Quando fundou a Pressing Performance (@pressingperformance no Instagram), empresa de consultoria tática individualizada para atletas de futebol, Vinícius Guerreiro mudou o rumo da carreira. Após anos no jornalismo esportivo, o pelotense se capacitou para atuar em outra área. Desde 2022, mais de 80 jogadores e dois clubes – Brasil e Union Titus Pentage, de Luxemburgo – já investiram no trabalho da Pressing. Entre eles Rafael Borré, atacante da seleção colombiana e do Internacional. Ontem foi anunciado um novo cliente, o meia Caio Vitor, do Náutico.
Como surgiu o teu gosto pelo lado tático do futebol e consequentemente pela análise de desempenho?
Foi uma consequência natural do meu olhar para a tática do jogo. Desde pequeno sempre fui fascinado por olhar a distribuição do time, na época olhava mais as plataformas – 4-4-2, 4-3-3, gostava de ir observando os times e anotando isso. Sempre gostei de ouvir comentaristas falando sobre essas questões. A análise de desempenho entrou quando eu estava no primeiro ano de faculdade e fiz um curso com o [Eduardo] Cecconi, que depois virou analista do Grêmio, de análise tática e jornalismo esportivo. E a partir dali tudo que eu direcionei com o meu trabalho como jornalista foi visando o futebol, com coberturas e reportagens, mas sempre tentando olhar para um viés tático. Todas as minhas tomadas de decisões em relação a minha profissão como jornalista esportivo foram voltadas para isso. Até chegar o momento de decidir sair do jornalismo esportivo de vez para entrar no mundo do futebol.
Estudando e se aprofundando em diversos aspectos do futebol, o que mais tu aprendeu ao longo dessa jornada?
Que o jogo é muito complexo porque não tem como separar parte técnica individual da parte coletiva da equipe, coletiva do adversário, individual do adversário e física e mental do atleta e do contexto em que ele está inserido extracampo. E isso é inseparável porque tu consegue ver um comportamento do atleta. Por que ele não perfilou certo o corpo, por que ele demorou a mapear, por que às vezes ele não conseguiu um domínio. Muitas vezes isso reflete a parte mental, a parte da postura corporal correta dele em campo, e o movimento do companheiro dele e do adversário. O meu olhar é para o detalhe do detalhe, um refino desse detalhe. É entender o porquê do atleta não ter feito aquele movimento naquela situação ou por que não tomou aquela decisão a partir de todas essas observações. Por isso que o trabalho é tão complexo e se torna uma rotina de afinidades com o atleta.
Como é a rotina com os atletas que são teus clientes?
O básico é uma reunião sempre pré e pós-jogo. A gente aborda a última partida, o que ele fez de positivo e o que precisa melhorar. Por que nessa situação ele poderia ter acelerado, achado um passo de ruptura, poderia ter feito uma leitura melhor da linha para ter achado um passe de último terço ou que ele poderia ter se posicionado melhor para uma abordagem defensiva, até a questão dos debates táticos. Do que a equipe não fez, do que o companheiro dele não fez que afetou algum movimento que ele fez certo, são ‘n’ situações. Para um atacante a gente foca muito na defesa. Dou o exemplo desse último jogo do Inter da Libertadores junto com o Borré, que a gente sabia das características diferentes de cada zagueiro [do Bahia] e o que ia acontecer em determinada situação. Naquele gol que ele faz, por exemplo, a gente sabia que a bola chegava do lado, os dois zagueiros abriam intervalo, o zagueiro da esquerda [Ramos Mingo] é um cara que não pega referência física. Apesar de ter uma postura corporal boa e uma referência visual, ele não encostava, então qualquer ‘dois movimentos’, principalmente trazendo para ganhar as costas na corrida em diagonal, o atacante ia ter vantagem. E o Borré conseguiu ler e executar isso muito bem, por isso ele acaba fazendo o gol. Obviamente é mérito total do atleta por ter essa inteligência, mas a gente faz esse acompanhamento.
De que maneira se evita a interferência do teu trabalho no modelo de jogo do treinador dos atletas?
Não existe nenhum conflito porque o nosso trabalho é auxiliar para que o atleta tenha repertório e conhecimento de mais comportamentos. Ele entende melhor a ideia do treinador e a partir disso tem mais repertório para se comunicar com os companheiros, fazer os movimentos, trocar ideia com a comissão. Ao longo dessas quatro temporadas da empresa, a gente acabou formando vários capitães porque eles conseguiram ter mais repertório para trocar ideia sobre o jogo, ter liderança dentro de campo ou movimentos, o que consolida eles como entendedores do jogo. Isso as comissões técnicas valorizam.