Nos últimos dias, Pelotas testemunhou dois crimes horríveis: o feminicídio a tiros de Lais Meyer, uma jovem de 33 anos, e a importunação sexual por um professor universitário que se masturbou em um ônibus, diante de uma menina de cinco anos.
As notícias isoladas são chocantes. Se colocarmos no contexto de um estado que teve seis feminicídios em um único dia, são sintomas de uma sociedade doente, em que mulheres e crianças não estão seguras em nenhum ambiente. Porém, os criminosos não são ‘monstros’. São homens que se acham superiores e, portanto, no direito de subjugar os mais vulneráveis ao redor.
Tentar vincular os crimes a posicionamentos ideológicos, como se viu nas redes sociais nos últimos dias, é um erro perigoso. A misoginia não se restringe a partidos políticos, mas atravessa classes, religiões e ideologias. Associá-la a um espectro político minimiza a real dimensão do sexismo sistêmico e afasta o foco de soluções eficientes, com punições eficazes e uma educação que forme homens respeitosos e conscientes.
Além de desrespeitar as vítimas, ligar crimes à política sem nenhuma evidência acaba protegendo outros criminosos, já que o futuro feminicida ou abusador não pode ser distinguido por sua filiação partidária. Na verdade, ele é uma pessoa comum, que está camuflada até que um de seus crimes venha à tona.
A misoginia não é de esquerda ou de direita, pelo contrário, é uma doença social que transcende ideologias e que, o pior de tudo, tem ares de epidemia. Enquanto continuamos uma discussão política que só faz perder tempo, seguimos somando vítimas às estatísticas. Nos últimos dias, só no Rio Grande do Sul, foram dez mulheres vítimas de feminicídio. Faz diferença em quem elas ou os assassinos votaram? A solução para a crise de violência contra a mulher só tem solução se colocarmos a vida, e não a política, no centro do debate.