A chuva que toma conta do Estado reforça o otimismo de 27 famílias da agricultura familiar da Zona Sul contempladas com as cisternas de geomembrana. Com capacidade de armazenar 60 mil litros, a ferramenta que permite reservar água da chuva para ser utilizada em período de estiagens, só não garante um alento para esses trabalhadores, como estimula o aumento da produção.
Os equipamentos são fornecidos através do Programa Irriga + RS: Avançar, em parceria com a Emater e os municípios que demonstraram interesse. Os pequenos agricultores e produtores rurais precisam dar uma pequena contrapartida, mas que compensa os anos de perdas de lavouras em função dos efeitos climáticos.
Na Zona Sul, nove municípios aderiram ao programa que fornece três cisternas por cidade, ao custo de R$ 21 mil cada. No total do Estado, foram 135 municípios participantes, totalizando 419 produtores rurais beneficiados.
Esta semana, o Departamento de Infraestrutura e Usos Múltiplos da Água (Dinfra), da Secretaria de Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação, deu início a uma série de visitas de fiscalização nessas localidades para ver de perto como o recurso está sendo empregado.
As visitas a 19 famílias serviram também para fazer alguns ajustes de equipamentos, análises da estrutura e conhecer a realidade de cada uma. A equipe foi a campo com extensionistas da Emater, responsáveis pelos projetos.
O engenheiro agrônomo do Dinfra, André Borba Afonso, especialista em infraestrutura, esteve em Morro Redondo, Herval, Arroio Grande e Cerrito. Neste último município, o servidor conheceu uma cisterna de geomembrana, construída há quase 20 anos por iniciativa própria para a manutenção de um aviário que abastecia a Cosulati.
“Atingimos o principal objetivo ao constatar que não houve perda por evaporação com esse material, além da durabilidade da lona”, diz Afonso ao testar a textura de uma lona instalada em 2006. “A parte interna está íntegra, a água se manteve. Além de ficar protegida dos animais”, observa.
Demanda em ascensão
André observa que a demanda de recursos para reservação de água vem crescendo ao longo dos anos e a prova está nos projetos apresentados pelos Coredes na Consulta Popular. “A cisterna não é uma tecnologia nova, mas ela foi abandonada por a gente usar aquela velha máxima: ‘só nos lembramos de Santa Bárbara quando troveja’, isso é algo cultural”, salienta. O agrônomo lembra que as mudanças climáticas estão aí e servidores, técnicos, administradores de municípios e as próximas gerações precisam saber enfrentar.
Para o Estado, a fiscalização é fundamental, segundo Afonso, pois como se trata de convênio, o recurso público é enviado ao município que executa o serviço e envia um relatório com a prestação de contas. “Então nosso papel é ver se o serviço foi executado conforme foi estipulado e determinado pelo projeto técnico – onde entra o trabalho da Emater – a qualidade, se foram atendidos os requisitos e, caso necessário, fazer alguns ajustes”, explica o engenheiro.
Além disso, o servidor considera que essa fase aproxima a Secretaria, municípios e principalmente os beneficiados, construindo melhores políticas públicas.
Produção e comercialização
O extensionista da Emater, Fernando Luiz Horn, conhece palmo a palmo as regiões visitadas e sabe a importância das cisternas para a manutenção das famílias e das próximas gerações no campo. Ele lembra que a água da cisterna não pode ser consumida diretamente.
“Mas ela vem suprir o volume de água para pequenas criações na volta da casa, de aves, de suínos, uma pequena horta, um pequeno pomar, limpeza da casa, algum outro material que necessite limpeza, até água para o sistema de descarga nos vasos sanitários”, esclarece.

Produtores relatam série de perdas nos últimos anos. (Foto: Cíntia Piegas)
A reserva de água irá permitir que essas famílias possam projetar melhor suas culturas, e assim, aumentar a renda com a participação nos programas dos governos que comercializam os alimentos. A maioria dos beneficiados participa do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae).
Esperança que bate na porteira
Por falar em abastecimento, a produtora Eva Mariza Leão da Conceição, 62, já planeja trocar o local em que cultiva morangos e trazê-lo para próximo da cisterna. Na sua área, no interior de Arroio Grande, ela cultiva ainda alface, couve, beterraba, entre outros alimentos que vão direto para a merenda escolar da região.
A chegada do equipamento representa segurança, pois em 2024, foram só prejuízos com a safra do fruto. “Secou o açude e perdemos quase tudo. Estamos bastante esperançosos, ainda mais que está chovendo bastante. Acho até que vou aumentar a área plantada”, comenta.
Cidades que aderiram ao Avançar
- Amaral Ferrador
- Arroio do Padre
- Arroio Grande
- Canguçu
- Herval
- Morro Redondo
- Pelotas
- Pinheiro Machado
- Rio Grande