Polícia Civil alerta para casos de abigeato e recomenda cuidados na hora da compra de carne

Criminalidade

Polícia Civil alerta para casos de abigeato e recomenda cuidados na hora da compra de carne

Crime antigo do campo ainda desafia a polícia e ameaça a segurança alimentar da população

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Polícia Civil alerta para casos de abigeato e recomenda cuidados na hora da compra de carne
Pelotas registrou 12 casos nos primeiros quatro meses de 2025.

Apenas no primeiro quadrimestre de 2025, Pelotas registrou 12 casos de abigeato. Em 2024 foram 36 casos no município do crime mais antigo do campo, que afeta diretamente desde produtores rurais até consumidores.

O que é o crime de abigeato? 

Abigeato é o nome dado ao furto ou roubo de animais em propriedades rurais, especialmente bovinos. A prática, embora antiga, se modernizou e hoje é operada por grupos criminosos organizados que atuam em todas as etapas da cadeia: desde a subtração dos animais até o transporte, o abate clandestino e a distribuição da carne sem inspeção.

Animais de raças valorizadas, prontos para o abate, são os preferidos dos criminosos, que frequentemente carneiam os bois no próprio campo, em condições insalubres. A carne, sem qualquer controle sanitário, é então revendida por preços muito abaixo dos praticados por estabelecimentos legalizados.

O crime

O diretor da Divisão de Repressão aos Crimes Rurais e de Abigeato da Polícia Civil (Dicrab), delegado Heleno dos Santos, explica que existem duas escalas de crimes ligados ao abigeato. O primeiro, considerado “amador”, envolve pequenas quantidades.

“É aquele abigeato de uma ou duas pessoas envolvidas num crime que abatem uma ou duas cabeças [de gado], por exemplo, pegam a carne e vendem nos bairros, de forma quase que imediata”, afirma.

A outra escala, considerada a mais difícil de combater, entra no escopo de crime organizado, com um grande sistema que vai do furto até a mesa do consumidor. Conforme o delegado, nesta modalidade, os criminosos utilizam notas fiscais falsificadas para facilitar a venda do produto que, por conta disso, corre o risco de chegar até à alguns supermercados.

“A partir daquele abatedor [que recebeu a carne com notas falsificadas], a carne passa a ser comercializada até em mercados, que são legalizados, com tudo certinho. Mas nesse processo tem toda uma falsificação, toda uma adulteração dos documentos para legalizar essa carne”, explica Santos.

Para repressão desse segundo caso é necessário um grande esforço da Polícia Civil, que atua com o auxílio de dados da Secretaria Estadual de Agricultura. “Dá mais trabalho, porque daí precisa identificar o autor do furto, o autor do abate ilegal, o receptador, a pessoa que ajuda a falsificar os documentos para a venda, para a legalização dessa carne”, argumenta.

Santos cita uma operação recente de combate a um desses grupos criminosos que ocorreu em Capão do Leão. Na ocasião, uma quadrilha foi desmantelada após fazer uma família de refém para roubar 40 cabeças de bovinos, que eram abatidos em um local clandestino em meio à mata nativa.

Dificuldades

O combate ao abigeato enfrenta uma série de obstáculos por parte dos órgãos de defesa. Além da extensão territorial das áreas rurais e da rapidez das ações criminosas, a Polícia Civil lida com limitações de estrutura, como viaturas e equipamentos.

A prevenção também depende de medidas por parte dos próprios produtores. O delegado recomenda manter o rebanho registrado e atualizado junto à Secretaria da Agricultura, e adotar sistemas de monitoramento – como câmeras e cercas inteligentes e chips de monitoramento nos animais.

Impacto na saúde 

A prática criminosa vai além dos campos, representando um grave risco à saúde pública, com a possibilidade de transmissão de diversas zoonoses (doenças infecciosas transmissíveis de animais para seres humanos). Estima-se que ao menos 20% da carne consumida no Rio Grande do Sul tenha origem em abates clandestinos, segundo dados do setor. Isso representa milhares de animais por ano, cuja carne não é inspecionada e pode estar contaminada por doenças como tuberculose, brucelose e cisticercose.

Prevenção na hora da compra

Santos reforça que o consumidor tem papel fundamental no combate ao crime. “Às vezes, a carne barata que é comprada é de abigeato […] se o consumidor estiver adquirindo essa carne de procedência criminosa, ele vai estar, digamos assim, colaborando para a manutenção desse ciclo criminoso”, argumenta.

Ele destaca algumas medidas que devem ser tomadas pela população na hora da compra. “Se recomenda sempre que o consumidor tenha um olhar atento onde está comprando. Não comprar em um estabelecimento clandestino, não comprar de um fornecedor que não esteja cadastrado nos serviços de saúde. Sempre ter esse cuidado”, afirma.

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