Diariamente, Iracema da Silva, 80 anos, recebe na sala de casa os cuidados necessários para os efeitos colaterais do tratamento de um câncer no ovário. A idosa é uma dos mais de 5,6 mil pacientes atendidos ao longo dos 20 anos de existência do Programa de Internação Domiciliar Interdisciplinar (PIDI) do HE-UFPel. O serviço, pioneiro no país, oferece cuidados especializados e suporte hospitalar a domicílio, garantido o conforto do assistido e a rotatividade de leitos.
Cerca de 150 pacientes são atendidos mensalmente, sendo que os casos mais complexos recebem cuidados até duas vezes ao dia. São 58 profissionais nas áreas assistenciais, administrativas e de apoio, um núcleo de triagem e seis viaturas disponíveis para o deslocamento até os beneficiários. As equipes são compostas por médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas, nutricionistas, e inclusive, capelão, entre outros profissionais.
Além disso, o PIDI assegura aos pacientes – em domicílio -, o mesmo padrão de atendimento fornecido aos internados no Hospital Escola da UFPel, com todo o aparato e tecnologia necessários. “Tem medicação injetável, coleta de sangue, realização de exames, curativos, biopsias, todas as complexidades de hospitais em casa”, diz o chefe da Unidade de Atenção Domiciliar e dos Cuidados Paliativos do HE-UFPel, Tiago Maas.
A eficiência e qualidade da assistência via SUS prestada pelo PIDI em Pelotas inspirou a criação da Política Nacional de Atenção Domiciliar pelo Ministério da Saúde e do programa Melhor em Casa, que oferece cuidado domiciliar para pacientes que precisam de atenção contínua. “Nós evitamos uma internação hospitalar e conseguimos otimizar os leitos, que dentro da saúde são os artigos mais caros”, ressalta Mass.
Todos os assistidos pelo PIDI recebem pelo menos uma visita por semana das equipes de saúde. Ontem, a dona Iracema foi atendida pelo grupo de cinco profissionais pela manhã e a tarde. A idosa precisava receber medicação por acesso no braço para enjoos e outros efeitos causados pela quimioterapia. “Para mim é uma benção muito grande, quando elas chegaram, parece que o céu se abriu para mim”, diz a paciente.
“Estou sempre bem cuidada”
Diante das visitas constantes, o vínculo entre as equipes os pacientes se torna quase familiar. Para Iracema a chegada da médica e enfermeiras significa, além da melhor qualidade de vida, um momento de descontração com grandes amigas. “Médico nunca faltou, todo dia tem um, nem no hospital é assim, todas às vezes que a gente precisa elas vêm na casa da gente. Estou sempre bem cuidada”, conta.
Filha da paciente, Neiva da Silva salienta que com o cuidado domiciliar, a vida da mãe e a dela melhoraram consideravelmente. Hoje, ela só precisa levar Iracema para a sessão de quimioterapia. Um único deslocamento, que mesmo assim é difícil devido às poucas condições de locomoção de Iracema. “No dia da quimio é uma dificuldade até para colocar no carro, imagina ter que sair todos os dias”.
Neiva aprendeu com a equipe do PIDI todos os cuidados necessários para a manutenção domiciliar, como a troca de medicações e a limpeza de acesso. “Para a gente está sendo uma benção”. Iracema ainda complementa: “É que nem estar baixada na Fau [HE-UFPel], mas no conforto de estar em casa”.
Médica da equipe responsável pelos cuidados de Iracema, Vanessa Pellegrini, já sabe inclusive onde ficam guardadas os cobertores da idosa. “Como a gente vem muito seguido, eles acabam nos colocando na família”, diz. Conforme a profissional, as visitas são feitas de acordo com os níveis dos sintomas e das necessidades psicológicas dos atendidos. “Vamos aliviando os sintomas e melhorando a qualidade de vida”.
Em média são atendidos de quatro a cinco pacientes por turno, número que varia conforme o quadro de saúde de cada um e o tempo de deslocamento até o domicílio. Desde 2005, foram 5.667 pacientes atendidos pelo PIDI.