O governo de Pelotas parece estar com um gosto por entrar em crises evitáveis. A postura “contra tudo e contra todos”, adotada principalmente frente à Câmara de Vereadores e à imprensa, dão o tom de uma gestão que preferiu fechar-se e falar para dentro. Essa postura, em todos os níveis de governo, desde os primórdios e em todos os lugares, sempre se mostrou arriscada. Então, soa óbvio que qualquer fator torna-se munição para os opositores. E, diante disso, soa até inocente a maneira como algumas figuras do governo se portam.
O desenrolar da entrevista da secretária de Saúde para um podcast local é o tipo de situação que, em um cenário de crise, cria só mais ranço. É até elogiável, diante de tanto silêncio e comunicação através de notas e respostas frias, alguém se colocar para falar. Mas no momento em que se está sob constante escrutínio de uma oposição que é maioria e está incomodada, é óbvio que qualquer detalhe será usado. Um ente público beber durante a entrevista e dar opiniões sobre religião são aqueles detalhes onde mora o diabo. O fato indica pelo menos uma falta de leitura absurda diante do contexto político da cidade.
Evitar crises é o ponto inicial de qualquer gestão. Os vereadores agora reclamam da liminar que tira obrigação do pagamento de emendas no primeiro semestre. Dizem que sequer houve diálogo para tentar circular a medida. Por outro lado, também ameaçaram constantemente o governo de um processo de Impeachment caso o pagamento não ocorresse, o que deve ter acelerado a busca por uma segurança jurídica.
No entanto, onde está a articulação política, que sequer conversou com o Legislativo? Até onde vai correr solta a crise – que encaminha-se para uma ruptura – entre os poderes? São menos de 150 dias de governo. Faltam 1.313. Se o cenário seguir assim, como fica o desenvolvimento da cidade? Em que momento as pautas prioritárias para a população, como saúde, segurança, emprego, infraestrutura e renda serão discutidas? Pelotas não pode ficar parada em uma eterna briga de egos, potencializada por um tanto de inabilidade de comunicação e articulação política. Se seguir assim, tudo será munição para crise e quem vai sofrer é a população.