Presidente revela levantamento de dívidas do Brasil e vê SAF como única saída

Entrevista exclusiva

Presidente revela levantamento de dívidas do Brasil e vê SAF como única saída

Vilmar Xavier não descarta recuperação judicial, mas projeta boas notícias ainda neste ano

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Presidente revela levantamento de dívidas do Brasil e vê SAF como única saída
Presidente recebeu a reportagem na última quarta-feira para conversa na qual detalhou pautas importantes (Foto: Jô Folha)

Quando assumiu a presidência do Grêmio Esportivo Brasil, em outubro, Vilmar Xavier tinha um objetivo: guiar a transformação do clube em Sociedade Anônima do Futebol (SAF). Consciente da delicada situação financeira do Xavante após ter sido vice de finanças por um ano, o dirigente viu o cenário piorar com o rebaixamento no Gauchão. Apesar de não esconder ou minimizar as dificuldades, o mandatário confia que os rubro-negros poderão receber boas notícias ainda em 2025.

Durante cerca de meia hora de conversa com a reportagem do A Hora do Sul em sua sala no Bento Freitas, na última quarta-feira (16), o presidente detalhou vários assuntos. Entre as pautas, o bloqueio de receitas, o tamanho – por enquanto desconhecido – da real dívida do clube e as negociações com potenciais investidores para a eventual compra de uma SAF do Xavante, o que é tratado de forma esperançosa como divisor de águas na história rubro-negra.

Entrevista | Vilmar Xavier

Existe um bloqueio das receitas oriundas do quadro social. Há chance de solução?

Nesse ano tivemos uma característica diferente do associado. No ano passado, chegamos a três mil, depois caiu para mil e poucos. Nesse ano não. Atingimos um patamar de dois mil e poucos associados, está se mantendo. Esse problema da retenção da receita dos sócios é uma bronca muito antiga, lá de 2016, 2017, quando o Banrisul começou a patrocinar os clubes do interior. Na época, Brasil, Juventude, Caxias e Ypiranga. A empresa GMX entrou na Justiça contra todos os clubes, [alegando] que deveria ganhar uma comissão de 20% sobre o patrocínio. Os outros três ganharam [na Justiça]. Recebemos a certidão do Banrisul de que não há intermediação. Só que os outros três clubes se defenderam. O Brasil teve três chances, três audiências, e foi julgado à revelia. E depois caiu no nosso colo, ano passado. Fomos para a segunda instância ver se revertia e não conseguimos. A juíza disse: ‘deu o primeiro tempo, o segundo tempo e a prorrogação. O Brasil nunca botou um ofício para nós. Então tinha que dar a favor do postulante’. Temos um recurso no Pleno, na segunda instância, que foi julgado só por um desembargador. A gente está tentando que os outros também decidam. A qualquer instante pode reverter, mas é bem difícil. É um valor alto, que foi corrigido. Isso nos tirou uma receita muito boa que está nos fazendo muita falta.

Qual é a dívida real do Brasil?

Uns dizem que é 30, 40, 50 [milhões]. Todo mundo que disse até agora não teve base, sempre foi chutômetro. Estamos desde outubro levantando todos os credores e o valor que se deve para cada um. Identificando o credor e o tamanho da dívida. A trabalhista mapeamos toda, temos praticamente pronta. A cível está quase 80% pronta. A fiscal, que é rápida de apurar, estamos deixando passar um pouco porque está sendo constantemente atualizada. Tem uma equipe trabalhando todos os dias. Identificamos muitas dívidas que nem se sabia, que não estão registradas na contabilidade. O que está registrado na contabilidade é talvez 20% a 30% da dívida real do clube. Pode aparecer no balanço que aumentou a dívida em R$ 20 milhões. Não é que se gastou R$ 20 milhões, mas é o que se conseguiu identificar e tem que oficializar essa dívida. Temos uma perspectiva de, até o fim de maio, saber todo mundo que o clube deve, o valor para cada um e o montante total. É um trabalho que está 80% pronto.

“No momento que levantarmos essa dívida, ela vai ser apresentada aos investidores”, projeta o dirigente (Foto: Jô Folha)

Virar SAF é a única saída?

O Xavante tem uma grande dívida, o que torna quase inviável o dia a dia. Tudo que recebemos de patrocínio, cotas de federação, de CBF, de bilheterias, Timemania, fica retido para a Justiça do Trabalho e Cível quase 45%. A gente fica com 55%, e assim é difícil manter o clube, por isso faz tempo que está nessa penúria. Imagina fechar um patrocínio de R$ 100 mil, mas saber que vai receber só R$ 55 mil. Isso vem nos sufocando. A Justiça nos sufocou por tudo que é lado, a última foi a dos sócios. A alternativa que resta para o Brasil ter a virada de chave é uma SAF. A dívida, a gente espera que gire em torno de 30 milhões a 40 milhões, não tem como pagar. A receita do Brasil hoje é de quatro, cinco milhões por ano. Só o juro dessa dívida a gente não consegue pagar. É um bolo de neve, o clube está com a água na barba. Muitos clubes são SAF, muitos estão querendo entrar. Se nós tivéssemos entrado há um ano, estaríamos em outra situação. Naquela época era o filé, tu conseguia investidores melhores. Hoje são menos investidores, que estão formando consórcios entre eles. Já temos perspectiva, o projeto SAF começou, tem um grupo que trabalha todos os dias, composto pela Executiva, por membros do Conselho Deliberativo. Cada um se especializou em uma área. Estudou a SAF do Botafogo, do Fortaleza, bem-sucedidas, mas também as SAFs do Paraná, do Figueirense, que não foram bem-sucedidas. A gente olha tudo para, quando decidir, decidir pelo melhor.

Como está a demonstração de interesse de potenciais investidores na SAF?

Tivemos um investidor da Europa, que no início do ano se interessou pelo projeto. Tem a Pluri, a consultoria que apresenta o projeto para nós, preparou um projeto grande. Estávamos esperançosos. Aí o Conselho desse grupo grande resolveu investir nos dois próximos anos só na Europa, deixou de investir no Brasil [país] nesse ano. Então começamos a ver outros investidores. Agora está se fazendo um consórcio. A qualquer instante devemos ter notícias. Entre os bons, sempre aparecem os que não são muito confiáveis. Só em abril apareceram dois ou três que nem levamos para frente. Mas quando a gente vê que tem fundamento, o grupo da SAF começa a trabalhar, questionar, ver se é confiável e se vale a pena. Está na fase final. Todo aquele trabalho que se fez, mostrando todos os benefícios do clube para vender. Na verdade é uma venda. A gente não vende muito ativo porque o clube não tem muito ativo – nem o estádio é do clube, é um comodato. Os investidores hoje sabem os potenciais do clube, sabem onde estão as mazelas, que é a dívida. Tudo bem trabalhado. Uma SAF bem feita demora um ano, tem SAF que demorou 18 meses. A SAF é uma prerrogativa da Executiva. A Executiva prepara esse material todo, leva para o Conselho Deliberativo, que decide se vai dar prosseguimento ou se para. Se der prosseguimento, leva a proposta para assembleia dos sócios, que diz se transforma em SAF ou não.

A ideia é acelerar o máximo possível os trâmites para a SAF?

Está na fase de contatar investidores. Os investidores hoje interessados não conseguem vir sozinhos, então está se montando um consórcio com dois ou três investidores. Uns entraram, saíram, por N problemas. A fase atual é de coleta de investidores. Quanto mais rápido, melhor. No momento que levantarmos essa dívida, ela vai ser apresentada aos investidores. A gente deu uma ideia geral, mas sempre disse que não é tudo. Quando finalizar esse levantamento, a gente vai ter a real posição e pode ter mais investidores que se interessem. Vão pegar a lista e saber todo mundo que deve. Muitos processos correram em outros estados, à revelia, e a gente está descobrindo agora. Não é fácil, dá trabalho. Depois, talvez uma RJ [recuperação judicial], dependendo do que se conversar com os investidores. Tudo que o clube pode oferecer eles já sabem, mas o pepino que tem aqui dentro eles não sabem tudo ainda.

A recuperação judicial seria uma sugestão que, potencialmente, partiria desses eventuais investidores?

Isso. Tu faz uma RJ e tem que se comprometer: ‘olha, vou pagar um milhão por mês’. Tem um valor mensal, aí o investidor sabe que todo mês vai ter que investir, por exemplo, um milhão, e trazer R$ 300 mil para amortizar os credores. Por isso é muito importante terminar essa parte do levantamento, dá um horizonte. Particularmente, acho que depois do meio do ano vamos ter boas notícias. O clube tem que dar uma virada de chave. Seguir o que está, anos e anos sempre torcendo para não cair… isso tem que parar. Só aceitei vir na condição de presidente, que é uma atividade que desgasta muito a vida pessoal e profissional, com a promessa de virar uma SAF. Porque vir aqui para administrar só problema sem ter solução, era só mais um que ia passar. Se fosse para ser mais um igual aos outros, não teria vindo.

A categoria sub-20 estreia domingo na primeira divisão do Gauchão. Qual é a importância da base, pensando também no futuro?

Sou um entusiasta da base. A gente vê clubes que cresceram e estão no auge sempre com a base forte. Ano passado, quando assumimos, o clube não tinha dinheiro para sustentar uma base. A Associação Galera tem experiência em trabalhar com base, e fizemos uma parceria onde o Brasil não põe nem um real. Não tínhamos um orçamento de 600, 700 mil, para investir na base. Mas para plantar a primeira semente, fizemos a parceria com a Galera, onde eles assumem todos os custos, através dos patrocinadores deles, e quando for vendido um atleta, se vender, o Brasil fica com 70% e a Galera com 30%. O clube no ano passado não gastou nem um centavo com a base.

Depois de um rebaixamento, qual é a expectativa para a Série D?

Os recursos financeiros são menores que os do Gauchão, e a cota da CBF é a metade da cota do Gauchão. Eles [CBF] compensam um pouco pagando viagens e hotel. Para a Série D, os recursos são poucos, mas estamos mudando bastante a filosofia, isso é uma coisa fundamental. Aquele time que veio para o Gauchão não se identificou muito com o futebol gaúcho. Procuramos, para a Série D, ter mais atletas que já passaram [pelo RS]. A grande maioria já passou pelos times do RS, de SC, então buscamos trazer jogadores mais vinculados ao futebol do Sul. Trocamos a comissão técnica, é uma outra filosofia de trabalho, está fazendo um trabalho mais intenso. O ambiente do vestiário melhorou bastante. A gente não tinha um grande entrosamento do time no Gauchão, até pela característica dele [ex-técnico William de Mattia]. Esse time não. Está bem mais unido. Eles discutem mais, combinam mais jogadas. A gente nota que mudou, era nosso objetivo e até agora estamos conseguindo. A gente vai pegar umas SAFs muito poderosas financeiramente. O Barra, por exemplo, é uma SAF bem estruturada, inaugurou um belíssimo estádio, um CT muito bom, tudo novinho. Investimento pesado com a intenção de ir para a Série C. O Azuriz, segundo jogo, também é uma SAF forte. Tem muitas SAFs na Série D, então ficar entre os quatro tem um pouco de dificuldade. Com o que a gente vai superar? Com a garra, o espírito xavante, com a torcida, que é o 12º jogador. Todo mundo sabe: jogar com o Xavante é difícil, principalmente aqui na Baixada. Vão ser nossas maiores armas, porque na parte financeira a gente tem um pouco de carência. E hoje o futebol é dinheiro. Se não investe, não tem muito sucesso.

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