UFPel quer aproximar ciência e tecnologia à saúde pública

Mapeamento

UFPel quer aproximar ciência e tecnologia à saúde pública

Com respostas mais precisas de diagnósticos, o mapeamento genético pode representar mais qualidade de vida, longevidade e redução de internações hospitalares

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Atualizado sábado,
26 de Abril de 2025 às 14:16

UFPel quer aproximar ciência e tecnologia à saúde pública
(Foto: Jô Folha)

Ciência, tecnologia e saúde aliadas para revolucionar a vida dos brasileiros a partir do mapeamento genético e, ao alcance do Sistema Único de Saúde. Assim, a pesquisa da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), através do Laboratório de Genômica Estrutural, trabalha para colocar em prática o processo de avaliação genética de pessoas visando diagnósticos mais precisos, inicialmente para pacientes oncológicos, passando a características pessoais que podem ajudar nas condições físicas e alimentares da população. Pelo caminho, propostas de lançamento de Laboratório Clínico associado ao Hub de Saúde e Biotecnologia do Parque Tecnológico e Startups.

À frente dos projetos, o superintendente de Inovação e Desenvolvimento Interinstitucional da UFPel, professor e biólogo Vinícius Farias Campos conta que são pelo menos quatro frentes:

– Avaliação genética da população de Pelotas e de uma coorte de idosos, visando identificar a prevalência de variantes genéticas que são associadas a características clínicas;

– Desenvolver uma plataforma de análise genética para o SUS, tornando a UFPel referência no país em um projeto em conjunto entre os cursos de Biotecnologia, Odontologia, Computação, Epidemiologia, Nutrição da UFPel e Universidad Mayor do Chile;

– Desenvolver um protocolo de análise epigenética para classificação de tumores cerebrais infantis em parceria com o HCPA de PoA, Hospital Santa Marcelina de SP e Universidad Mayor do Chile, permitindo um melhor tratamento do câncer infantil.

– Análise de perfil genético de mulheres com ovário policístico, projeto em colaboração com o HCPA.

–  Estabelecer em breve o primeiro Laboratório Clínico do RS, em parceria com o Pelotas Parque Tecnológico aprovado pela Anvisa e que viabilize os exames ao público, sendo que hoje, as análises são feitas fora do Estado.

“Nosso trabalho mais recentemente é na parte de avaliação genética de pessoas, mas com focos diferentes, por exemplo, para a parte oncológica e em melhorias de traços de saúde”, explica. Com resultados, é possível predizer condições das pessoas a partir das características esportivas e alimentar para que possam melhorar o seu foco de saúde. Com o Ministério da Saúde, o foco é desenvolver uma plataforma de análise genética para o SUS, viabilizando o acesso da população a diagnósticos genéticos. “A gente consegue avaliar praticamente um 650 mil variantes genéticas ao mesmo tempo de uma pessoa. Ou seja, faz uma varredura do genoma da pessoa, identificando praticamente todas as questões relacionadas à saúde”, garante Campos.

O processo é demorado pois fala-se em tecnologias de altíssimo custo e que a UFPel dispõe. Portanto, a intenção é conseguir tornar o acesso aos exames mais viável. Recursos na casa dos R$ 18 milhões já foram disponibilizados para concretizar os trabalhos que hoje se encontram em fase de pesquisa. A partir do exame, sendo que a coleta é da saliva e a própria pessoa pode fazer, é possível ainda saber sobre conhecimentos gerais como ancestralidade, ou seja, saber de que continente é originário.

Perfil genético do brasileiro

Na pauta, os pesquisadores da UFPel querem ainda sequenciar genomas de mil pessoas para ter visão do brasileiro. “As variantes genéticas vão ser específicas das pessoas, que variam entre os países e, consequentemente, isso vai garantir um diagnóstico genético do brasileiro mais preciso”, projeta Campos.

10 anos

Dedicado aos estudos da genética de animais e pessoas, o Laboratório passou a receber demandas dos hospitais de Porto Alegre, de São Paulo e demais regiões do país para diagnósticos mais detalhados. Em outra frente, a instituição já trabalha na avaliação genética dos pelotenses. “Vamos fazer uma varredura de mais de 600 mil marcadores genéticos e dar informação para as pessoas sobre a sua genética”, pontua. Os pesquisadores consideram que esse avanço tecnológico e científico provoca uma mudança de paradigma, pois as pessoas vão poder, desde cedo, se prevenir de doenças pré-existentes. “Um estudo da OMS aponta uma estimativa de vida das pessoas que estão nascendo agora, dessa geração atual, que metade delas, independentemente de classe social, tendem a durar 100 anos”.

Tecnologia

Uma das aliadas à pesquisa, a inteligência artificial (IA) auxilia na classificação das doenças a partir dos resultados. O professor do programa de Pós-Graduação em Computação da UFPel, Paulo Roberto Ferreira Júnior, explica que a IA é utilizada em uma técnica específica chamada aprendizado de máquina que permite com que o computador aprenda a classificar coisas. “Trabalhamos num projeto de um exame de células cancerígenas com o propósito de classificação usando a IA nos diferentes tipos de câncer que essa pessoa tem.”

Atualmente se trabalha com 2,8 mil amostras de diferentes tipos de câncer do cérebro e são 91 classificações. “A proposta é criar um modelo, a exemplo ou melhor que um modelo alemão”, destaca. O segundo passo para a plataforma digital, conforme o professor, envolve a gramática clínica que vai possibilitar o médico a prescrever um tratamento mais específico a partir do conhecimento do tipo de câncer. “Às vezes, a quimioterapia não funciona por causa de uma determinada variante. Com o exame, vai funcionar por outra”. Vinícius Campos lembra a importância da figura do aconselhador genético responsável ou facilitador entre a resposta laboratorial e médicos.

Genotrack

O modelo projetado entre professores, cientistas e doutorandos está em software que será registrado pela GenoTrack, uma startup que está sendo criada para ajudar as pessoas a compreenderem melhor sua genética e tomar decisões mais informadas sobre saúde e bem-estar. O sistema de tecnologia avançada interpreta testes de DNA e produz laudos que vão ajudar na escolha do tratamento. “Queremos auxiliar esses profissionais a compreenderem melhor o perfil da sua pessoa, para tomar decisões na nutrição e em diversos setores. Levar à pessoa um conhecimento sobre a vida dela”, destaca o doutorando em Biotecnologia da UFPel, Lucas Petitemberte de Souza.

“A ideia é disseminar conhecimento, mostrar às pessoas como a genética tem uma temática presente na vida das pessoas e como pode impactar na melhoria de vida, compreendendo o potencial do seu genoma”, complementa a também doutoranda em Biotecnologia Lais dos Santos Gonçalves. Em breve, a startup deve lançar a plataforma digital para possíveis interessados.

Laboratórios de Pelotas oferecem exame genômico

Para quem ficou curioso e deseja fazer seu mapeamento genético, laboratórios em Pelotas oferecem esse tipo de análise. A Vital Brasil, por exemplo, desde janeiro oferece exames genéticos e genômicos. De acordo com o proprietário e responsável técnico, farmacêutico e mestre em Saúde Comportamental pela UCPel, Marco Saleh Ribeiro, a proposta é oferecer mapeamento genético com preço acessível à população. Por exigir tecnologia de ponta, ainda tem um custo elevado, mas Ribeiro lembra que: “É um teste para fazer uma vez na tua vida. O teu DNA não vai mudar e terá a genética mapeada, gerando possibilidade de mudança de hábitos de vida e cuidados”, destaca.

Ribeiro alerta, entretanto, que esse exame não extingue os de rotina, como o de sangue que indica níveis de colesterol, açúcar e outras substâncias. Inclusive, sua proposta em abrir o Laboratório que leva o mesmo nome do empreendimento que o avô tinha em Porto Alegre, é proporcionar à população um serviço com preços mais acessíveis. Dentre os exames imunológicos, bioquímicos, hematológicos, toxicológicos, parasitários e de paternidade, o que analisa o genoma da pessoa é o com maior valor de custo, a partir de R$ 1,5 mil. O material coletado vai para Belo Horizonte, em um laboratório conveniado que oferece a tecnologia para examinar e identificar os códigos genéticos.

A vantagem em ter um resultado como esse em mãos é poder trabalhar na melhora e na plenitude da população 50+; mulheres com casos de câncer de mama ou de colo de útero na família. “Nós temos aqui também o painel de autismo e doenças epiléticas, onde é possível detectar o tipo de espectro”, ressalta, o que facilita no diagnóstico e tratamento. Um outro exame interessante é o da ancestralidade que permite a pessoa saber qual a sua origem. O laboratório oferece ainda a possibilidade de consulta com um geneticista de São Paulo, por meio de vídeo chamada.

 

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