O bioma Pampa, presente quase exclusivamente no Rio Grande do Sul, teve uma queda de 42,1% no desmatamento em 2024, na comparação ao ano anterior, conforme o Relatório Anual do Desmatamento da rede MapBiomas. No total, foram 896 hectares de vegetação nativa suprimidos no Estado, contra 1.547 hectares em 2023.
Com menos visibilidade nacional em comparação à Amazônia e ao Cerrado, o Pampa representa um dos biomas mais ameaçados do país. Apenas 3% do território está oficialmente protegido por unidades de conservação, o menor índice entre todos os biomas brasileiros.
O bioma Pampa é caracterizado por campos naturais, vegetações rasteiras e formações arbustivas, fundamentais para a recarga hídrica, o equilíbrio climático e a manutenção da fauna regional.
Mudanças climáticas e o futuro
Além das pressões econômicas, o impacto das mudanças climáticas tem se intensificado no território gaúcho, atingindo tanto o Pampa quanto áreas remanescentes da Mata Atlântica no estado. Em 2024, os eventos extremos — como enchentes, ventos fortes e deslizamentos — afetaram severamente a vegetação nativa em diferentes regiões do RS.
Segundo o MapBiomas, o Rio Grande do Sul foi o terceiro estado que mais perdeu vegetação nativa da Mata Atlântica em 2024, motivado, sobretudo, por eventos climáticos extremos.
Mata Atlântica
Apesar da redução no desmatamento do bioma Pampa, o Rio Grande do Sul foi o terceiro estado que mais perdeu vegetação nativa na Mata Atlântica em 2024 — atrás apenas de Minas Gerais e Bahia. O motivo, segundo o relatório, não está diretamente ligado ao avanço do agronegócio ou da urbanização, como ocorre em outras regiões, mas sim aos eventos climáticos extremos que devastaram parte do território gaúcho ao longo do último ano.
Florestas em alerta
Segundo o integrante do MapBiomas e professor de ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Eduardo Vélez, os alertas reportados para o Pampa referem-se basicamente à supressão de florestas. “Entretanto, a maior parte das supressões são de vegetação campestre. Algo que ainda não conseguimos calibrar a nossa metodologia”. O professor estima que a supressão dos campos seja 90 vezes maior que a das florestas. “Então, do ponto de vista das florestas o dado é um avanço. Agora do ponto de vista ambiental o Pampa está sob ameaça há anos pela grande conversão dos campos para áreas de soja”, analisa.
Vélez avalia que o Pampa, por ser o bioma com a menor porcentagem de áreas em unidades de conservação, é fragilizado na medida em que não há um sistema de proteção mínimo e bem distribuído em todas as regiões. “Isso coloca em risco a sobrevivência de muitas espécies nativas e compromete serviços ecossistêmicos fornecidos pela vegetação nativa, como a proteção contra erosão do solo, infiltração de água no solo, polinização, sequestro de carbono, entre outros”, pondera.