Os Saraivas completam 30 de carreira como patrimônio cultural de Pelotas

Reconhecimento

Os Saraivas completam 30 de carreira como patrimônio cultural de Pelotas

Grupo musical conhecido por sucessos autorais como Aquele Olhar e Não perca a fé é homenageado pelas contribuições à cultura da cidade

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Os Saraivas completam 30 de carreira como patrimônio cultural de Pelotas
Fábio (E) e Felipe (D) começaram a carreira musical com apresentações em rodas de samba e festas de Pelotas ainda na adolescência. (Foto: Gabriel Leão)

Os irmãos Fábio e Felipe Saraiva completam 30 anos de dedicação ao samba com motivo duplo para a comemoração. A banda Os Saraivas, fundada por eles, foi declarada Patrimônio Histórico e Cultural Imaterial da cidade de Pelotas. Com mais de quatro mil apresentações na carreira, os músicos são conhecidos por embalar o público com releituras para o samba de grandes hits de estilos variados e pelos sucessos autorais como Aquele olhar e Não perca a fé.

A dupla começou na carreira musical antes mesmo de atingir a maioridade. Inspirados pela mãe, cantora no início dos anos 90, Fábio com 16 anos e Felipe com 12 deram os primeiros passos nos palcos de festas e em rodas de samba dos bares da cidade. Devido à idade, as apresentações em locais como Samba e Seresta, Refinaria do Samba e Cervejaria Porto Seguro eram acompanhadas pela musicista matriarca da família, Tânia Bernardes.

Fábio conta que nesta fase as apresentações eram mais por diversão e aprendizado. Somente quando entrou o primeiro cachê os irmãos decidiram fazer da música uma profissão. “Em 1995 nós começamos a tocar, mas sem nenhum objetivo de fazer música profissional, mas nunca mais paramos”, diz Fábio.

De apresentações esporádicas, os irmãos passaram a integrar algumas bandas da cidade como músicos de apoio. Graças à experiência de palco conquistada em pouco tempo e ao reconhecimento do talento vocal da dupla, Fábio e Felipe receberam o convite para atuar como cantores pela primeira vez no grupo Para Todas as Raças. Já em 2003, oito anos após estrearem na música, nasceu a primeira banda comandada por eles: a Fábio Saraiva e Banda.

Com Fábio no cavaco, Felipe no pandeiro e o talento vocal de ambos, os irmãos estavam prontos para iniciar uma nova etapa na carreira musical. Dos palcos de Pelotas, a agenda de shows da banda foi expandindo para diversas cidades do Rio Grande do Sul e até para outros estados.

Talento com a versatilidade do samba

Influenciados por talentos pelotenses como o músico e compositor Solon Silva, o grupo de choro Regional Avendano Junior e referências nacionais como as bandas Raça Negra e Só Pra Contrariar (SPC), os Saraivas interpretam diferentes tipos de samba. “Não só o samba raiz, mas também fazemos nos nossos shows releituras de músicas que fizeram muito sucesso em outros estilos e trazemos para o samba. Tipo botar o sertanejo em ritmo de samba”, explica Fábio Saraiva.

Felipe Saraiva ressalta que a combinação da releitura de clássicos com o repertório de samba e pagode — fórmula que hoje faz sucesso em grupos como o Menos É Mais — já era explorada pelos irmãos e agitava o público desde o final dos anos 1990. “Então o show dos Saraivas é bem dinâmico, é um show dançante, bem para cima”, diz sobre a característica considerada uma das mais marcantes da banda.

Os Saraivas também são conhecidos pelas canções autorais. Com o refrão: “Aquele olhar que eu cruzei com você lá no salão. Eu sem querer senti, não é em vão, um tipo de amor que é sem saída”, a música Aquele Olhar é uma das mais pedidas pelo público. Outro sucesso marcante na carreira dos irmãos é Não perca a fé, música que deu nome ao DVD da banda, gravado no Dunas Clube em 2012.

O show contou com a participação do Nenhum de Nós e de músicos da banda de Zeca Pagodinho — uma realização que, para os Saraivas, simbolizou o reconhecimento e a consolidação de sua carreira. “Porque naquela época a gravação de um DVD era um feito”, diz Fábio Saraiva.

“O sucesso vem da continuidade”

Segundo os Saraivas, completar 30 anos de carreira ininterrupta cantando e tocando samba no Rio Grande do Sul é uma conquista marcada por muitos desafios. Pois embora Pelotas seja reconhecida por sua diversidade cultural e valorização da música, ultrapassar as fronteiras da cidade exige muitos anos de dedicação. “Com certeza nesses 30 anos tiveram horas que tu pensa em desistir, mas graças a Deus foram fases que já passaram”, diz Felipe.

Já Fábio completa que “o sucesso vem da continuidade. Arriscar e fazer música com o coração é o que mais nos deixa feliz”. Conforme os irmãos, outro fator para a consolidação na música é a versatilidade. “É o conjunto da obra, tanto na parte instrumental, eu como cavaquinista e o Felipe como pandeirista, quanto na parte vocal, também casamos muito bem”, destaca Fábio.

Embora a segunda voz, mais grave, geralmente fique a cargo de Felipe, os irmãos são flexíveis e se revezam conforme a música. “Não é à toa, é o laço sanguíneo, é musical mesmo, vem de berço”, diz Fábio. O talento é aliado ao aperfeiçoamento. Além de tocarem múltiplos instrumentos, os irmãos buscam melhorar constantemente o trabalho. “A gente tem que buscar o conhecimento sempre, até porque servimos de referência para os novos, toda aquela bagagem que a gente tem dos antigos, quando começamos, fomos aprimorando ao longo do tempo”, diz Fábio.

O irmão mais velho é formado em produção fonográfica e Felipe em um curso de voz do Conservatório de Música de Pelotas. “Fora a maior escola que é a noite, o sereno, como chamamos”, completa Fábio.

Reconhecimento

A partir do projeto de lei do vereador Arthur Halal (PP), no dia 3 de junho, Os Saraivas foram integrados ao Patrimônio Histórico e Cultural Imaterial da cidade de Pelotas pela contribuição à cultura do município. “É uma honra, normalmente a gente recebe esse título quando não está mais aqui, que bom que tivemos esse reconhecimento”, declara Fábio.

“Nos deixou muito honrados e felizes e em breve vamos estar anunciando a solenidade”, complementa Felipe.

Para comemorar os 30 anos de carreira e o reconhecimento pelo município, Os Saraivas irão realizar um show aberto ao público, em uma data que deverá ser divulgada em breve. Atualmente, a banda é formada por sete músicos. “O samba tem disso, é o tantan, o surdo, a bateria, o pandeiro, o cavaco, o violão. Tudo acaba em samba”, conclui Fábio.

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