Ato em Pelotas pede revogação de norma que restringe afirmação de gênero

Manifestação

Ato em Pelotas pede revogação de norma que restringe afirmação de gênero

Nova regra expedida pelo CRM dificulta acesso de jovens trans a tratamentos hormonais e cirurgias

Por

Ato em Pelotas pede revogação de norma que restringe afirmação de gênero
Grupo esteve na frente da CRS para chamar atenção à pauta e buscar apoio de órgãos de saúde pela reversão. (Foto: João Pedro Goulart)

Ativistas e membros da comunidade LGBTQIAPN+ de Pelotas realizaram um ato, na manhã de ontem, em frente ao prédio da Coordenadoria Regional da Saúde (3ª CRS), exigindo a revogação da Resolução n.º 2.427/2025, do Conselho Federal de Medicina (CFM). A decisão estabelece novas diretrizes para o atendimento a pessoas com incongruência ou disforia de gênero, com alterações significativas em relação à normativa anterior.

Um dos principais pontos da resolução é o aumento da idade mínima para acesso a tratamentos de afirmação de gênero. Agora, a terapia hormonal cruzada (THC) só poderá ser iniciada a partir dos 18 anos (antes era permitida a partir dos 16), e as cirurgias de redesignação sexual com potencial esterilizante só serão autorizadas após os 21 anos (contra 18 anos na norma anterior).

Enquanto o CFM defende a “segurança do paciente”, organizações LGBTQIAPN+ têm reagido fortemente diante das mudanças, vendo a medida como um obstáculo ao direito à identidade de gênero. O argumento dos ativistas é que a medida retarda o acesso a cuidados essenciais para jovens trans e travestis, aumentando o sofrimento psíquico e os riscos de agravamento da disforia de gênero.

Argumentos

No ato de ontem, os manifestantes também entregaram um ofício à 3ª CRS, para formalizar o pedido de revogação do decreto. Segundo o representante do Conselho Municipal de Direitos da Cidadania LGBT, Marcos Fernandes, a carta apresenta uma série de argumentos e estudos científicos que mostram a necessidade de o processo transexualizador acontecer o mais cedo possível na vida da pessoa, para evitar transtornos na vida adulta.

“[Essas diretrizes] impactam porque a pessoa trans vive num constante sofrimento em relação à aceitação do próprio corpo e da sua identidade. Então, quanto antes o processo de transexualização acontecer, mais rápido essa pessoa poderá viver plenamente sua identidade e sua vida”, defende Marcos.

Wemi Soares é trans masculino não-binário e esteve presente no ato. Ele destaca que a entrega da carta representa um movimento importante, mas que precisa ter continuidade. Wemi espera que a coordenadoria de saúde esteja aberta ao diálogo e disposta a se aliar na luta pelos direitos da população trans e travesti.

Mesmo reconhecendo que a atuação da secretaria é limitada diante da resolução do Conselho Federal de Medicina, Wemi acredita que o órgão pode desempenhar um papel importante na construção de caminhos para ampliar o acesso à saúde integral dessa população.

“Pessoas trans e travestis têm, historicamente, um processo de marginalização muito forte. Essas medidas negativas nos afetam diretamente e nos empurram novamente para a ilegalidade, para o uso de hormônios sem acompanhamento médico, de forma clandestina, já que o acesso está sendo restringido”, aponta Wemi.

O que traz a Resolução n.º 2.427/2025?

Terapia hormonal cruzada:

  • Só poderá ser iniciada após os 18 anos (antes eram 16 anos).
  • Exige avaliação médica psiquiátrica e endocrinológica por mínimo de um ano antes do início.
  • Paciente deve ter avaliação cardiovascular e metabólica favorável e não apresentar doenças psiquiátricas graves.

Procedimentos cirúrgicos de afirmação de gênero:

  • Permitidos apenas após 21 anos se houver efeito esterilizador.
  • Necessário acompanhamento médico mínimo de um ano.

Bloqueadores hormonais de puberdade:

  • Proibido o uso para transição de gênero em crianças e adolescentes.
  • Permitido apenas para tratamentos de puberdade precoce ou doenças endócrinas reconhecidas pela literatura médica.

A resolução cita a tendência internacional de cautela no uso de bloqueadores hormonais e hormonoterapia em menores de idade, citando mudanças em países como Reino Unido, Suécia, Noruega e Finlândia.

Acompanhe
nossas
redes sociais