Por volta das 11h30min da manhã (horário de Brasília) desta quarta-feira os 133 cardeais aptos entram na Capela Sistina para o início do Conclave. Mas, o que a escolha do novo papa muda no dia a dia? Essa pergunta pode estar passando pela cabeça de muitas pessoas e por isso, conversamos com especialistas para entender o impacto que essa decisão pode ter na comunidade.
Para o Padre Darvan da Rosa, Diretor do Instituto Superior de Formação Humanística e Capelão da Universidade Católica de Pelotas, a curto prazo não haverá grandes impactos. “Porque, na verdade, a Igreja tem já uma grande organização e a gente continua caminhando com o nosso jeito de ser Igreja aqui na nossa região”, afirma. Porém a médio e longo prazo as decisões tomadas pelo sumo pontífice podem e devem ser sentidas nas paróquias. “Por exemplo, o papa Francisco, nos indicou a necessidade de uma Igreja muito misericordiosa, aberta a todos (…) e isso, a médio prazo, vai nos tocando e a gente vai se deixando levar por aquela orientação”.
Segundo o pároco da Catedral Metropolitana de Pelotas, Wilson Fernandes, o homem escolhido neste conclave será o 267º papa da Igreja Católica que além de conduzir espiritualmente os fiéis, também enfrentará os desafios da sociedade atual. Entre eles a continuidade do trabalho de Francisco com o diálogo inter-religioso, o olhar atento aos povos em guerra e ao meio ambiente. “Precisamos continuar cuidando desta casa que é comum, tão devastada nos últimos tempos pelas mais diversas intempéries, seja no Brasil, seja em vários pontos do mundo, isso nunca vai cessar, isso nunca vai cessar e vai ser sempre o desafio da Igreja, recordar a todos dessa responsabilidade”, aponta Wilson.
Perfil é uma incógnita
Sobre o perfil do próximo sucessor de Pedro, Darvan coloca que atualmente é difícil delinear. “O mundo está muito complexo”. Porém ele acredita que desde o Concílio Vaticano II a Igreja foi entendendo quem seria o homem certo para cada momento da história.
Complementando essas visões, o doutor Enir Cigognini, professor e coordenador do Curso de Teologia da UCPel e psicólogo, acrescenta que “a expectativa é sempre ligada a um líder que governa a Igreja e seja referência para todo o mundo.” Para ele, o novo papa não mudará os debates teológicos no instante da eleição. Serão seus primeiros documentos, cartas encíclicas e outros, que orientarão a comunidade e poderão renovar a discussão sobre temas como a Ecologia Integral e o cuidado do ser humano em sua totalidade.
Cigognini também destaca que a diversidade de opiniões dentro do Colégio de Cardeais, embora intensa, não se assemelha à polarização político-partidária que ocorre em outros contextos, pois a escolha do líder se baseia na excelência da condução para um mundo em transformação. Somado a isso, ele aponta que, embora o novo pontífice enfrente desafios relacionados à mediação e ao diálogo, especialmente diante de debates globais sobre migrações, fome, guerras e os paradoxos da tecnologia, a solidez da doutrina católica permite que possíveis questões disciplinares, como a ordenação de homens casados, sejam discutidas de forma gradual e sem urgência imediata.
Indicador de caminho
Ainda, ao rememorar momentos históricos, o professor relembra a eleição de João XXIII como exemplo transformador, onde a transição após o longo papado de Pio XII culminou num processo de atualização que mudou a postura da Igreja perante o mundo.
De outro lado, Isabel Sacco, nutricionista e católica, deposita sua esperança de que o legado espiritual se mantenha na nova liderança. “Eu acho que nunca haverá outro papa igual o Francisco, mas espero que o próximo papa seja um homem fiel aos ensinamentos de Cristo e ao Evangelho”, diz Isabel, enfatizando a importância de um papa que acolha a todos de braços abertos e que preserve a continuidade da missão da Igreja.
Conclave
O processo para a escolha do pontífice inicia hoje e não tem data para finalização. No primeiro dia é realizada apenas uma votação, nos demais são quatro: duas pela manhã, duas pela tarde. Depois da contagem dos votos eles são queimados e daí sai a fumaça que anuncia se foi ou não decidido o novo papa. A fumaça preta simboliza que ainda não houve um consenso de mais de dois terços dos votantes, a branca indica que a decisão foi tomada.
