Com um período de colheita mais tardio em relação ao restante do Estado, as lavouras de soja e arroz de Santa Vitória do Palmar foram impactadas pela chuva persistente desta semana. O prejuízo agrícola que deve ser registrado nos próximos dias se soma as perdas de janeiro e aos transtornos ocasionados nas estradas que escoam as produções. Cerca de 360 quilômetros de vias foram totalmente danificadas.
“O poder público não tem poder para nada, estamos gastando o dinheiro que não temos para arrumar estrada para sair e agora com essa chuva não tem estrada de novo, tem sido muito difícil produzir em Santa Vitória do Palmar”, o relato de indignação de Dilnei Portantiolo tem origem nas dificuldades enfrentadas pelos produtores nos últimos dois anos.
Após as perdas causadas pela cheia de maio de 2024, em janeiro deste ano, um acúmulo de 400 milímetros de chuva causou um prejuízo de R$ 52 milhões as produções agropecuárias da cidade. Além disso, para mitigar a falta de infraestrutura nos mais de 800 quilômetros de estradas vicinais, um pequeno grupo de produtores, incluindo Portantiolo, investiu do próprio bolso R$ 1 milhão para a recuperação de parte das vias.
Com boa parte da lavoura de soja ainda por colher na região do Curral Alto, o produtor acredita que parte dos grãos estará apodrecido devido aos dias seguidos de umidade. “Estavámos programados para colher a partir do dia 15 por causa da maturação da soja, mas agora não vamos mais conseguir, vai ter que esperar mais e se seguir a chuva a situação vai ser pior”.
Na localidade do Arroíto, a alguns quilômetros de distância, o produtor Marcelo Bueno teme os danos no arroz. Com o registro de ventos intensos, 33%, da lavoura ainda por colher, cerca de 900 hectares, “deitaram”, ou seja, foram parar no solo novamente. “Hoje eu consigo dizer com certeza que se perdeu muita produtividade de arroz. É mais um ano desafiador ao extremo”. Na chuva de janeiro, Bueno perdeu 300 hectares de soja, atualmente, ele não sabe mensurar qual será o impacto na área de 1,5 mil hectares de grãos.
Assim como Portantiolo, Bueno faz questão de salientar o segundo maior problema depois dos prejuízo nas lavouras será a falta de recuperação das estradas vicinais. Na tarde de ontem, ele já estava em busca de cargas de rachão, material para cobrir os buracos. “No verão colocamos 197 cargas de material e R$ 300 mil vai dar 46 cargas”, diz sobre o valor do repasse do governo do Estado para toda a extensão de vias do interior do município.
Conforme a secretária de agricultura de Santa Vitória, o valor que ainda não chegou ao caixa da prefeitura é suficiente para recuperar somente seis quilômetros de estradas. “Nosso levantamento aponta que aproximadamente 43% das estradas encontram-se intransitáveis, o que representa mais de 360 quilômetros”, diz Susana Terra.
A secretária calcula que para a recuperação dessa extensão será necessário R$ 400 mil de pedras rachão e R$ 800 mil para a aquisição de saibro, o que representa 24% de todo o orçamento da Secretaria de Agricultura.