Um estudo baseado em dados do MapBiomas – plataforma que mapeia as transformações no uso da terra no Brasil – revela que, em 35 anos (período 1985–2020), o solo urbano de Pelotas expandiu-se 2,4 vezes mais do que o necessário para suprir a demanda populacional. Enquanto a população aumentou 14,5% (de 310 mil para 355 mil habitantes), a mancha urbana cresceu 103% (de 3.790 para 7.690 hectares), resultando em uma queda de 22% na densidade demográfica. A pesquisa não leva em conta os acréscimos verticais da cidade.
O estudo demonstra a expansão horizontal da cidade (ou seja, ocupando mais território com construções e infraestrutura), e não considera os incrementos verticais. A apresentação expõe um recorte da região das áreas baixas próximas ao canal São Gonçalo e o Laranjal, mas o estudo integral computa toda a área de Pelotas. O trabalho foi realizado pelo secretário de Urbanismo do município, Otávio Peres, que é professor de arquitetura da UFPel.
Conforme os dados, Peres afirma que o solo urbano está sendo produzido mais para gerar oportunidades de negócio do que para responder às necessidades reais da população. Além disso, mesmo com o avanço da urbanização, ainda há um déficit habitacional. “Isso é uma evidência de que a produção econômica da cidade se sobrepõe à demanda social por expansão urbana”, esclarece.
O secretário explica que o crescimento desproporcional entre meio urbano e população pode agravar os problemas do cotidiano das cidades.
Dentre os impactos negativos, estão:
– Desigualdade social
– Ocupação de áreas baixas suscetíveis a inundações
– Aumento dos problemas no sistema de drenagem urbana
– Problemas de mobilidade urbana
– Déficits de infraestrutura urbana
– Aumento da demanda por serviços públicos
Crescimento populacional (desde 1985)
– População: 310 mil > 355 mil (0,82% ao ano).
– Área urbana: 3.790 ha > 7.690 ha (1,97% ao ano).
– Densidade demográfica: Caiu de 63 hab./ha para 59 hab./ha (-22%).
Segregação socioeconômica
O projeto também mapeia e caracteriza a localização dos grupos socioeconômicos, com destaque nas famílias de baixa renda, em vermelho (veja abaixo) – com renda familiar per capita de até meio salário mínimo – e, em azul (abaixo), as famílias de renda mais alta – acima de dois salários mínimos. “Esses grupos tendem a se isolar ou se concentrar no espaço urbano. A gente consegue identificar zonas de segregação, onde há separação entre os grupos e o convívio socioespacial é bastante restrito”, explica Peres.
Uso e transformação do solo
Além disso, outra parte da apresentação compara a ocupação do solo em Pelotas a cada cinco anos desde 1985, destacando a expansão urbana sobre áreas naturais (verde) em relação às áreas já antropizadas (modificadas pelo ser humano). Os mapas mostram como a expansão urbana consumiu ecossistemas originais e área já modificadas. Essa distinção revela o impacto ambiental direto do crescimento horizontal da cidade