Um bom assunto para discutir na escola e em casa, com os filhos: o resultado da recente pesquisa promovida pela British Standards Institution (BSI), sobre como os jovens entre 16 e 21 anos se percebem quando passam o tempo na internet. Sete em cada dez disseram se sentir pior e 50% são a favor, em razão disso, de viver com um “toque de recolher digital” para restringir o acesso após as 22h. Outro percentual do levantamento também chamou a atenção: 46% gostariam de ser jovens em um mundo sem a internet em suas vidas.
Há uma mudança em curso. Vivemos hoje, reconhecidamente, um cenário mundial de vício-dependência dos aparelhos celulares. Os jovens são os mais afetados, a ponto de dormirem com seus smartphones ao lado do travesseiro, num ciclo de conexão que dura quase 24 horas. O impacto é a dependência mental à tela e às infinitas publicações oferecidas sem filtro, controle, qualidade, direção e conteúdo relevante. Acessa-se a tudo a todo momento, sem dar tempo para os olhos e o cérebro relaxarem.
A pesquisa da BSI é para ser comemorada porque pode mostrar o início do esgotamento de uma fórmula danosa à vida em sociedade no ano de 2025. São os próprios adolescentes que começam a perceber a existência do mundo físico à sua volta, onde as interações são verdadeiras e feitas entre pessoas reais, de diferentes idades, com desafios e causas concretas.
Na Europa, por ironia, a internet é usada para ajudar no processo de desintoxicação. O Offline Club, com mais de meio milhão de seguidores no Instagram, promove a pausa consciente das telas. A ideia dos fundadores – três jovens holandeses – é resgatar a “humanidade” dos indivíduos. Os encontros promovidos pelo grupo têm regras fáceis de seguir: nada de smartphones e laptops. Por algumas horas a interação acontece através de leitura, jogos, atividades manuais ou relaxamento. A proposta começou na Holanda e já se espalha pela Inglaterra, França, Itália, Alemanha e Dinamarca, num processo crescente. Aqui, alguém se habilita?
O movimento e o resultado da pesquisa também mexem com as autoridades. O Reino Unido e a Noruega consideram criar toques de recolher digitais obrigatórios e elevar a idade para o início do uso das mídias sociais. Mas, afinal, deve-se esperar pelos políticos para tanto? Claro que não. Uma conversa franca entre pais e filhos, com a adoção de hábitos saudáveis em relação ao uso dos aparelhos em momentos importantes à vida em família, está ao alcance de qualquer um e pode ser o primeiro passo. Nesse quesito, a proibição do uso de celulares nas escolas em todo o Brasil foi um avanço.
A conscientização é fundamental. Se a internet apresentou benefícios para o mundo, por outro lado, trouxe a reboque problemas de saúde mental, entre eles a depressão e a ansiedade. Gerações inteiras passaram a dormir menos e a desenvolver sintomas associados ao uso abusivo dos aparelhos. Um ciclo negativo que parece ter despertado a reação tão necessária. E o melhor, por iniciativa dos próprios jovens.