Paralisado desde 2020, o projeto para a construção de uma fábrica de pellets de madeira para exportação em Pinheiro Machado deverá ser retomado em até quatro meses, na expectativa da empresa responsável, a Braspell Bioenergia. O início da operação era previsto para 2022. No entanto, o cronograma de implantação da indústria sofreu com os impactos da pandemia e ficou estagnado, até que um novo estudo de viabilidade teve início há cerca de dois anos, de acordo com o vice-presidente técnico (CTO) da empresa, Afonso Bertucci, em entrevista exclusiva ao A Hora do Sul.
Na época de lançamento do projeto, foi anunciado o investimento de R$ 1,4 bilhão. Contudo, com a revisão do projeto em um novo contexto de mercado pós-pandemia, com ações dos chineses no ramo e a perda de base florestal, o valor inicial passou para R$ 300 milhões. Deste valor, segundo Bertucci, 70% está acertado com fundos europeus e os outros 30% provenientes de investidores nacionais, e a empresa tem a expectativa de expandir com novos aportes.
Com relação à documentação, o projeto já tem licença prévia aprovada com a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) e, neste momento, aguarda a licença de instalação que, de acordo com a Braspell, está próxima de ser emitida. Segundo estimativa da Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor), Pinheiro Machado é uma das três cidades com maior área plantada no Rio Grande do Sul, com cerca de 40 mil hectares de base florestal.
Localização e geração de emprego
A indústria será implantada em uma área de 149 hectares, no quilômetro 128 da rodovia BR-293, em Pinheiro Machado. A fábrica estará estrategicamente junto à ferrovia e à rede de transmissão elétrica, na proximidade de pequenos e médios produtores florestais e em uma região considerada como a de maior produtividade do planeta.
A expectativa é que os investimentos em bioenergia movimentem de forma considerável a economia no interior do Estado, impulsionando a geração de empregos e o desenvolvimento de novas tecnologias em cidades do entorno, como Piratini. “A viabilização representa não apenas um marco para a região, mas também um impulso econômico para a cidade, gerando emprego, renda e valorização da nossa produção florestal. Esse projeto fortalece o desenvolvimento sustentável, garantindo que nossa madeira seja aproveitada de forma eficiente e ambientalmente responsável”, destaca a prefeitura de Piratini, em nota.
É esperado também que o empreendimento gere cerca de 800 empregos diretos, com trabalhadores para a indústria, viveiro de mudas, plantio, colheita florestal e transporte. Além disso, 40 produtores florestais serão parceiros da iniciativa privada, com renda garantida.
Unidades menores
Bertucci também afirma que está no projeto o investimento em outras três unidades menores, no entorno da ferrovia que será utilizada para levar os carregamentos até o Porto de Rio Grande, para onde seguirão em direção à Europa.
As usinas serão construídas em Alegrete, São Borja e também em Rio Grande. “Os plantios florestais nestas três cidades permitem um começo menor e com escoamento facilitado pela logística e localização”, garante Afonso.
Mercado
O principal mercado dos pellets consiste no abastecimento de termelétricas. A energia do combustível transfere-se para a água que transforma-se em vapor de alta pressão. O vapor aciona a turbina que aciona o gerador. O gerador magnetiza-se em dois ou quatro polos magnéticos provocando o fluxo de elétrons na rede. As centrais termelétricas, na prática, convertem a energia química contida nos combustíveis através das ligações do carbono em energia elétrica.
O outro mercado significativo está no aquecimento residencial e de condomínios, especialmente nos países do hemisfério norte. Os pellets são viáveis para uso em estufas de aquecimento residencial, com vantagens competitivas em relação à eletricidade, ao óleo e ao gás natural encanado. O mesmo encontra aplicações em aquecimentos de água em condomínios residenciais, hotéis, hospitais e escritórios.
Escoamento da produção
A facilidade no transporte do que será produzido em Pinheiro Machado, em direção ao Porto de Rio Grande, é um dos diferenciais da instalação da primeira planta de pellets na região. O CTO da Braspell Bioenergia destaca a necessidade de melhoria dos trechos férreos e que o projeto de dragagem da Lagoa Mirim seja impulsionado, ao projetar o desejo por expandir as capacidades do empreendimento.
Neste tema, o vice-presidente de Infraestrutura da Federasul, Carlos Bacchieri, reforça a necessidade de se retomarem as rotas que foram desativadas na região e a modernização das ferrovias. Além disso, destaca a preocupação com o que será feito com a Malha Sul. “Nenhum projeto de ferrovia ‘para em pé’ sem o apoio do governo, seja estadual ou federal. Então, enquanto não houver um interesse governamental em relação às ferrovias, nós não veremos andamento. O governo precisa entrar com força nesse modal”, afirma Bacchieri.
A questão que envolve a ampliação das rotas hidroviárias, principalmente em direção ao Porto de Rio Grande, é uma pauta antiga da região sul e que, com a chegada da planta de pellets em Pinheiro Machado, tem-se a expectativa de retomar o debate e impulsionar a conclusão da dragagem da Lagoa Mirim, que está previsto no PAC.
De acordo com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), o edital da dragagem da Lagoa Mirim deve ser publicado no segundo semestre deste ano, com manutenção garantida por cinco anos.
O projeto, que liga o Uruguai ao Brasil por meio da Lagoa Mirim e do Canal São Gonçalo, está sendo negociado pelos dois países desde 1909. O transporte de cargas, por meio da hidrovia, permitirá o escoamento da produção com menor custo econômico e ambiental.