“A gente luta para que a pessoa autista não seja esquecida depois que cresce”

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“A gente luta para que a pessoa autista não seja esquecida depois que cresce”

Pâmela Gonçalves, mãe atípica e fundadora do coletivo “Autistas Crescem”

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Atualizado segunda-feira,
16 de Junho de 2025 às 10:41

“A gente luta para que a pessoa autista não seja esquecida depois que cresce”

Uma das principais preocupações de uma mãe quando recebe o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) é quanto ao futuro do seu filho, as batalhas que enfrentarão juntos e como ele será acolhido pela sociedade. Com o passar do tempo, estas barreiras ganham novos contornos e acompanham o desenvolvimento da pessoa autista.

Foi por conta da vivência pessoal e para auxiliar outras mães atípicas que a psicóloga e mãe do Gilberto, Pâmela Gonçalves, fundou, em Rio Grande, o coletivo Autistas Crescem. Com início pelas redes sociais em novembro de 2012, o grupo conta hoje com 175 pessoas e é referência na organização de ações de conscientização.

Qual situação te levou a criar o coletivo?

“O Giba é um autista não verbal, ele faz 18 anos em setembro. Foi por conta dele, e é por conta dele que eu estou nessa luta, que eu sou ativista na minha causa. Eu fui percebendo enquanto ele foi crescendo e ouvindo de outras famílias a dificuldade de políticas públicas, terapias, de profissionais capacitados para trabalharem com a pessoa com deficiência – nesse caso com autismo – depois que ela cresce. Quando eu criei a página no instagram, minha ideia era compartilhar com todos o crescimento do meu filho enquanto pessoa autista e que ele pode estar em todos os lugares. O primeiro diagnóstico que recebi de um médico era que eu tinha que levar meu filho pra casa e ‘esperar a vida passar’ e não é o que eu queria para ele e não quero para nenhuma outra mãe e filho atípico. Isso me levou a querer encontrar essas pessoas e ajudar, porque sei que não fui só eu que ouvi isso”.

De que forma enxergas que as atividades que estão sendo realizadas impactam na comunidade?

“Quando o meu filho era pequeno, eu costumava dizer que ‘saía de casa armada’. Se eu visse uma pessoa olhando com reprovação para ele em um momento de crise, por exemplo, eu já discutia. Hoje não, entendo que as pessoas tem estranhamento com o que não conhecem e convivem, então as nossas ações são direcionadas para a conscientização dos diferentes graus de autismo, da necessidade de exigir ações que realmente façam a diferença por parte do poder público e auxílio das outras mães que precisam da gente.

Quais são as principais demandas que chegam até o Autistas Crescem através das mães atípicas?

Com o desenvolvimento de um filho, sendo ele atípico ou não, passamos por diversos tabus como mães e isso ninguém nos ensina. Então estamos ao lado dessas mães para que elas conheçam seus direitos e auxílios, conseguimos comida, remédios, tudo o que pode faltar para uma família. A gente luta para que a pessoa autista não seja esquecida depois que cresce. Além disso, o adoecimento de nós, mães atípicas, é uma das principais demandas. Nós ficamos muito cansadas e sobrecarregadas e, por vezes, guardamos a nossa dor para acolher a dor de outra mãe atípica. Choramos com ela, pois sabemos o quão difícil é ter que ser forte pelos nossos filhos”.

Como a tua relação com o Giba foi influenciada pelo coletivo?

“Eu pude entender que meu filho tem sua personalidade. Ele é um sujeito, é autista e é adolescente, então tem seus gostos e aprendo com ele. Todas as minhas vivências com o Giba me mostraram o quanto preciso mostrar para a sociedade que ele existe e que vou ir atrás de todos os direitos dele. Através do coletivo eu fiz um pedido na Câmara dos Vereadores para ser feito o Dia da Manhã Típica, que é comemorado anualmente 15 de maio a partir deste ano, para dar visibilidade à nossa luta e ao nosso adoecimento psíquico.  Por conta da minha luta e do Giba, estou na vice-presidência da Associação Filantrópica Dom de Deus para Famílias Atípicas e represento Rio Grande no Movimento Orgulho Autista do Brasil”.

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