“Percebemos que não havia uma iniciativa focada na arte da palhaçaria”

Abre aspas

“Percebemos que não havia uma iniciativa focada na arte da palhaçaria”

Kelvin Marum Machado – Membro do Tádi Palhaçada

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“Percebemos que não havia uma iniciativa focada na arte da palhaçaria”
Grupo atua junto a diversas entidades de Pelotas.

Kelvin Marum Machado tem 28 anos é ator, diretor, palhaço, pesquisador acadêmico e produtor cultural. Ele faz parte da Companhia Tádi Palhaçada, que nesta semana está apresentando “O Mistério dos Arqueólogos e a Viagem ao Mundo da Inclusão e das Brincadeiras”, remontagem de uma peça de palhaços infantil com foco no público autista.

Desde quando o grupo existe e qual o principal foco de vocês?

Iniciamos nossas atividades em 2022 com o objetivo de formar um grupo composto por palhaços, palhaças e palhaces. Embora reconheçamos a existência de muitos grupos admiráveis na cidade, percebemos que não havia uma iniciativa focada exclusivamente na arte da palhaçaria. Identificamos, assim, a oportunidade de criar algo novo e com uma identidade singular.

Como surgiu essa ideia de fazer uma peça com foco no público autista?

Fomos contemplados pelo Edital 001/2024 da Lei Paulo Gustavo, viabilizado pela prefeitura de Pelotas. Este apoio nos permitiu investir no aprimoramento de uma peça teatral já existente. Originalmente concebida para o público adolescente, aproveitamos esta oportunidade para realizar uma remontagem, adaptando a obra para um novo público. Este processo contou com a colaboração fundamental da Psicóloga Isabelle Vignol, especialista no atendimento ao público com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Como vocês trabalharam o processo de pesquisa e preparação para garantir uma abordagem sensível e inclusiva na apresentação?

A colaboração com a psicóloga Isabelle Vignol foi fundamental, e complementar a isso, contamos com a direção de Eduarda Bento. Sua experiência como diretora e professora de teatro trouxe um olhar sensível e experiente, essencial para assegurar que nossas ações cênicas fossem genuinamente inclusivas. O elenco, composto por Caio Porciuncula, Kelvin Marum e Milena Vaz, esteve totalmente atento e receptivo às orientações de ambas as profissionais. A equipe do trabalho teve um estudo sobre os critérios diagnósticos do Transtorno Espectro Autista com base no Manual Diagnóstico de Transtornos Mentais.

Como eles colaboram?

Além disso, as orientadoras pedagógicas de cada escola responderam a um questionário feito pela psicóloga para que entendêssemos as especificidades de cada crianças: quais as suas preferências, quais seus níveis de sensibilidade, quais os principais gatilhos para as suas crises, para assim entendermos como poderíamos ajudá-las a viver a peça da maneira mais plena possível. Tomou-se também o cuidado de antes de cada apresentação de passarmos em cada sala para que as crianças tenham um contato inicial com os palhaços para fazer com que criem um vínculo inicial de aproximação e carinho com os palhaços. Por fim, incorporou-se na peça  músicas e recursos de autorregulação com controle da respiração para favorecer o desenvolvimento da empatia nas crianças e consciência das suas emoções e das outras pessoas.

Qual tem sido o feedback mais marcante recebido até agora, tanto das crianças quanto dos educadores ou pais?

Podemos destacar duas experiências muito significativas. Uma delas foi o acolhimento nas escolas visitadas, E.M.E.I. Anita Malfatti e E.M.E.I. Darcy Ribeiro, onde as profissionais ressaltaram o caráter inédito e a singularidade da nossa proposta. Outro momento marcante ocorreu na estreia da remontagem: uma criança com TEA juntou-se a nós em cena, participando da interação conosco, palhaços. Foi uma parte de improviso da peça em que nos relacionamos com o público.

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