Os dados de registro civil divulgados na sexta-feira pelo IBGE mostram que a inversão da curva de nascimentos X mortes, que era prevista já há algum tempo. O diagnóstico disso é simples: a população tende a diminuir a longo prazo, principalmente por uma mudança cultural na forma como constituímos família. É raro um casal que gera três ou mais filhos hoje. Ou seja, na conta básica da reprodução, no máximo empatamos. E isso gera incontáveis repercussões no futuro. A mais importante delas é pensarmos em cidades voltadas a uma população envelhecida.
É momento para os gestores de hoje pararem e refletirem. Hoje claramente nossas estruturas não são minimamente preparadas para pessoas com dificuldade de mobilidade, em geral. Um exemplo em Pelotas é a aberração da altura da calçada da Osório, onde passam milhares de pessoas por dia. Mas, mais a fundo, toda nossa estrutura social ainda não é voltada a acolher essas pessoas. Não temos “creches” de idosos, por exemplo. Ainda nos valemos de ou família, ou instituições de longa permanência, para o cuidar. E quando isso não for o suficiente?
Estamos caminhando para um lugar matematicamente complicado: um casal que envelhece e precisa de cuidados, com apenas um filho, será cuidado como? Ou ele dedica-se a estar presente, ou a pagar alguém para o cuidado, o que financeiramente não é viável em muitos casos. Portanto, quando a conta não fechar, a questão vai estourar na conta do Poder Público. Para isso, há que ter discussões e preparo de antemão. Quanto antes isso acontecer, melhor estaremos preparados. Mas soa utópico, dadas as estruturas administrativas de todos os níveis públicos hoje, que isso entre em debate tão cedo.
Até lá, os números vão nos alertando que, em um país mais envelhecido, os desafios serão diferentes. Não é um índice fácil de mudar ou reverter e, por isso, é preciso que todo o trabalho e reflexão sejam voltados a entender e acolher.
Editorial
Um futuro de idosos
