Mesmo em atividades possíveis de serem executadas na integralidade em home office, no último ano há uma movimentação das empresas pelo retorno ao trabalho presencial. Diante da demanda dos empregadores pela presença física e da reivindicação dos funcionários por mais praticidade, o modelo híbrido se tornou uma alternativa de equilíbrio para atender os dois lados da relação trabalhista.
Com a necessidade do home office na pandemia, boa parte dos trabalhadores adaptaram suas vidas para a dedicação ao emprego em conciliação com a rotina do lar. Porem, com a saturação do regime remoto, os empregadores iniciaram um movimento de exigência do retorno das atividades nos escritórios e firmas. Um exemplo, são empresas multinacionais com milhares de funcionários, como a Amazon e a Apple, ao estabelecerem a volta ao trabalho presencial pelo menos em boa parte dos dias da semana.
Diante disso, o modelo híbrido se tornou uma opção que parece conciliar os benefícios do modelo remoto com as vantagens do trabalho físico. Conforme a pesquisa de Tendências da Empregabilidade 2025, da empresa de gestão de recursos humanos Gupy, o regime é a principal tendência em diversos segmentos de mercado. “Equilibra flexibilidade valorizada pelos colaboradores com a necessidade de interação presencial, tão desejada pelas empresas para fortalecer a cultura e promover a inovação”, diz o relatório.
Rodizio e cultura da empresa
Em Pelotas, uma empresa que adotou a alternativa foi a agência de publicidade Incomum. No momento em que o retorno à redação já era viável, o sócio-fundador identificou uma resistência de parte da equipe em restabelecer a rotina presencial. A solução adotada foi implementar um rodízio entre as equipes para o presencial às terças, quartas e quintas-feiras. “Tem uma escala, todo mundo vai pelo menos uma vez por semana”, diz Daniel Moreira.
Entre os fatores que motivaram o pedido pelo retorno estão a comunicação mais eficiente no ambiente de trabalho e a diminuição da burocracia necessária o planejamento remoto. Outra questão determinante para os empregadores é a manutenção da cultura da empresa, principalmente com a chegada de novos funcionários. “Uma pessoa que não conhece o jeito que a gente é, o que os líderes são, ela não consegue assimilar tão bem a cultura da empresa e faz uma diferença muito grande”, explica.
Benefício mútuo
O sócio da Incomum atesta que o regime híbrido é eficiente para a manutenção das demandas da agência, como a cultura organizacional, o trabalho em equipe, a boa comunicação e a troca de experiência. Ao mesmo tempo que atende as necessidades de praticidade dos colaboradores.” Para nós o que importa é o quanto eles entregam, se engajam e fazem aquilo com a dedicação deles”.
“A palavra é flexibilidade”
Entre os colaboradores da agência entusiastas do trabalho híbrido está o casal Maurício Silveira e Joice Mota. Funcionários há mais de 15 anos da Incomum, eles reconhecem os benefícios do trabalho presencial na redação. No entanto, a possibilidade de estar em casa na maioria dos dias de semana foi essencial para a decisão deles de terem a primeira filha.
“Eu fui mãe com 34 anos porque era esse tipo de maternidade que eu queria ter. Eu sei que muitas mães gostariam dessa oportunidade e até têm que sair do mercado de trabalho para poder estar na primeira infância dos filhos”, diz a diretora de arte. Enquanto dava o almoço para a pequena Olivia de 1 ano e quatro meses, Silveira conta que a possibilidade de garantir o cuidado integral nos primeiros anos da menina foi essencial para o planejamento da gestação.
Joice complementa que a vantagem do híbrido é a flexibilidade, pois também possibilita que ela trabalhe presencialmente todos os dias, caso queira. “Se daqui a pouco com três, quatro anos ela fica muito agitada e tem que ir para a escolinha, eu posso querer ir para a agência até para ter um tempo só meu”.
Segundo Silveira, isso só é possível graças a confiança da agência depositada no trabalho deles. Pois mesmo em casa e com uma criança pequena, eles garantem a entrega e o desempenho adequado nas demandas de trabalho. “Existe uma confiança recíproca, com uma cultura cooperativa forte, ela se dissemina sem a necessidade de estar lá”.
Regime consolidado
Coordenadora do curso de Gestão de Recursos Humanos da UCPel, Leticia Menezes constata que o modelo híbrido é uma prática consolidada, especialmente em áreas como comunicação, tecnologia e serviços. No entanto, a professora salienta a necessidade alinhar as expectativas de funcionários e empregadores. “Principalmente sobre o tipo de trabalho a ser feito e como será realizado”.