Data para celebrar a inclusão através do braile

Inclusão

Data para celebrar a inclusão através do braile

No Dia Nacional do Sistema Braille, Escola Louis Braille reforça a importância do acesso à leitura e escrita tátil

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Data para celebrar a inclusão através do braile
Noely Machado, de 68 anos, teve o diagnóstico de retinose pigmentar há cerca de oito anos. (Foto: Jô Folha)

Ferramenta essencial para a educação inclusiva, o sistema Braille garante autonomia na leitura e na escrita para pessoas cegas ou com baixa visão. Criado pelo francês Louis Braille em 1824, o código usa caracteres em relevo para tornar textos acessíveis ao tato. Hoje, no Dia Nacional do Sistema Braille, a data celebra José Álvares de Azevedo, primeiro professor cego do Brasil e responsável por introduzir o método no país.

O Brasil foi o país pioneiro na América Latina a adotar o sistema, inaugurando o Instituto Imperial dos Meninos Cegos, em 1854. Com avanços ao longo do tempo, o modelo também adaptou-se a diferentes idiomas e realidades. Atualmente, o método pode ser utilizado em equipamentos eletrônicos, por meio da Linha Braille — um dispositivo que se conecta ao celular ou computador e traduz o conteúdo em tempo real.
A data comemorativa de hoje, criada pela Lei nº 12.266/2010, propõe refletir sobre os desafios enfrentados por deficientes visuais e reforça a importância da produção de obras em braile. A norma também incentiva que, nesse dia, sejam realizadas ações para divulgar o padrão de leitura e escrita, promover a inclusão social e profissional, prevenir a cegueira, ampliar o acesso à informação e capacitar profissionais na área da deficiência visual.

Atividades do dia

Uma das ações acontece nesta terça-feira na Associação Escola Louis Braille, entidade voltada para o atendimento de pessoas cegas ou com baixa visão em Pelotas. A programação inclui demonstrações do código, distribuição de panfletos informativos e a presença do mascote da escola, o Brailinho, que interagirá com crianças e visitantes. A ideia é conscientizar e aproximar a população do universo das pessoas cegas. As atividades ocorrem durante todo o dia de hoje, no prédio da instituição, na rua Padre Felício, nº 330.

Aprendizado e superação

Na segunda-feira, a escola promoveu uma prévia da programação, com atividades em grupo voltadas aos alunos de 27 municípios da macrorregião sul atendidos. Uma das usuárias que veio de longe foi Noely Machado, 68 anos, moradora de Dom Pedrito. Ela passou a frequentar a escola há cerca de oito anos, depois que teve o diagnóstico de retinose pigmentar, uma doença que reduziu sua visão a apenas 5% em um dos olhos.
“Desde que entrei aqui [na escola] a minha vida mudou”, confidencia Noely. Segundo ela, o sentimento de pertencimento, aliado à retomada da autonomia e confiança através do aprendizado do braile, mudou os rumos de sua vida e a fez lidar melhor com a condição. Atualmente, ela já domina o alfabeto e continua praticando a leitura, que considera a parte mais difícil por conta da sensibilidade ao tato. “No início é difícil, mas não se deve desistir”, diz, encorajada.
A reconstrução da autoestima de Noely não foi de um dia para o outro. Formada em ciências contábeis, precisou deixar a profissão por conta da perda de visão. Para ela, a maior dificuldade foi entender que a doença lhe removeu a visão, mas não a capacidade integral de realizar atividades do dia a dia. “Eu nunca vou deixar de praticar o braile. Antes eu era triste, e agora sou mais alegre. Isso é maravilhoso”, admite.

Palavra do Presidente

O presidente da Louis Braille, Dilmar Rodrigues, está no cargo há cerca de 20 anos. Antes disso, foi aluno por cinco décadas. Apesar do avanço das tecnologias assistivas, como computadores, celulares e notebooks com acessibilidade, Rodrigues reforça que a técnica continua sendo o único sistema de leitura e escrita para pessoas cegas. Ele reconhece que o acesso melhorou, mas ressalta que o ensino do braille ainda é essencial. “Este é o único método que as pessoas cegas podem se comunicarem por escrita e leitura”, salienta.

Sobre o Sistema Braille

O sistema braile é o único método de escrita e leitura utilizado por pessoas cegas. O código universal é composto por seis pontos que permitem 63 combinações diferentes, representando letras, números, acentos, vírgulas, pontos — tudo o que existe no alfabeto comum.
Escola Louis Braille
Atualmente, a escola atende 61 alunos de forma rotativa. Pelo centro de reabilitação, mais de 2,8 mil pessoas já foram atendidas nos últimos 12 anos. Desde 2012, a escola é credenciada pelo Ministério da Saúde como serviço de reabilitação para pessoas que perderam a visão em diferentes fases da vida, muitas vezes em decorrência de diabetes ou glaucoma — principalmente entre adultos.

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