Celebrar o Dia das Mães é um momento pleno para quem já deu à luz e se hoje está ao redor dos filhos recebendo mimos e abraços. Os nove meses de gestação nem sempre são um período simples para a mulher, que fica mais sensível e suscetível a doenças. O corpo muda e alguns efeitos colaterais vão fazer parte do dia a dia, como dores nas costas e cansaço. Mas a grande preocupação de especialistas que atendem gestantes pela rede pública de saúde é o número cada vez maior de mães adoecidas quando engravidam. Por isso, a saúde deve estar incluída na lista de planejamento do casal.
Dados da Rede de Atenção à Saúde Materno Infantojuvenil (Remi) da Secretaria Municipal da Saúde apontam que por ano quatro mil mulheres engravidam. Desse total, cerca de três mil bebês nascem e, o mais alarmante, em 90% dos casos, a gravidez não foi planejada. Por isso, a Rede Alyne – nome dedicado a uma mãe negra de 20 anos que, pela demora no atendimento, perdeu a vida e a do bebê – precisa ser bastante difundido, segundo a coordenadora do Remi em Pelotas, a médica pediatra, Regina Nogueira.
Impacto no comportamento
Ela explica que a gravidez é um período específico das mulheres e dos homens em termos de comportamento das relações sociais. A Secretaria Municipal de Saúde tem esse período como prioritário sendo que as gestantes devem passar pelo pré-natal, oferecido em todas as Unidades Básicas de Saúde (UBS) dentro do programa de saúde da família, pelo médico generalista. “Está previsto em lei federal que pode ser o médico, pois às vezes as pessoas acham que tem que ser obstetra. Não é necessário, tem que ser um médico capacitado e qualificado para atender o pré-natal”, esclarece. Pode ser também por enfermeiras com especialização em obstetrícia.
Pelo Sistema Único de Saúde, as grávidas contam com o atendimento nas UBSs e pelo sistema de telemedicina. “Nós temos uma rede especializada que atende gravidez de alto risco, tanto em ambulatório específico e com a ambulância buscando em casa, até a internação social. Isso é prioritário”, afirma Regina. Um espaço de atenção em Pelotas é a Casa da Gestante assistida pelo Hospital Universitário São Francisco de Paula (HUSFP).
Atenção e carinho
A ginecologista e obstetra Rosana de Miranda Mendes, plantonista do HU, com formação pela Universidade Federal de Pelotas e professora e mestre pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel), cuida com carinho das mamães junto a sua equipe médica. “A Casa da Gestante atende todas as pacientes via SUS, que são internadas na maternidade e geralmente encaminhadas pela UBS ou dos ambulatórios das universidades, por alguma patologia”, explica. Na lista dos problemas de internação estão desde a ausência de pré-natal, pacientes que não conseguem realizar exames, não acompanham as consultas ou que adquirem algum problema durante a gestação, com diabetes ou pressão alta.
A médica pediatra Regina Nogueira avalia que as mulheres estão muito adoecidas na gravidez. São problemas de obesidade, tabagismo, hipertensas ou diabéticas o que leva a uma gestação de alto risco. “Isso tem sido um extremo problema. Em janeiro, por exemplo, a Secretaria de Saúde recebeu uma lista com em torno de 220 mulheres na lista com espera de 120 dias”, cita. A tentativa da Remi agora é reduzir a fila que tem uma média de cinco a seis consultas de alto risco por dia. Em março foram disponibilizadas 110 consultas. “É uma proporção exponencial, mesmo assim, eu não consigo dar conta da vazão”, lamenta. Para ela, a questão cultural também é forte. “Como conscientizar que elas precisam reduzir sal, peso, deixar o cigarro de lado, trabalhar a questão psicológica”.
Hospital dia
Quem está Casa da Gestante geralmente são pacientes com diabetes que ajustam o uso da insulina. As com alteração cardíaca e que precisam fazer exames seriados e as com pré-eclâmpsia. Em menor risco, estão as que aguardam por medicamentos da Secretaria de Saúde e que ficam durante o dia e volta para casa à noite. “Conseguimos implementar o Hospital Dia, para que o paciente fique para fazer alguns exames e tem alta no mesmo dia”, esclarece a plantonista.
Para Rosana, pular etapas, ou seja, antes mesmo do pré-natal, saber como está com a saúde, pode agravar a situação da gestante e a do bebê, sendo que em alguns casos, além da internação, tem indicação de um nascimento prematuro. “As pacientes deveriam fazer a avaliação pré-concepcional, e a maioria dos nossos pacientes não faz essa avaliação”, relata. Para a obstetra, é preciso planejar, fazer exames conforme a idade, para saber se pode engravidar com segurança.
A espera de Ravi
Gabriele Neitzke Rau, 23, está internada há 16 semanas na Casa da Gestante. O temor de perder mais uma gravidez a fez abdicar dos momentos com a família, no interior de Piratini, para preservar sua vida e a do Ravi que está para chegar daqui a três semanas. “Foi uma gravidez inesperada e quando soube, corri para o médico, porque eu já tinha perdido um bebê”, relata. Até o terceiro mês, ela foi rodeada de incertezas e angústias pelo medo de uma nova perda, mesmo em dia com o pré-natal e sete exames. Mas na 25ª semana a piratinense precisou internar por pré-eclâmpsia. “Estou aqui e dou Graças a Deus. Não quero ir embora antes de esse bebê nascer”, confessa.
Do susto inicial, Gabriela agora diz que só sente gratidão pelo atendimento e carinho. “O tempo foi passando, passando e parece que está tudo bem. Não estou mais com aquela preocupação. Só de saber que vou com ele nos braços para a casa é um alento.”
O que uma gestante deve estar ciente?
- A mulher engravida para ter parto vaginal, isso é fisiológico. Então ela deve se preparar ao longo da gestação para esse momento.
- Entender que uma gestação normal dura 41 semanas e que 38 semanas não é o momento de nascer.
- A grávida vai ter cansaço, sonolência, urinar várias vezes ao dia, dor nas costas, inchaço nas pernas, edema nos membros inferiores, às vezes um pouquinho de falta de ar.
- Quando esses sintomas começam a ficar exacerbados, aumentados, ou eles começam a limitar a atividade, a modificar muito a vida da paciente, deve procurar um médico
- A futura mamãe pode e deve fazer atividade física e manter uma alimentação equilibrada
Recursos e programas de apoio:
- Rede Alyne – É um programa do governo federal que visa melhorar o atendimento às mulheres durante a gravidez, parto, pós-parto, aos recém-nascidos e crianças até dois anos de idade, promovendo um parto seguro e o acompanhamento da saúde materno-infantil.
- Programa Saúde da Mulher: – Programa de Saúde da Mulher, do governo federal, tem como objetivo promover a saúde feminina, abrangendo temas como saúde reprodutiva, saúde mental, doenças sexualmente transmissíveis, violência contra a mulher e saúde do idoso.
A inscrição no pré-natal deve ocorrer já na primeira consulta, com o registro dos dados no sistema e-SUS e na carteira da gestante. O acompanhamento inclui consultas periódicas, avaliação da saúde bucal, orientação sobre vacinas e participação em atividades educativas, além de exames de rotina.