Neste domingo é celebrado o Dia do Jovem. Este é um período da vida em que as transformações pessoais e biológicas estão presentes, acompanhada de experimentações da vida social que geram dúvidas e questionamentos. Para viver plenamente essa fase da vida, um ambiente sadio, com um suporte adequado, é fundamental, apontam especialistas. Em meio a transformações sociais, são muitos os desafios dos jovens quanto à saúde física, mental e emocional. As especialistas Milene Maria Saalfeld e Anelise Reis Gaya das áreas Médica e da Educação Física explicam por que é importante o jovem estar em dia com a saúde para chegar bem à fase adulta.
Milene é hebiatra no Hospital Escola da UFPel e professora de Medicina da UCPel. Vista como um desafio para pais, professores, médicos e comunidade geral, a adolescência carrega o estigma de ser a fase difícil ou problemática. Mas para um adolescente se transformar em um adulto, precisa ter um investimento na educação, saúde e no afeto. “As transformações começam na infância e geralmente são associadas aos hormônios. É o cérebro do adolescente que está se amadurecendo até por volta de 20 a 24 anos, quando o lobo frontal se desenvolve e esse jovem passa a pensar como adulto”, ressalta.
Na sala de espera do consultório
Nessa fase, as doenças da infância, como amigdalite e gripe, as infecciosas, que podem ser prevenidas pelas vacinas e pelo desenvolvimento da pessoa através do sistema imunológico, tende a reduzir. “A puericultura é recomendada em toda fase de adolescente até os 18 anos, e o paciente deve ser visto pelo médico de seis em seis meses até terminar o desenvolvimento puberal”, explica a médica, ao lembrar que é a fase das características sexuais com o desenvolvimento de mamas, dos pelos e testículos responsáveis pelo crescimento da pessoa e garante a capacidade de procriar com a maturidade do ser humano.
“Os adolescentes adoecem menos, mas é preciso ficar atento para novas doenças”. A lista a cada geração está cada vez maior: obesidade, depressão e regularidade dos ciclos menstruais, uso abusivo dos celulares e telas e das drogas. Tem as questões relacionadas à escola, baixa estatura, acne, espinhas, distúrbios alimentares como compulsão, anorexia nervosa, bulimia e infecções sexualmente transmissíveis. “São doenças que precisam ser tratadas, mais do que isso, prevenida, porque os hábitos que os adolescentes adquiriram nessa fase vão interferir na vida adulta causando outros problemas como diabetes e pressão alta”, alerta. A médica lembra ainda que a base familiar é fundamental para a saúde física desse jovem, pois é a fase em que as crises existenciais surgem e o aporte emocional de um adulto pode fazer toda a diferença.
A saúde pela atividade física
Anelise Gaya é professora da Escola Superior de Educação Física e Fisioterapia da UFPel, colaboradora do programa de pós-graduação da UFRGS, bolsista de Produtividade do CNPq, coordena o Projeto Esporte Brasil e o Projeto Sunrise Sul brasileiro. Para ela, o tema é relevante pelo rumo que a saúde dos jovens segue. “Poderia afirmar que pela primeira vez na história os nossos jovens têm doenças de adultos e idosos, e que possivelmente estamos correndo o risco de termos gerações futuras que possam ter agravos de saúde antes mesmo dos seus pais. A situação é muito séria”, pontua.
Com o olhar voltado mais para políticas públicas, a professora considera que as crianças não brincam mais, e os jovens não se movimentam como antigamente. “A educação física escolar vive um momento de absoluta desvalorização sendo um local onde os jovens poderiam praticar atividades e aprender sobre saúde, pois os pais, infelizmente não têm tempo para envolver-se em ações de saúde promovidas pelos órgãos de educação e saúde”, dispara ela ao considerar que a culpa não deve ser colocada somente nos adolescentes.
Prevenção pela educação
A escola, onde as crianças e adolescentes passam o maior tempo do dia, é a ferramenta ideal para mudar o cenário quase estático da juventude, na avaliação da professora. “Não culpo a escola, mas evidencio ações mais coerentes e consistentes provenientes do Ministério da Saúde e da Educação.” Para a educadora física, se faz necessário avaliações de perfil de saúde, incluindo indicadores de sobrepeso e obesidade, aptidão física e hábitos alimentares que partam das escolas. “Esses resultados precisam ter uma via de comunicação com o nosso Sistema Único de Saúde.” No seu ponto de vista, o educador é responsável por uma disciplina que o conhecimento é proveniente do saber fazer. “Aprendemos pela ação e não somos menos importantes por isso. O desenvolvimento motor, os esportes, as danças são essenciais para a promoção da saúde dos nossos jovens. As evidências estão aí e precisamos assumir o nosso papel”.
Com a palavra, o jovem
Para quem pensa que não há uma preocupação, uma turminha do Gonzaga está bem inteirada sobre o tema e já coloca em prática algumas ações. Além do próprio cuidado, são capazes de incentivar os demais para os cuidados com a saúde. O detalhe, todos estão em dia com exame de sangue, procedimento que virou rotina uma vez por ano.
Heitor Rosinha Araldi, 15, buscou um personal para treinar na academia, pois descobriu que o jovem não costuma cuidar da postura e quem sofre é a coluna. “Meus braços são muito finos, eu procurei um especialista para dizer qual seria a melhor maneira de aumentar a massa muscular.” O estudante também faz terapia e privações positivas como forma de cuidar da saúde psicológica e admite usar bastante as telas, mas não só para laser e sim para estudo escolar.
Fernanda de Albuquerque Loeck, 16, é fã de esporte e considera a prática uma ferramenta que ajuda de diversas formas a saúde do jovem, mas sem exageros. “Até porque o esporte de alto rendimento traz muitas lesões sem um certo cuidado”, Para a estudante todo jovem deveria fazer a academia, correr, andar de bicicleta, até caminhar, “É super importante para saúde de todo mundo, de todos os adolescentes e de todos os jovens.
Ana Carolina Moreira Caldeira, 16, faz exames periodicamente pois na infância teve colesterol alto e com a mãe é da área da saúde, o cuidado é em dobro. “Eu tenho toda essa preocupação com a minha saúde. Acho que é importante, pois em uma situação de doença, podemos precaver rapidamente”.
Andressa de Sá Rosa, 15, aposta em uma relação aberta com os pais ou com alguém próximo sobre saúde, pois o acesso à informação correta nem sempre é fácil. “A gente precisa procurar alguém que consiga nos ajudar. Nossos pais podem nos dar esse auxílio e nos apoiar se a gente quiser. Na questão de cuidados com a saúde do corpo e da mente, procurar um personal na academia, é um psicólogo no auxílio mental. Isso tem que deixar de ser tabu”, enfatiza.
Maria Eduarda de Moraes Weymar, 16, sempre foi motivada a visitar a ginecologista para cuidar da saúde. “Tanto pela escola, que a gente aprende muito sobre a importância, quanto pelos meus pais, que me ensinam que é muito necessário ter esse cuidado especial nesse tipo de doença”, garante. Ela lembra que a doença de colo de útero e outras doenças sexualmente transmissíveis devem estar sempre na pauta de cuidados com a saúde
Estatísticas
- Organização das Nações Unidas entende como jovem o grupo de idade entre 10 e 24 anos. Adolescentes de 10 a 19 anos e jovens de 15 a 24 anos.
- A juventude reconhecida pela ONU representa 16% da população mundial, com cerca de 1,8 bilhão de pessoas.
- De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil, jovens de 15 a 29 anos correspondem a 23% da população do Brasil.