Francisco conseguiu um fato raro em tempos atuais: ouviu. Esse é talvez o principal legado do papa que faleceu no último domingo. Homem humilde e de opiniões que desagradavam muitas vezes alas mais conservadoras da Igreja Católica, o papa fez também do seu papel de líder um exemplo ao tentar conciliações entre religiões, gêneros e ideologias. Em um mundo de brapelização e extremos, quem tenta isso quase sempre é apedrejado por todos os lados. Ainda assim, tentar é louvável. Ir até o fim sem desistir, mais ainda.
Para muitos, pautas de gênero, de inclusão e de certas aberturas não cabem no catolicismo. Não por menos, Francisco também foi duramente criticado e há um certo indicativo de que, na busca eterna por equilíbrio, o próximo nome a ocupar a cadeira de São Pedro talvez seja um tanto mais conservador que o último líder católico. Ainda assim, o debate é fundamental e, quando trazidos pela mais sólida e tradicional instituição do ocidente, nos faz refletir. E isso, junto aos atos de ouvir e observar, são coisas que fazem falta no nosso mundo.
Todos têm anseios. Quase todo mundo quer ser ouvido. Por isso as redes sociais são tão populares, ali se criaram espaços onde a maioria grita, na esperança de ser escutado, mas poucos de fato são. Quando lideranças como Francisco nos ensinam que o ouvir e acolher é tão ou mais importante que o falar, alcançamos um pouco mais da evolução que nos é necessária para sermos pessoas melhores.
Muito além de um legado religioso, Francisco deixa um caminho social de acolhimento, de entendermos que juntos somos mais fortes e que gerando integração com quem é diferente podemos aprender e evoluir. Se um papa fez isso com outras religiões, com público LGBTQIAP+ e tantas outras minorias muitas vezes deixadas de lado, nós podemos, como indivíduos, passar a ter um olhar mais caridoso e carinhoso com o próximo.