Tainha se sobressai em meio à decepção com o camarão

Pesca

Tainha se sobressai em meio à decepção com o camarão

Safra em Pelotas desaponta pela quantidade de crustáceo e pelo preço do pescado

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Tainha se sobressai em meio à decepção com o camarão
A tainha manteve sua presença qualitativa, ainda que com uma queda significativa nos preços. (Foto: Jô Folha)

Com o encerramento da safra marcado para o dia 30 deste mês, a comunidade pesqueira de Pelotas e municípios vizinhos encerra um ciclo repleto de desafios. Entre altos e baixos, os pescadores relatam que, enquanto a tainha apresentou números relevantes gerando, segundo levantamento preliminar da Emater, uma arrecadação de aproximadamente R$ 29 milhões na região sul, o camarão ficou marcado por expectativas frustradas.

Segundo relatos de representantes como Sérgio Luis de Andrade, da Colônia de Pescadores e Aquicultores Profissionais Artesanais de Pelotas, a safra do camarão foi um verdadeiro revés. “A expectativa era grande, mas o camarão foi uma safra frustrada”, enfatiza Andrade.

Diversos fatores contribuíram para esse cenário negativo. As condições climáticas adversas, como enchentes que demoraram para permitir a salinização adequada da água, favoreceram o acúmulo de resíduos e lama na lagoa, impactando diretamente a qualidade e a quantidade do camarão. Em contrapartida, a tainha, espécie que sempre compõe o cardápio do pescador, manteve sua presença qualitativa, ainda que com uma queda significativa nos preços. Segundo Sérgio, o valor da tainha, que no ano anterior alcançava até R$ 4,00 por quilo, foi reduzido para cerca de R$ 3,00, afetando a rentabilidade da atividade.

Desafios e preocupações

A redução dos preços, somada ao aumento dos custos operacionais, como o óleo diesel e outros insumos essenciais à atividade pesqueira, gerou um cenário de preocupação e desgaste na categoria. “Aí o que tu faz com R$ 3,00 o quilo da tainha e R$ 7,00 do litro de óleo? Tu anda feito um louco aí procurando peixe, quando tu acha a metade do dinheiro da tainha vai no óleo” desabafa o pescador Marcelo Duval.

Outro ponto de atenção dos pescadores é a cota da tainha. Em 28 de fevereiro deste ano, uma portaria interministerial estabeleceu o limite de captura da espécie na Lagoa dos Patos em 2,3 mil toneladas, divididas entre os mais de três mil profissionais licenciados, ou seja, 83,34 kg por embarcação/pescador por mês durante a safra. Marcia Vesolosquzki, extensionista rural da Emater, afirma que por enquanto, a implementação dessa cota não tem gerado impactos práticos significativos. “Embora haja uma apreensão psicológica entre os pescadores, ainda não foi definido um sistema claro de monitoramento que permita avaliar os efeitos reais dessa medida”.

Defeso

No contexto do término da safra, se inicia o período do defeso, que se estende até o início da próxima safra. Durante esse tempo, os pescadores não podem pescar com o intuito de proteger a reprodução das espécies. Nesse período, os pescadores recebem o seguro-defeso e se dedicam à manutenção das embarcações, redes e à regularização das licenças de pesca, preparando-se para o retorno das atividades a partir de outubro.

Enquanto a comunidade aguarda melhores condições para a retomada dos trabalhos, alguns pescadores ainda depositam esperança em uma melhora para o camarão na primavera deste ano, desde que as condições climáticas se mostrem favoráveis e a água atinja os níveis ideais de salinidade. Essa expectativa renovada poderá, se concretizada, transformar o desânimo atual em um novo ciclo de crescimento e prosperidade para os pescadores locais.

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