Entre 2024 e 2025, a pesquisa “COMO VAI? Estudo Longitudinal de Saúde do Idoso” realizou sua quinta etapa de coleta de dados em Pelotas, com visitas domiciliares a idosos com 60 anos ou mais. A nova fase reafirma o compromisso do projeto com o monitoramento contínuo do envelhecimento e trouxe inovações metodológicas, como a coleta de saliva para estudos genéticos.
Ao longo de mais de uma década de acompanhamento, o estudo já contou com a participação de 1.451 pessoas. Na etapa mais recente, foram entrevistados 649 idosos, enquanto 527 óbitos foram identificados até março de 2025, reforçando a importância de cada indivíduo para a continuidade do estudo, já que se trata de uma pesquisa de caráter longitudinal.
Segundo a professora de Nutrição da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e uma das coordenadoras do estudo, Renata Bielemann, é importante dar uma devolutiva gradual dos resultados à sociedade, tanto os participantes quantos as instituições públicas. Em breve, os dados da pesquisa devem ser compartilhados com a Secretaria Municipal de Saúde, para contribuir na formulação de políticas públicas para a saúde do idoso. “Temos várias informações que podem ajudar a dimensionar os problemas de saúde em idosos”, afirma.
Destaques da última etapa
Embora a prevalência de doenças crônicas como hipertensão tenha se mantido estável ao longo dos anos, Bielemann constata que o estudo revela um agravamento das condições funcionais dos idosos, com aumento da dependência para atividades básicas (como comer e se vestir) e instrumentais (como preparar comida ou sair de casa sozinhos).
Sobrecarga para cuidadores
O avanço da dependência física entre idosos tem consequências diretas para o sistema de saúde e previdência, pois essas pessoas precisam mais cuidados e apoio. Isso também representa uma sobrecarga para os cuidadores, que são, muitas vezes, familiares em idade produtiva, acumulando trabalho, responsabilidades domésticas e o cuidado com os idosos.
Desafio do envelhecimento
Para o professor Flavio Demarco, da Faculdade de Odontologia da UFPel e um dos coordenadores do estudo, há uma importância estratégica da pesquisa no atual cenário de envelhecimento populacional. Ele ressalta que o envelhecimento é hoje um dos maiores desafios para o sistema de saúde, pela grande sobrecarga nos serviços públicos.
O quadro é mais crítico no Rio Grande do Sul, o estado mais envelhecido do país, onde a previsão é que mais de 30% da população tenha acima de 60 anos em breve. “O envelhecimento hoje é um desafio tremendo para o sistema de saúde, porque é onde tu tem o aumento da prevalência das doenças crônicas. E isso onera demais. É quem mais procura, é quem mais necessita”, explica Demarco.
Coleta genética
O professor também aponta a relevância da coleta de saliva iniciada nesta última fase do estudo, que permitirá, a partir de 2025, o sequenciamento genético dos participantes. Isso deve colocar o projeto na vanguarda das pesquisas sobre como a diversidade genética da população brasileira influencia o desenvolvimento de doenças na velhice.
Resultados preliminares (até março de 2025)
649 participantes entrevistados
527 óbitos identificados
Média de idade dos participantes: 78,1 anos
Condições de saúde
66% têm hipertensão
31% são diabéticos
41% apresentam dislipidemia
36% relataram dificuldades auditivas
30% apresentam declínio cognitivo
48% são dependentes para ao menos uma atividade básica da vida diária
Hábitos e condições de vida
20% praticam atividade física no lazer
60% consomem frutas diariamente
20% fazem até 3 refeições por dia
17% vivem em situação de insegurança alimentar
25% ingerem doces todos os dias
47% apresentam excesso de peso
14% estão com baixo peso
48% têm adiposidade abdominal
Autonomia
84% conseguem se vestir sem ajuda
81% tomam medicação nos horários corretos sem auxílio
25% precisam de ajuda para subir escadas
19% têm dificuldade para lidar com dinheiro
61% apresentam velocidade de caminhada reduzida
Saúde mental e percepção de saúde
19% relataram sintomas depressivos
53% avaliaram sua saúde como boa ou muito boa
65% consideram sua saúde bucal boa ou muito boa
Vacinação
83% tomaram a vacina contra gripe no ano anterior
98% foram vacinados contra a COVID-19