Pinheiro Machado completa, nesta sexta-feira, 147 anos de emancipação política com programação de aniversário voltada aos mais de 11 mil habitantes. Com vocação econômica para a produção agrícola e pecuária, tem como marca registrada a ovelha, mas vem ganhando espaço para a vitivinicultura, olivicultura, floricultura, florestamento e reflorestamento. Destaque também na produção de lã, o município projeta investimentos para as agroindústrias após conquistar equilíbrio fiscal.
A cidade histórica guarda em seu passado um dos episódios mais emblemáticos para a Revolução Farroupilha, a batalha dos Porongos. Somado a história das cacimbinhas, à Feovelha e ao Festival de Música Nativista Comparsa da Canção, é uma referência turística entre o Sul e a Campanha.
O chefe do Executivo, Ronaldo Madruga (PP), diz que o município está equilibrado em relação à receita e despesas, o que garante novamente acesso a créditos e a participação de empresas em processos licitatórios, alavancando o desenvolvimento econômico. Com trabalho focado na austeridade nos gastos públicos, o Executivo teve que arcar com mais gastos pela recente medida nas áreas da educação e saúde, no qual o governo estadual repassa para os municípios despesas com média complexidade e transporte de pacientes, sem medidas compensatórias. Na questão local, a previdência vem tirando o sono do prefeito e projetos de reformulação estão dando na trave da Câmara de Vereadores.
Ainda assim, o presidente do legislativo, Rogério Gomes Moura (Republicanos), garante que a relação é muito boa com o Executivo. “Sempre lutando por melhorias do nosso município. Todos os projetos que chegam, sendo para o benefício dos munícipes, é votado a favor”, garante o parlamentar, que já foi vice-prefeito do atual e participou da recuperação fiscal da prefeitura.
Olhar especial nas potencialidades
Ronaldo Madruga cita a falta de representatividade eleitoral de cidades da Zona Sul como justificativa para um olhar mais atencioso à região, o que resulta em uma desproporcional distribuição de recursos e de investimentos por parte dos governos. “O cobertor é curto e eu tenho que dizer muito não além de conscientizar as pessoas que não dá para fazer tudo que é preciso.” Na tentativa de mudar esse cenário, o prefeito tem ido a Brasília em busca de emendas parlamentares, o que depende do vínculo do político com a região. “Outros deputados não querem nem te receber por não ser um reduto eleitoral. Escuto muito essa justificativa em Brasília e isso traz uma traz uma dor”.
Produção local
Uma das apostas do governo municipal está no fomento das agroindústrias. Para o ano que vem, serão aportados recursos para fomentar a produção local através de parcerias com o Sebrae e Senai que irão trabalhar com a vocação do setor e habilitar os pequenos agricultores a saírem da informalidade. “Vamos financiar, subsidiar, melhor dizendo, dar o dinheiro a custo zero para abrir agroindústrias, que custa em média R$ 50 mil para começar a funcionar”, destaca. Atualmente, a cidade tem sete assentamentos e muito da produção é comercializada na Feovelha, evento que ocorre sempre no final de janeiro.
De volta ao calendário
Para resgatar a auto-estima do pinheirense e colocar a Feovelha entre os melhores eventos no calendário Estadual, o Sindicato Rural de Pinheiro Machado apostou grande na última edição, a 41ª, levando grandes shows para os 30 hectares do Parque Charrua e, principalmente, aproximando a comunidade do evento. Com isso, empreendedores de diferentes setores ganharam visibilidade. Vanessa da Silva Coelho, 33, é empreendedora há seis e garante que os produtos da terra têm seu valor.
Em seu restaurante, no centro da cidade, o azeite é de Pinheiro Machado, a carne é da região e não pode faltar ovelha no cardápio. Para a empreendedora, os eventos da cidade são fundamentais para movimentar a economia. “Atrações, como a exposição de carros antigos, juntam muita gente de fora e isso é bom para o nosso comércio. Mas é preciso investir mais no turismo. Aqui, por exemplo, tenho painéis divulgando os locais a serem visitados, incluindo o Castelo da cidade vizinha, Pedras Altas”, destaca, ao sugerir que o visitante vá comer carne de ovelha e já visite a igreja e as cacimbinhas. “O próprio parque Charrua é lindo”, frisa Vanessa, que foi uma das apoiadoras na última edição da Feovelha.
Calendário nacional
Desde que Paulo Alves, produtor rural e sommelier, assumiu a presidência do Sindicato Rural de Pinheiro Machado, a entidade passou a ter um olhar mais empreendedor, a começar pela realização Feovelha. Além da exposição dos animais, os remates, os shows e o comércio atraíram a população urbana da cidade, cerca de 75%, e da Zona Sul. Só em negócios, foram mais de R$ 1,5 milhão. “Já morei em Brasília e quando digo o nome da minha cidade, logo as pessoas remetem à Feovelha. Nós temos uma baita marca”, salienta.
Para o setor rural, o presidente aposta em parcerias para valorizar o pequeno e grande agricultor. “O setor primário precisa de incentivo e da expertise de entidades. Parcerias é tudo. Emater, por exemplo, é um braço que o município tem. Hoje buscamos apoio do Senar”, comenta. Desde o início da gestão, os programas de Assistência Técnica e Gerencial (Ategs) do Senar passaram de uma para cinco: duas de ovinocultura, duas de gado de corte, e uma olivicultura. “Imagina o potencial que é ter 30 produtores recebendo curso de compostagem”, enfatiza.
Cidade hospitaleira
Em um passeio pela praça Angelino Goulart, o que não faltam são cumprimentos de pessoas, mesmo sem se conhecer. O local é ponto de encontro e Centro Histórico por abrigar a prefeitura, a Igreja, as principais repartições públicas, bancos e casas construídas no início do século 20. O prefeito Madruga admite que o setor turístico é pouco explorado, principalmente roteiros que levam até a região onde ocorreu a Batalha dos Porongos, no sítio. A promessa é de trabalhar com municípios da redondeza para se trabalhar em um roteiro regional. “Também estamos pensando em mudar a data da Comparsa da Canção para termos público em dois grandes momentos”, assinala.
A cura que deu origem à cidade
Conta a história que a cidade chamada de Nossa Senhora da Luz das Cacimbinhas surgiu após um tropeiro se curar de cegueira ao lavar os olhos em uma cacimba. A graça o fez construir em seguida a Igreja Nossa Senhora da Luz. Mas pela ligação à figura do político José Gomes Pinheiro Machado, conhecido como “o Condestável da República”, a cidade mudou de nome.
O município pertencia a Piratini, a primeira capital Farroupilha. Na época, a região foi palco de um dos maiores massacres, tendo como vítimas os Lanceiros Negros, liderados por Teixeira Nunes. Os combatentes, que entraram na guerra com a promessa de serem libertados, foram atacados de surpresa no dia 14 de novembro de 1844 e cruelmente mortos. A Batalha dos Porongos foi um salto para o fim da guerra de dez anos. No local, símbolos homenageiam aqueles que lutaram na revolução.