“Os butiazais simbolizam resistência, beleza e conexão com as raízes do território”

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“Os butiazais simbolizam resistência, beleza e conexão com as raízes do território”

Rosa Lia Barbieri - Pesquisadora da Embrapa Clima Temperado

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“Os butiazais simbolizam resistência, beleza e conexão com as raízes do território”
Lia é responsável pela Rota dos Butiazais.

Pesquisadora da Embrapa Clima Temperado, Rosa Lia Barbieri é uma das principais articuladoras da Rota dos Butiazais — rede internacional que conecta Brasil, Uruguai e Argentina na valorização do butiá e na conservação dos ecossistemas onde a palmeira nativa ainda resiste. Com formação acadêmica em Genética e Biologia Molecular, e experiência nas áreas de botânica, recursos genéticos vegetais e agrobiodiversidade, Rosa faz o elo entre saberes científicos e tradicionais. Para saber mais sobre a Rota dos Butiazais, acesse rotadosbutiazais.com.br.

Como nasceu a ideia de criar a Rota dos Butiazais e qual foi seu papel nesse processo?

A ideia nasceu como estratégia para valorizar e proteger os remanescentes de butiazais do Sul do Brasil, integrando conservação da biodiversidade com desenvolvimento sustentável. Teve como base os resultados de pesquisa científica desenvolvida anteriormente pela Embrapa Clima Temperado, e contou com a parceria de várias instituições de ensino e pesquisa, ONGs, e iniciativas privadas. Surgiu a partir da percepção de que os butiazais, além de abrigarem uma rica diversidade biológica, possuem valor cultural, histórico e econômico para as comunidades locais. Meu papel foi o de articular diferentes atores — pesquisadores, produtores, artesãos, ambientalistas, consumidores e gestores públicos — para construir uma rede, que alia conhecimento científico, saberes tradicionais, uso sustentável e conservação dos ecossistemas de butiazais.

O que torna os butiazais tão importantes do ponto de vista ambiental e cultural?

Do ponto de vista ambiental, os butiazais são ecossistemas remanescentes que abrigam grande diversidade de fauna e flora, desempenhando papel essencial na conservação do campo nativo e das paisagens naturais do sul do Brasil. Eles oferecem abrigo e alimento para diversas espécies, além de contribuírem para a proteção do solo e dos recursos hídricos. Quanto à cultura, os butiazais são parte da identidade das comunidades locais, representando tradições, histórias e modos de vida que se refletem na gastronomia e no artesanato.

O que o butiá e os butiazais representam para você, pessoalmente?

Os butiás são um produto da nossa biodiversidade que tem sido muito pouco utilizado. São ricos em vitaminas, minerais e compostos antioxidantes, e deveriam fazer parte rotineira da nossa alimentação, no preparo de receitas salgadas e doces. Os butiazeiros são palmeiras nativas que estão adaptados às condições do ambiente no Sul do Brasil e toleram as mudanças climáticas. Para mim, os butiazais simbolizam resistência, beleza e conexão com as raízes do território. São fonte de inspiração, de afeto e de compromisso. Trabalhar pela valorização dos butiazais é, ao mesmo tempo, um ato de amor pela natureza e de respeito pelas pessoas que vivem e constroem sua história junto a essas paisagens.

O que ainda falta para garantir a conservação dos butiazais no Brasil?

No Rio Grande do Sul temos oito espécies botânicas de butiá, todas elas ameaçadas de extinção. É necessário ampliar o envolvimento das comunidades locais, fortalecendo atividades econômicas sustentáveis, como o turismo de base comunitária, o manejo dos frutos e o artesanato, como forma de promover a conservação pelo uso. Além disso, é fundamental investir em pesquisa, educação ambiental e conscientização, para que mais pessoas compreendam o valor dos butiás e dos butiazais e se mobilizem para sua conservação.

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