vida de Mulheres na Menopausa. O objetivo é promover, assegurar e integrar ações voltadas à saúde física, emocional e social das mulheres na fase da menopausa e climatério, garantindo mais qualidade de vida.
A proposta prevê:
- prevenir e tratar os sintomas e condições associadas à menopausa, como osteoporose, doenças cardiovasculares e alterações emocionais;
- ampliar o acesso a medicamentos, terapias e exames necessários para mulheres na menopausa, sem ônus para as usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS);
- estimular a criação de programas de apoio psicossocial e grupos de acolhimento para mulheres na menopausa;
- executar ações educativas em instituições de ensino e comunidades para promover uma cultura de respeito e conscientização; e
- implantar medidas no ambiente de trabalho, como suporte psicológico, para acolher mulheres na menopausa.