Formado por 14 ilhas, o bairro Arquipélago foi um dos primeiros da capital gaúcha a ser tomado pelas águas na enchente de maio de 2024. Ele também dá nome ao Projeto desenvolvido pela pela Prefeitura de Porto Alegre em parceria com a TU Delft, universidade holandesa que é referência em urbanismo para adaptação climática. Nessa cooperação, a pesquisadora rio-grandina Raquel Hadrich tem a oportunidade de retornar para o Rio Grande do Sul e auxiliar na construção do Plano Urbanístico Ambiental que prevê a reconstrução da região aliada à prevenção de novas cheias.
Segundo os últimos dados da Prefeitura de Porto Alegre, dos 6 mil moradores do bairro Arquipélago, mais da metade foi afetada pela enchente do ano passado. É com essas pessoas, diretamente, que o trabalho da Oceanóloga pela Universidade Federal do Rio Grande (Furg) e doutoranda em em Urbanismo pela TU Delft está sendo desenvolvido. Raquel trabalha na coordenação do eixo de integração transdisciplinar, responsável por colher informações do saber local e integrar ao que o eixo de planejamento urbano está projetando. “O saber local é tão importante quanto o saber técnico para solucionar conflitos e situações complexas”, defende.
Atuação na Zona Sul
Durante sua formação em Oceanologia, Raquel trabalhou como bolsista de gerenciamento costeiro e, com o contexto de expansão do polo naval na região sul, atuou nos estudos de impacto ambiental da construção dos estaleiros para as plataformas de extração de petróleo. Teve papel importante na defesa da comunidade de pescadores artesanais de São José do Norte que foi removida para a instalação do Estaleiro EBR. “Propus a modificação do licenciamento ambiental, através do estudo de impacto, para que a gente levasse essas questões sociais a sério no processo de planejamento. Percebi que esses processos eram feitos às pressas e sem levar em conta as pessoas, o que gerava mais conflitos lá na frente”, conta a pesquisadora.
Esse engajamento com as questões sociais na zona costeira levaram Raquel a fazer mestrado em Sociologia pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e em Desenvolvimento Internacional na universidade holandesa.
Planejamento Participativo
Na coordenação do eixo social do Projeto Arquipélago em Porto Alegre, Raquel Hadrich destaca o interesse da população local nas questões socioambientais e a luta histórica da comunidade para serem reconhecidos como um bairro. Assim, esses fatores influenciaram para a presença de um grande público na primeira reunião do planejamento participativo. “Acredito que para aquela população, especificamente ali, esse sempre foi um tema de interesse. O que contribui agora é essa questão da urgência e da necessidade de uma resposta”, diz.
O planejamento participativo conta com a colaboração dos moradores da região das ilhas para a construção de um projeto aplicável e sustentável, a partir das vivências pessoais. Neste sentido, Raquel torna-se a ponte entre moradores, poder público e equipe técnica.
Educação Ambiental
Dentro do Plano Urbanístico Ambiental para o Desenvolvimento Sustentável do bairro Arquipélago, os moradores também participam de ações que reforçam a necessidade de ações de preservação e cuidado com o meio ambiente.
Raquel defende a importância da educação ambiental que não reflita apenas sobre os hábitos e comportamentos dos indivíduos, mas que também os leve a entender seus papéis dentro do contexto social. “Existe a necessidade de entender a situação que vivemos, de emergência climática, esse deve ser o ponto de partida. Sou mãe de um menino de quatro anos e vejo o poder transformador da educação ambiental, não só para a consciência daquele indivíduo, mas na sociedade”, afirma a pesquisadora.
Projeto de reconstrução e prevenção
O projeto de reconstrução do bairro Arquipélago e a prevenção de desastres foi contratado pela Prefeitura de Porto Alegre através do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que é o braço da ONU no desenvolvimento global.
Segundo Raquel Hadrich, o projeto está no começo. O plano de trabalho foi entregue e o próximo passo será entender a situação da localidade. Após isso, o grupo da universidade holandesa, junto com o poder público, pensará as estratégias necessárias.