Uma reportagem publicada nesta semana pela BBC Brasil detalhou o planejamento dos adolescentes que esfaquearam uma professora no começo do mês, em Caxias do Sul. Dias antes de atacarem a professora com pelo menos 13 facadas, os três estudantes já planejavam a ação em um grupo chamado “Matadores” no Instagram.
Pela rede social, pensaram cada etapa do ataque, desde quais armas levariam até o que comeriam durante a fuga. “Vamos matar quantos?”, perguntou um dos meninos. “Quem tiver na frente”, respondeu o outro, que em seguida também escreveu “vou virar um serial killer tô nem aí”.
A professora sobreviveu e está passando por tratamento e acompanhamento psicológico. Ela teve sorte, mas talvez o trauma a impeça de voltar à sala de aula. Ataques em escolas se tornaram uma realidade no mundo e já não são uma novidade no Brasil, e o temor de professores e alunos de irem à escola é um sintoma triste de onde chegamos como humanidade.
O promotor de Justiça que atua no caso de Caxias do Sul não descarta o vínculo dos adolescentes com grupos extremistas.
Até pouco tempo, a imagem associada a grupos radicais era a de terroristas encapuzados e armados. Agora, um extremista pode muito bem ser um adolescente, isolado em seu quarto, mas livre para acessar conteúdos violentos sem a vigilância de um adulto no celular ou no computador.
Tragicamente, o ataque de Caxias do Sul tem semelhanças com o retratado na série Adolescência, da Netflix, em que um jovem de 13 anos é preso após matar uma colega a facadas. Um menino aparentemente inocente, mas assediado pelo bullying e seduzido por discursos de ódio às mulheres em comunidades misóginas.
A ficção e a vida real se entrelaçam em um mundo em que estamos cada vez mais isolados em nossos smartphones. Se para um adulto a distração e as distorções das redes sociais já são perigosas, imagine para um adolescente em processo de formação, exposto a ideias preconceituosas, violentas e extremistas.
Cada geração tem seus desafios na criação de seus filhos. Para os pais atuais, a missão é acompanhar a evolução da sociedade e das tecnologias para tentar manter seus filhos a salvo de um mundo violento e radical que, muitas vezes, se esconde debaixo do mesmo teto.