Precisamos falar das ruas de Pelotas

Opinião

Jarbas Tomaschewski

Jarbas Tomaschewski

Coordenador Editorial e de Projetos do A Hora do Sul

Precisamos falar das ruas de Pelotas

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A palavra é difícil de pronunciar: intransitabilidade. É para esse caminho que Pelotas ruma em um cenário a curto/médio prazo. O tom alarmista encontra base no dia a dia e resulta dos anos de despreocupação do Poder Público com o serviço com força para impactar a economia do município e, agora, começa a cobrar um preço alto.

Pelotas chegou em 2025 com ruas e avenidas em estado deplorável de conservação. A prefeitura anunciou no dia 17 que sua usina produziu 17 toneladas de asfalto, aplicado na Leopoldo Brod e Adolfo Fetter. São novos remendos. As operações tapa-buracos já não funcionam como medida alopática. É caso para cirurgia de urgência.

Independentemente do tipo de pavimento, não existe hoje caminho nos bairros onde motoristas, motoqueiros e ciclistas consigam circular de forma tranquila. O risco de danos e acidentes graves é alto pela precariedade geral das vias.

Os exemplos estão espalhados. Locais como a avenida Theodoro Muller, entre a Presidente João Goulart e a BR-392 (cruzando a rua Major Francisco de Souza), assustam pela falta de atendimento. Trata-se de uma pista com todas as dificuldades possíveis: buracos, remendos, rachaduras e elevações no piso quase da altura de quebra-molas. Não há o que fazer ali a não ser uma grande recuperação.

Na Andrade Neves, quadra do Parque Dom Antônio Zattera, outro buraco surgiu ao lado da obra que retirou o asfalto sem reposição posterior. Um surgiu porque o outro não foi resolvido. Na esquina da Antônio dos Anjos com a Anchieta há anos a ondulação criada pela passagem do transporte coletivo moldou o piso. Aos olhos de qualquer um, mas sem qualquer ação para se resolver. A quadra que marca o início da avenida Domingos de Almeida, a partir da Gonçalves Chaves, impressiona pelo somatório de remendos e o esfarelamento. E assim estão esparramados outros cenários que irritam a população pagadora de impostos. Nenhum motorista circula mais em Pelotas em linha reta. Desvia-se de tudo que seja obstáculo.

O atual governo herdou aquele que se mostra o grande desafio da gestão. Nesse ponto, seria confortável apontar o dedo e culpar quem deixou de atacar o problema. Mas não pode passar quatro anos jogando responsabilidades. Governos herdam problemas, pequenos e grandes. Nesse caso, gigantesco. A infraestrutura foi o tema principal da campanha eleitoral de 2024. Para muitos, tema que levou à derrota nas urnas do grupo político que administrava Pelotas. No programa municipal registrado pela Nova Frente Popular no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ano passado está escrito: “Vamos criar um grande projeto de requalificação e ampliação das ruas e avenidas da cidade, seja no perímetro urbano, seja no perímetro rural. E isto a partir de recursos (que) vamos buscar junto ao PAC Mobilidade Urbana”. Compromisso assumido que dá esperança.

Reforça-se: caminhamos para um cenário de dificuldades se o município insistir em tapa-buracos para resolver problemas latentes. Já ultrapassamos essa fase. Precisamos de um plano. O período das chuvas se aproxima e o quadro só irá piorar. Não é previsão, é realidade.

As ruas com paralelepípedos têm pedras soltas e ondulações intermináveis. Aquelas com asfalto, remendos sobre remendos e buracos que afloram toda semana. Vias com concreto apresentam o desgaste natural do tempo, com rachaduras e piche usado para ocupar as imperfeições. As de terra, não é necessário descrever. São intransitáveis. Pelotas se transformou num campo minado. Os pneus dos carros furam, os aros entortam, as peças mecânicas se danificam e os veículos ficam presos em crateras.

A prefeitura busca ajuda do governo federal. Se vier – não há data prevista – precisarão ser dezenas de milhões de reais. O trabalho caseiro, até lá, passa muito por estratégias que envolvam as secretarias que respondem pela zeladoria da cidade. Não adianta realizar um serviço e a reposição no piso acontecer semanas ou meses depois, como se habituou a aceitar. Ou o acabamento seguir ruim. Quem fiscaliza e cobra a qualidade? Entrega-se, muitas vezes, reparo aquém do aceitável. E assim se ajudou a construir nos últimos anos essa palavra difícil de falar: intransitabilidade. #Pelotasmerece mais.

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