“Tudo que se relaciona com o Cassino, Rio Grande e Pelotas faz parte da minha memória”

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“Tudo que se relaciona com o Cassino, Rio Grande e Pelotas faz parte da minha memória”

Ramile Leandro é artista visual e curadora

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“Tudo que se relaciona com o Cassino, Rio Grande e Pelotas faz parte da minha memória”
Artista é natural de Rio Grande e estuda Arquitetura e Urbanismo na UFPel. (Foto: Divulgação)

Ramile Leandro, conhecida como Rami, é uma artista visual e curadora nascida em Rio Grande e atualmente radicada em Pelotas. Formada em Artes Visuais pela Furg e mestre em Curadoria de Arte pela Academia de Belas Artes, de Florença, na Itália, viveu e trabalhou por seis anos no país, além de participar de exposições na Europa.

Sua produção artística, centrada na aquarela, investiga memórias e paisagens com destaque para o movimento das águas e do tempo. Atualmente, além de manter seu ateliê, conclui o curso de Arquitetura e Urbanismo pela UFPel.

Como a formação em curadoria influenciou sua prática artística?

Quando me formei em Artes Visuais, não sabia como viver de arte. A única escolha parecia ser fazer um mestrado e ser professora, deixando a pintura para as horas vagas. Mas não me conformei. Pesquisei artistas brasileiros bem-sucedidos e vi que todos tinham um currículo internacional em comum. Comecei a juntar dinheiro, estudar italiano e pesquisar cursos. Fui aprovada no mestrado em curadoria de arte na Academia de Belas Artes. Já morava em Florença, trabalhando de garçonete para me sustentar. Passei em segundo lugar geral, ganhei bolsa e, por isso, consegui ficar lá. No mestrado, iniciei estágio em uma galeria de arte, que depois me contratou. Trabalhar como curadora na Europa me deu a experiência que a faculdade no Brasil não oferecia: aprendi a catalogar, vender, promover, criar mostras e escrever sobre arte. Vi que o artista pode fazer muito sozinho, mas se torna potente com as parcerias certas. Ninguém cresce sozinho. Além disso, fiz muitos contatos que me ajudam até hoje.

O que a aquarela representa para você como técnica e linguagem?

Como técnica, a aquarela representa a incerteza, e isso me fascina. O controle está em equilibrar água e pigmento, mas muitas vezes as manchas de cor se propagam pelo papel de forma diferente do imaginado. A cada aquarela, um aprendizado, uma história, uma vivência. A linguagem que desenvolvi se relaciona com lugares de memória. Quando morava fora, sentia saudades do mar do Cassino. Lembrava das casas, das ruas, das árvores. Quando iniciei meu trabalho com aquarela, decidi colocar esse amor pela história que os lugares carregam na minha arte. Tudo que se relaciona com o Cassino, Rio Grande e Pelotas faz parte da minha memória, das minhas recordações de infância. Já as casas de infância que pinto de clientes são mundos fascinantes que se abrem para mim. Pintei mais de 400 casas, e nada paga o brilho no olhar que vejo ao entregar uma aquarela.

Como foi viver e produzir arte na Itália, e o que mais marcou essa fase?

A Itália é um museu a céu aberto, mas o que mais me marcou foram as conexões que construí. Voltei lá por um ano, achando que seria difícil vender, mas antigos colegas de trabalho — hoje donos de restaurantes, arquitetos, artistas — quiseram minha arte e apresentaram para outras pessoas. Isso me ensinou que, mesmo quando o trabalho não é o dos sonhos, se ele estiver alinhado com teu propósito e for bem feito, um dia ele retorna. Não foi em galerias que construí minha rede, foi ralando, fazendo cafés e pizzas, mostrando minha garra. Em uma das mostras, uma mulher quis comprar meus quadros porque viu o brilho nos meus olhos ao falar da minha arte. Ela disse que queria esse brilho dentro de casa. A arte vai além da técnica — ela fala sobre pessoas.

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