Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam aumento no rendimento médio do brasileiro. Em relação a 2023, o crescimento foi de 2,9%, alcançando R$ 3.057 — o maior valor registrado desde 2012, início da série histórica.
O aumento do rendimento médio foi impulsionado principalmente pelo trabalho, seguido por programas sociais, aposentadorias, pensões e outras fontes, como aluguéis, aplicações financeiras e bolsas de estudo. Além do crescimento do rendimento médio real — ou seja, já descontada a inflação do período —, o Brasil também registra um aumento na parcela da população que possui algum tipo de rendimento.
De acordo com a Pnad, do total de residentes no Brasil em 2024, 66,1% (equivalente a 143,4 milhões de pessoas) tinham algum tipo de renda. Em 2023, esse percentual era de 64,9%. Também houve crescimento no rendimento mensal real domiciliar per capita (que considera todas as pessoas da residência, inclusive as que não têm renda): em 2024, o valor foi de R$ 2.020, aumento de 4,7% em relação a 2023 e o maior valor da série histórica.
Peso do salário mínimo
Segundo o professor de economia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Marcelo Passos, o salário mínimo tem um peso significativo no cálculo do rendimento. Nos últimos anos, o valor vem sendo corrigido acima da inflação. “A notícia é positiva, com reflexos na redução da desigualdade social”, comenta.
A Pnad também aponta diferenças regionais: o rendimento médio per capita da Região Sul foi de R$ 3.536, seguido pela Região Centro-Oeste (R$ 3.519) e pela Região Sudeste (R$ 3.497). “Surpreende a Região Sudeste ficar em terceiro lugar, já que possui o maior PIB do país”, avalia o economista.
O professor ainda destaca que o crescimento médio do país, em torno de 3% desde 2021, também contribui para o aumento da renda. “O PIB industrial vem se recuperando, e a indústria é quem paga os maiores salários. O setor de serviços também tem crescido, assim como o PIB agropecuário, com uma supersafra que deve impactar positivamente a Região Sul”, pontua.
Inflação impacta nos ganhos
O professor de economia da UFPel, Gabrielito Menezes, ressalta que, apesar do crescimento real de 2,9% no rendimento médio dos brasileiros, a inflação em 2024 foi de 4,62%. “Isso significa que, na prática, o poder de compra caiu 1,7% — ou seja, os preços subiram mais do que os salários”, explica.
De acordo com Menezes, isso dificulta a percepção da população sobre o crescimento da renda, principalmente diante do aumento de itens essenciais como alimentos e aluguel, do endividamento das famílias e das desigualdades regionais. “O valor nominal subiu, mas o brasileiro comprou menos com o mesmo dinheiro em 2024”, conclui.