A inflação registrou em maio o menor avanço desde janeiro, trazendo alívio ao bolso do consumidor, especialmente na alimentação. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado nesta semana, subiu 0,26% no mês — uma desaceleração frente aos 0,43% de abril e bem abaixo da expectativa de mercado, que projetava alta de 0,34%.
A principal contribuição para esse marco veio do grupo Alimentação e Bebidas, no qual a variação positiva de 0,17% representou o menor aumento desde agosto do ano passado. Entre as principais quedas estão o tomate – recuo de 13,52% –, o arroz (4%), o ovo (3,98%) e as frutas (1,67%). No acumulado do ano, o IPCA soma alta de 2,75%, e em 12 meses está em 5,32%, ainda acima do teto da meta de inflação do Banco Central, que é de 4,5%.
Ricardo Aguirre Leal, economista da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), garante que é preciso ter cautela quanto ao resultado do setor alimentício. “A redução do IPCA resulta de uma combinação de fatores, incluindo a taxa de juros em nível elevado, que vem freando a demanda, além de aspectos sazonais e choques anteriores que começam a perder força”, explica.
Apesar do bom desempenho dos alimentos, o grupo Habitação puxou a inflação do mês, com alta de 1,19%, reflexo direto do aumento de 3,62% na conta de luz devido à bandeira tarifária amarela, que adicionou R$ 1,885 a cada 100 kWh consumidos. Em junho, o cenário tende a se agravar, com a vigência da bandeira vermelha patamar 1, que impõe custo extra de R$ 4,46 para o mesmo consumo.
Outro ponto positivo do IPCA de maio foi a queda na difusão da inflação, indicador que mede o quanto os aumentos de preços estão espalhados entre os produtos e serviços. O índice recuou de 67% em abril para 60%, indicando que o avanço dos preços está concentrado em alguns segmentos e não generalizado.
Futuro da Selic
Com a inflação mostrando sinais de desaceleração, as atenções agora se voltam à próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para a próxima semana. A dúvida entre economistas é se o Banco Central encerrará o atual ciclo de alta da taxa básica de juros (Selic), hoje em 14,75% ao ano, ou se promoverá um novo aumento de 0,25 ponto percentual.
O economista da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), Eduardo Tillmann, garante que a resposta mais provável neste momento é a manutenção da taxa nos níveis atuais e redução no segundo semestre. “Essa inflação tendo vindo abaixo do esperado é um sinal positivo, primeiro que o governo está tomando as medidas corretas e segundo que talvez se isso se mantiver dessa maneira talvez possibilite que a gente tenha uma redução da taxa Selic”, explica.
Para Aguirre, “apesar da recente desaceleração da inflação, o índice acumulado em 12 meses ainda está acima do teto da meta, que é de 4,5%”, o que deve fazer com que o Banco Central mantenha a taxa de juros por mais alguns meses.
Tillman também chama atenção para a necessidade de análise em série, não apenas pontual. “É um valor positivo essa desaceleração, mas tem que analisar e identificar realmente se é parte da política [monetária] que já está fazendo efeito ou são mais questões sazonais de mercado que nesse mês acabou influenciando para que reduzisse a inflação”, argumenta.
Estabilidade
De acordo com a última pesquisa Focus, divulgada pelo Banco Central, a expectativa dos analistas é que a inflação termine o ano em 5,44%, com a Selic mantida no patamar atual. A curva de juros futuros também indica maior probabilidade de estabilidade na próxima reunião, reforçando a leitura de que o BC deve esperar mais sinais consistentes antes de iniciar uma flexibilização monetária.